1 de Novembro de 2016   Dicionário Escolar de Filosofia

Dicionário escolar de filosofia

Organização de Aires Almeida

Q

quadrado de oposição

Diagrama que ilustra as diversas relações lógicas entre as quatro formas lógicas da lógica aristotélica:

Quadrado de Oposição

Assim, entre as formas lógicas A e I, por um lado, e E e O, por outro, há uma relação de subalternidade: A implica I, e E implica O. Esta relação é falsa, a menos que se excluam classes vazias; mas sem ela a lógica aristotélica cai por terra. De modo que é necessário excluir todas as proposições que falsificam a relação de subalternidade. Para isso, exclui-se todas as proposições que se refiram a classes vazias (classes como “lobisomens”, que não têm elementos). Com base na mesma exclusão de classes vazias é possível afirmar que as formas A e E são contrárias, isto é, que não podem ser ambas verdadeiras, mas podem ser ambas falsas. Ainda com base na mesma exclusão é possível afirmar que as formas I e O são subcontrárias, isto é, que não podem ser ambas falsas, mas podem ser ambas verdadeiras. A única relação do quadrado que não depende da exclusão de classes vazias é a de contraditoriedade ou negação, que existe entre A e O, por um lado, e entre E e I, por outro. Isto significa que A e O têm sempre valores de verdade opostos: se A for verdadeira, O será falsa e vice-versa; se E for verdadeira, I será falsa, e vice-versa. O diagrama é ainda hoje útil para ilustrar a negação correcta de proposições universais. (Desidério Murcho)

Murcho, Desidério, O Lugar da Lógica na Filosofia, cap. 6 (Lisboa: Plátano, 2003).

qualidades estéticas

As características ou propriedades que certos objectos supostamente exemplificam e que os fazem ter valor estético. Assim, um objecto que não exemplifique qualquer qualidade estética também não tem qualquer valor estético. Apenas os partidários do objectivismo estético defendem a existência de qualidades estéticas. Intensidade, complexidade, unidade, equilíbrio formal e proporção costumam ser referidas como qualidades estéticas. (Aires Almeida)

qualidades primárias e secundárias

Distinção entre qualidades ou características dos objectos. As primárias são qualidades intrínsecas dos objectos, independentes da mente ou sujeito que as percebe. Por isso são às vezes chamadas “qualidades objectivas”. As secundárias apenas são causadas pelos objectos percepcionados, na medida em que têm essa capacidade, mas que dependem da maneira como a mente do sujeito reage quando os percepciona. Por isso são às vezes chamadas “qualidades subjectivas”. Forma, tamanho e estrutura interna são qualidades primárias, enquanto a cor, o odor e o sabor são qualidades secundárias. Esta distinção é feita por Galileu, Descartes e Locke, estando subjacente à ciência moderna. Mas filósofos idealistas como Berkeley rejeitam-na. Ver também realismo. (Aires Almeida)

quantificador

Qualquer dispositivo linguístico usado para dizer quantos particulares (ou propriedades) exemplificam uma dada propriedade. Por exemplo, podemos dizer que alguns filósofos são gregos; estamos nesse caso a dizer que um número indeterminado de particulares (os filósofos) tem uma certa propriedade (são gregos). Ou podemos dizer que algumas cores são brilhantes; estamos neste caso a dizer que um número indeterminado de propriedades (as cores) tem uma certa propriedade (são brilhantes). Assim, termos como “alguns”, “todos”, “pelo menos cinco”, “mais de cem”, “a maioria”, “poucos”, “nenhuns”, “apenas um”, etc., são quantificadores. Na lógica clássica e aristotélica usam-se apenas dois quantificadores: o quantificador universal e o quantificador existencial; contudo, a lógica clássica permite definir muitos outros quantificadores com base nestes, como “exactamente três”, por exemplo (mas não quantificadores como “a maioria de”). (Desidério Murcho)

quantificador existencial

Expressões como “alguns”, “pelo menos um”, etc., são quantificadores existenciais, simbolizados habitualmente na lógica clássica com um E ao espelho: ∃. A negação de um quantificador existencial é um quantificador universal, porque negar que alguns filósofos são imortais é o mesmo do que afirmar que todos os filósofos são mortais. Ver quantificador. (Desidério Murcho)

quantificador universal

Expressões como “todos”, “nenhum”, etc., são quantificadores universais, simbolizados habitualmente na lógica clássica com um A (da palavra alemã Alle, tudo) ao contrário: ∀. A negação de um quantificador universal é um quantificador existencial, porque negar que todos os filósofos são gregos é o mesmo do que afirmar que alguns filósofos não são gregos. Ver quantificador. (Desidério Murcho)

Quine, Willard van Orman (1908-2000)

Filósofo americano e um dos filósofos contemporâneos mais influentes. Após o doutoramento, Quine viajou para a Europa, onde contactou com o lógico polaco Tarski (1901/2–83) e com os filósofos do Círculo de Viena (ver positivismo lógico), os quais exerceram uma influência determinante na sua formação intelectual. Quine defendeu uma forma radical de empirismo na qual não há lugar para o conhecimento a priori (ver a priori/a posteriori). A sua rejeição da distinção analítico/sintético é ainda hoje extremamente influente. Esta rejeição mostrou as fraquezas do projecto positivista de salvar o conhecimento a priori reduzindo-o (ver reducionismo) ao mero conhecimento linguístico, e mostrou também as dificuldades que as noções de significado e de necessidade levantam para uma filosofia naturalista. Quine defendeu que os únicos factos cientificamente aceitáveis para estabelecer uma teoria do significado são factos acerca do comportamento linguístico dos falantes, o que o levou a concluir que o significado é indeterminado. Entre as suas obras mais importantes encontram-se From a Logical Point of View (1953), Word and Object (1960) e The Ways of Paradox and Other Essays (1966). (Célia Teixeira)

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