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Crítica
19 de Março de 2002   Ética

O que é um dilema moral?

Walter Sinnott-Armstrong
Tradução de Desidério Murcho

1) Qualquer problema em que a moralidade seja relevante.

Este uso lato inclui não apenas conflitos entre razões morais, mas também conflitos entre razões morais e razões legais, religiosas ou relacionadas com o interesse próprio. Neste sentido, Abraão encontra-se num dilema moral quando Deus lhe ordena que sacrifique o seu filho, ainda que ele não tenha qualquer razão moral para obedecer. Analogamente, encontro-me num dilema moral se não puder ajudar um amigo que esteja com problemas sem renunciar a uma lucrativa mas moralmente neutra oportunidade de negócio.

“Dilema moral” refere-se também muitas vezes ao seguinte:

2) Qualquer área temática em que não se sabe o que é moralmente bom ou certo, se é que algo o é.

Por exemplo, quando se pergunta se o aborto é de algum modo imoral, podemos chamar ao tópico “o dilema moral do aborto”. Este uso epistémico não implica que algo seja realmente de todo em todo imoral.

Recentemente, os filósofos morais têm vindo a discutir como “dilemas morais” um conjunto muito mais limitado de situações, definindo habitualmente “dilema moral” como se segue:

3) Uma situação em que um agente tem o dever moral de fazer duas acções, mas não pode fazer as duas.

O exemplo mais conhecido é o estudante de Sartre que tinha o dever moral de cuidar da sua mãe em Paris, mas que ao mesmo tempo tinha o dever moral de ir para Inglaterra para entrar para a França Livre e lutar contra os nazis.

Contudo, “dever” abrange acções ideais que não são moralmente exigidas, como quando alguém ter o dever de dar dinheiro para uma caridade, mas tal não lhe é exigido. Dado que a maior parte dos exemplos habituais de dilemas morais incluem obrigações ou exigências morais, é mais rigoroso definir “dilema moral” de forma mais restrita:

4) Uma situação em que um agente tem uma obrigação ou exigência moral de fazer duas acções, mas não pode fazer as duas.

Alguns filósofos recusam também chamar “dilema moral” a uma situação quando uma das exigências em conflito é claramente derrotada, como quando tenho de quebrar uma promessa trivial para salvar uma vida. Para excluir este tipo de conflitos resolúveis, podemos definir “dilema moral” da seguinte maneira:

5) Uma situação em que um agente tem uma exigência moral de adoptar ambas as alternativas e nenhuma exigência é derrotada, mas o agente não pode cumprir as duas.

Outra jogada habitual é definir “dilema moral” da seguinte maneira:

6) Uma situação em que todas as alternativas são moralmente erradas.

Isto é equivalente a 4 ou 5, respectivamente, se um acto for moralmente errado sempre que viola uma exigência moral ou qualquer exigência moral não derrotada. Contudo, não dizemos habitualmente que uma acção está errada por violar uma exigência moral derrotada, pelo que 6 exclui por definição dilemas morais, dado que exigências morais derrotadas não podem obviamente estar em conflito.

Apesar de 5 parecer preferível, algumas pessoas objectarão que 5 inclui exigências e conflitos triviais, como conflitos entre promessas triviais. Para incluir apenas situações trágicas podemos definir “dilema moral” da seguinte maneira:

7) Uma situação em que um agente tem uma forte obrigação ou exigência moral de adoptar duas alternativas, sendo que nenhuma das duas está derrotada, mas o agente não pode adoptar ambas as alternativas.

Esta definição é suficientemente forte para levantar as importantes controvérsias sobre dilemas morais sem ser tão forte que exclua por definição a sua possibilidade.

Walter Sinnott-Armstrong
Cambridge Dictionary of Philosophy, org. por Robert Audi.
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ISSN 1749-8457