1 de Novembro de 2016   Dicionário Escolar de Filosofia

Dicionário escolar de filosofia

Organização de Aires Almeida

U

Übermensch

Termo alemão usado por Nietzsche para designar o “sobre-humano”, “além-humano” ou “super-homem”: o ser que ultrapassa as limitações dos seres humanos, evoluindo para um estádio superior, livre de ilusões, nomeadamente as impostas pelas moralidades religiosas. (Desidério Murcho)

unidade da ciência

A ideia de unidade da ciência está associada a duas teses. Segundo uma delas, algumas ciências podem ser reduzidas a outras (por exemplo, a biologia à química), de tal maneira que em última análise todas as ciências podem, em princípio, ser reduzidas a uma única ciência englobante (geralmente a física). Há várias maneiras de entender a redução em causa (ver reducionismo). Pode-se sustentar, por exemplo, que as ciências são redutíveis à física no seguinte sentido: todas as afirmações de qualquer disciplina científica podem, em princípio, ser traduzidas para a linguagem da física (ver fisicismo). A outra tese associada à ideia de unidade da ciência diz-nos que todas as ciências obedecem essencialmente ao mesmo método e procuram fazer-nos perceber a realidade da mesma maneira. Os defensores desta tese costumam afirmar que há um modelo de explicação científica aplicável a todas as ciências. Alguns críticos desta perspectiva, como Wilhelm Dilthey (1833–1911), opõem a explicação à compreensão, sustentando que o recurso a esta última torna as ciências sociais muito diferentes das ciências da natureza. Quem, como os filósofos do positivismo lógico, advoga a unidade da ciência, costuma ter em mente apenas as ciências empíricas e, portanto, coloca a matemática e a lógica numa categoria distinta. Ver lei da natureza, método científico. (Pedro Galvão)

universais

Um universal é uma propriedade exemplificada por diferentes objectos (ou particulares). Por exemplo, quando digo “Sócrates é sábio”, a propriedade de ser sábio é exemplificada pelo particular Sócrates. Mas é também exemplificada por outros particulares: Platão, Gandhi, etc. Assim, o chamado “problema dos universais" consiste em saber se, além de particulares, como Sócrates e Platão, há coisas como a sabedoria, a brancura, a circularidade, etc. Os nominalistas afirmam que só há particulares e os realistas defendem que há universais. Mas se há universais, onde se localizam? Esta pergunta dá origem a diferentes tipos de realismo: transcendente e imanente. E será que há universais que não são exemplificados por particulares? Esta pergunta dá origem outros dois tipos de realismo: o platónico e o aristotélico. Os universais servem, alegadamente, para explicar a semelhança que se verifica entre objectos numericamente distintos. Há também diferentes tipos de nominalismo. (Aires Almeida)

universal afirmativa, proposição

Uma proposição com a forma “Todo o F é G”, como “Todos os homens são mortais”. A negação de uma universal afirmativa é uma particular negativa: “Alguns F não são G”. Assim, a negação de “Todos os homens são mortais” é “Alguns homens não são mortais”. Ver quadrado de oposição. (Desidério Murcho)

universal negativa, proposição

Uma proposição com a forma “Nenhum F é G”, como “Nenhum homem é eterno”. A negação de uma universal negativa é uma particular afirmativa: “Alguns F são G”. Assim, a negação de “Nenhum homem é eterno” é “Alguns homens são eternos”. Ver quadrado de oposição. (Desidério Murcho)

universal, proposição

Uma proposição dominada pelo quantificador “Todo”, como “Todos os homens são mortais”, “Nenhum homem é imortal”, etc. A negação de uma proposição universal é sempre uma particular. As proposições universais estão intimamente relacionadas com as condicionais (ver condicional); pode-se parafrasear qualquer universal dada numa condicional: a universal “Todos os homens são mortais” é equivalente à condicional “Se alguém é homem, é mortal”. (Desidério Murcho)

universal, quantificador

Ver quantificador universal.

universalizabilidade

Condição fundamental, segundo Kant, para que uma máxima possa ser moralmente aceitável (ver ética). Quando um agente moral faz algo por alguma razão, está a seguir uma máxima. Uma máxima é, pois, uma regra singular de acção que nos indica o motivo por que fazemos algo. Para Kant, a avaliação moral de um acto depende da máxima do agente. Uma máxima é moralmente aceitável se puder ser universalizada. Isto significa que deve poder valer para todos os seres racionais, transformando-se em princípio universal de conduta: “Todos devem agir assim”. (Luís Rodrigues)

uso/menção

Qual é a diferença entre “Beja é quente” e “"Beja" tem quatro letras"? No primeiro caso, estamos a usar a primeira palavra para referir a cidade alentejana; no segundo caso, estamos a mencionar a própria palavra “Beja”. No discurso escrito, o uso e a menção das palavras distingue-se pela utilização de aspas: se as palavras são usadas, não são escritas entre aspas; se são mencionadas, são escritas entre aspas. No discurso oral, só o contexto da elocução nos permite determinar se uma palavra está a ser usada ou mencionada. A distinção uso/menção é importante para evitar uma confusão entre as propriedades das coisas e as propriedades das palavras, como aconteceria ao dizermos que a palavra “Beja” é quente ou que a cidade alentejana tem quatro letras. (António Paulo Costa)

utilitarismo

Uma forma de ética consequencialista segundo a qual a nossa única obrigação fundamental é promover imparcialmente a felicidade ou o bem-estar, isto é, dar o mesmo peso aos interesses de todos os que serão afectados pela nossa conduta. Alguns utilitaristas, como Mill, defendem o hedonismo, mas outros, como Hare e Singer, concebem o bem-estar de um ser em termos da satisfação dos seus desejos ou preferências. Alguns utilitaristas defendem que temos de maximizar o bem-estar, isto é, promovê-lo tanto quanto possível. (Pedro Galvão)

utopia

Etimologicamente, o termo deriva das palavras gregas “ου" (não) e “τοπος" (lugar) e significa “que não está em nenhum lugar”. O seu uso tem origem na obra Utopia (1516) de Thomas More, em que uma sociedade concebida para a prática da virtude e a obtenção da felicidade, donde estão excluídos o dinheiro e a propriedade, é apresentada como a solução para o egoísmo da vida privada e pública da Europa de então. Contudo, já antes de More outros autores tinham apresentado utopias, sem usar esse nome: é o caso de A República (trad. 2001, Gulbenkian), de Platão. Uma utopia é uma descrição de um lugar ou de uma sociedade humana ideais e, a maior parte das vezes, constitui, ao mesmo tempo, uma crítica da sociedade do autor e uma sugestão de reformas sociais a implementar ou de objectivos a atingir. (Álvaro Nunes)

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