1 de Novembro de 2016   Dicionário Escolar de Filosofia

Dicionário escolar de filosofia

Organização de Aires Almeida

O

objectivismo estético

Doutrina acerca da justificação dos juízos estéticos, de acordo com a qual juízos como “x é belo” dependem da existência de certas características em x. Há, assim, características objectivas em virtude das quais as coisas belas são belas. Esta doutrina opõe-se ao subjectivismo estético, dado que, na opinião do objectivista, o belo não é subjectivo nem depende dos gostos das pessoas. O que conta não são os sentimentos que temos quando apreciamos os objectos, mas o que faz parte integrante dos próprios objectos. O filósofo americano Monroe Beardsley (1915-85) é um dos representantes contemporâneos do objectivismo estético. (Aires Almeida)

objectivismo/subjectivismo

Distinção fundamental acerca da natureza das afirmações da metafísica, mas também da epistemologia, da ética e da estética. O objectivismo defende que as verdades de alguma ou algumas áreas do conhecimento são independentes do nosso conhecimento ou experiência delas. Assim, por exemplo, o objectivismo em ética é a ideia de que o valor de verdade dos juízos éticos, como “Não se deve torturar pessoas inocentes”, é independente do que possamos pensar desse juízo, ou das perspectivas de cada sujeito. Em oposição a isso, os subjectivistas defendem que o valor de verdade dos juízos éticos, estéticos, metafísicos ou epistemológicos depende fortemente da perspectiva que cada sujeito tem da “realidade”. O subjectivismo estético, por exemplo, defende que não se pode dizer que a Nona Sinfonia de Beethoven é bela ou não: a beleza está nos olhos do observador. Note-se que é possível defender o subjectivismo ético, por exemplo, e ao mesmo tempo rejeitar o subjectivismo metafísico, sem qualquer contradição. (Aires Almeida)

objectivo/subjectivo

Distinção entre o que é independente do sujeito e o que depende apenas do sujeito (sentimentos, pensamentos, crenças, desejos, etc.). Ver objectivismo/subjectivismo e qulidades primárias e secundárias. (Aires Almeida)

obra de arte

Saber quais são os objectos que podem ser classificados como obras de arte é um dos principais problemas da filosofia da arte: o problema da definição de arte. Alguns filósofos pensam que há propriedades essenciais (ver definição essencialista) às obras de arte, que permitem classificá-las como tal, divergindo entre si quanto à identificação de tais propriedades. Outros pensam que existem propriedades necessárias e suficientes (ver condição necessária e suficiente), mas não essenciais, sendo antes de carácter contextual e institucional. Outros ainda, afirmam não ser possível identificar um conjunto de propriedades fixas, comuns a todas as obras de arte. Deve salientar-se que não são apenas objectos físicos, como quadros e esculturas, que contam como obras de arte. Uma canção, uma interpretação teatral ou o conjunto de movimentos que constituem uma peça de dança também podem ser obras de arte. Ver também definição explícita e parecença familiar. (Aires Almeida)

observação

Quando é espontânea consiste em pouco mais do que ter experiências (ver experiência) ou sensações casuais e tem pouco interesse científico. A observação sistemática, pelo contrário, permite produzir e testar teorias e, por isso, é de grande importância para as ciências empíricas. A observação científica realiza-se em condições controladas, procura responder a questões previamente estabelecidas e exige a recolha, o exame e o registo sistemáticos e objectivos (ver objectivo/subjectivo) dos dados observados. O termo é também frequentemente usado para designar uma das fases do método experimental. Ver experiência científica, verificabilidade. (Álvaro Nunes)

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Dúvidas?

Ockham, William of (1285-1347)

Também conhecido por Guilherme de Ockham. Filósofo e teólogo franciscano inglês, Ockham fez contribuições importantes para diversas áreas da filosofia como a lógica, a metafísica, a teoria do conhecimento, a ética e a filosofia política. É, no entanto, conhecido sobretudo pela sua defesa do nominalismo, o ponto de vista segundo o qual os universais (ver universal) não são coisas reais, mas apenas nomes ou conceitos (ver conceito); e pelo princípio metodológico conhecido como “navalha de Ockham” ou princípio da parcimónia (“as entidades não devem ser multiplicadas para além do necessário”), que recomenda a simplicidade como critério na construção de teorias (ver teoria). A polémica em que se envolveu com o Papa João XXII sobre a “pobreza apostólica" conduziu, em 1328, à sua excomunhão e fuga para Pisa e depois para Munique, cidade onde, sob a protecção de Luís da Baviera, passou o resto dos seus dias e onde escreveu sobretudo defendendo a separação entre a Igreja e o Estado. (Álvaro Nunes)

ontologia

Disciplina da metafísica que estuda quais as categorias de coisas que há. Por exemplo: Será que há números, ou são meras construções humanas? Terão os universais, como a brancura, existência independente dos particulares, isto é, das coisas brancas? Serão as possibilidades não realizadas reais, ou meras fantasias? Por que razão há coisas e não nada? Por vezes, usa-se erradamente o termo “ontologia” para falar de metafísica, isto é, para falar do estudo da natureza última das coisas. (Desidério Murcho)

operador verofuncional

Um operador verofuncional é uma conectiva proposicional (por exemplo, a conjunção “e” ou o advérbio “não”) que se combina com uma ou mais frases para originar outra, mais complexa. Por exemplo, as frases “Cavaco Silva quer ser Presidente” e “Santana Lopes quer ser Presidente” podem combinar-se por meio da conectiva “e” para formar a frase complexa “Cavaco Silva quer ser Presidente e Santana Lopes quer ser Presidente”. Quando temos um operador verofuncional, o valor de verdade da frase mais complexa é determinado apenas pelos valores de verdade das frases que a compõem; diz-se então que esse valor de verdade é uma função dos valores de verdade das frases componentes — daí a designação “verofuncional”. Defende-se usualmente que conectivas como “e” e “ou” são verofuncionais (do mesmo modo que as suas traduções “∧” e “∨” do cálculo proposicional). Com efeito, é razoável defender que frases da forma [A e B] são verdadeiras se quer A quer B forem verdadeiras e são falsas se pelo menos uma delas for falsa; e frases da forma [A ou B] são falsas se quer A quer B forem falsas, e verdadeiras se pelo menos uma delas for verdadeira. Pelo contrário, operadores como o de crença (“acredita que”) não são verofuncionais: o valor de verdade da frase “o João acredita que Paulo Portas é culpado” não depende, de nenhum modo, do da frase “Paulo Portas é culpado”. O modo como cada operador verofuncional determina o valor de verdade das frases em que ocorre é representado numa tabela de verdade. (Pedro Santos)

opinião

A expressão de uma crença. Uma distinção fundamental em epistemologia, introduzida por Platão, é a distinção entre crença (ou opinião) e conhecimento. Podemos achar que vamos almoçar fora, e acabarmos por não ir. Mas se soubermos que vamos almoçar fora (se isso for verdadeiramente conhecimento), então vamos mesmo almoçar fora. Isto significa que o conhecimento, mas não a crença, é factivo; isto é, podemos acreditar em coisas falsas, mas não podemos saber coisas falsas. Por outras palavras, podemos acreditar em falsidades, mas não podemos saber falsidades. (Célia Teixeira)

oposição, quadrado de

Ver quadrado de oposição.

organon

Termo grego para “instrumento”. Aristóteles usou o termo para designar um conjunto de obras que tratam de lógica, formal e informal, que ele considerava um instrumento da filosofia e do conhecimento em geral. (Desidério Murcho)

ousia

Termo grego para “substância” ou, literalmente, “ser”. Aristóteles usava o termo para referir a primeira das suas categorias. O ser ou a substância de uma coisa é o que subjaz a todas as mudanças que uma coisa sofre ao longo do tempo. (Desidério Murcho)

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