O objectivo de um argumento é expor as razões (premissas) que sustentam uma conclusão. Um argumento é falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a conclusão, mas na realidade não sustentam. Da mesma maneira que há padrões típicos, largamente usados, de argumentação correcta, também há padrões típicos de argumentos falaciosos. A tradição lógica e filosófica procurou fazer um inventário e dar nomes a essas falácias típicas e este guia faz a sua listagem.
Cada uma destas falácias caracteriza-se pelo uso ilegítimo de um operador proposicional, uso que desvia a atenção do auditório da falsidade de uma certa proposição.
É dado um limitado número de opções (na maioria dos casos apenas duas), quando de facto há mais. O falso dilema é um uso ilegítimo do operador “ou”. Pôr as questões ou opiniões em termos de “ou sim ou sopas” gera, com frequência (mas nem sempre), esta falácia. Exemplos:
Prova: Identifique as opções dadas e mostre (de preferência com um exemplo) que há pelo menos uma opção adicional.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 136
Os argumentos desta classe concluem que algo é verdadeiro por não se ter provado que é falso; ou conclui que algo é falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso dilema, já que presume que todas as proposições têm de ser realmente conhecidas como verdadeiras ou falsas). Mas, como Davis escreve, “A falta de prova não é uma prova”. (p. 59) Exemplos:
Prova: Identifique a proposição em questão. Argumente que ela pode ser verdadeira (ou falsa) mesmo que, por agora, não o saibamos.
Referências: Copi e Cohen: 93; Davis: 59Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraiem-se consequências inaceitáveis de P e consequências das consequências... O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou duvidoso. Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos vários passos “se... então...” que constituem o todo do argumento. Exemplos:
Prova: Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e identifique o evento final, Q, da série de eventos. Depois mostre que este evento final, Q, não tem de ocorrer como consequência de P.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 137
Dois tópicos sem relação, ou de relação duvidosa, são conjugados e tratados como uma única proposição. Pretende-se que o auditório aceite ou rejeite ambas quando, de facto, uma pode ser aceitável e a outra não. Trata-se de um uso abusivo do operador “e”. Exemplos:
Prova: Identifique as duas proposições conectadas e mostre que acreditar numa não implica acreditar na outra.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 86; Copi e Cohen: 96
As falácias desta secção têm em comum o facto de apelarem a emoções ou a outros factores psicológicos. Não avançam razões para apoiar a conclusão.
O auditório é informado das consequências desagradáveis que se seguirão à discordância com o autor. Exemplos:
Prova: Identifique a ameaça e a proposição. Argumente que a ameaça não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 151; Copi e Cohen: 103.
Definição: Pede-se a aprovação do auditório na base do estado lastimoso do Autor. Exemplos:
Prova: Identifique a proposição e o apelo à autoridade e argumente que o estado lastimoso do argumentador nada tem a ver com a verdade da proposição.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 151; Copi e Cohen: 103, Davis: 82.
O argumentador, para “mostrar” que uma crença é falsa, aponta consequências desagradáveis que advirão da sua defesa. Exemplos:
Prova: Identifique as consequências e argumente que a realidade não tem de se adaptar aos nossos desejos.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 100; Davis: 63.
Termos carregados e emotivos são usados para ligar valores morais à crença na verdade da proposição. Exemplos:
Prova: Identifique os termos preconceituosos usados: (p. ex.:. “portugueses bem intencionados” ou “Pessoas razoáveis”). Mostre que discordar da conclusão não é suficiente para dizer que a pessoa é “mal intencionada” ou “pouco razoável”.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 153; Davis: 62.
Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira por ser aceite como verdadeira por algum sector representativo da população. Esta falácia é, por vezes, chamada “Apelo à emoção” porque os apelos emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a população como um todo. Exemplos:
Referências: Copi e Cohen: 103; Davis: 62.
As falácias desta secção fogem ao assunto, discutindo a pessoa que avançou um argumento em vez de discutir razões para aceitar ou não aceitar a conclusão. Em algumas ocasiões é aceitável citar autoridades (por exemplo, citar o médico para justificar o uso de um medicamento); mas quase nunca é apropriado discutir a pessoa em vez dos seus argumentos.
Ataca-se pessoa que apresentou um argumento e não o argumento que apresentou. A falácia ad hominem assume muitas formas. Ataca, por exemplo, o carácter, a nacionalidade, a raça ou a religião da pessoa. Noutros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter algo a ganhar com o argumento, está a responder aos seus interesses. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias.
Há três formas maiores da falácia ad hominem:
Exemplos:
Prova: Identifique o ataque e mostre que o carácter ou as circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou falsidade da proposição defendida.
Referências: Barker: 166; Cedarblom e Paulsen: 155; Copi e Cohen: 97; Davis: 80.
Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio se:
Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o “ouvi dizer” ou “diz-se que”. Um argumento por “ouvir dizer” é um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão. Exemplos:
Prova: Mostre uma de duas coisas (ou ambas):
A autoridade em questão não é nomeada. Isto é uma forma de apelo à autoridade porque quando a autoridade não é nomeada é impossível confirmar se se trata de um perito. Esta falácia é tão comum que merece uma menção especial. Uma variante desta falácia é o apelo ao rumor. Como a fonte do rumor é, em regra, desconhecida, não é possível verificar se o rumor merece crédito. Rumores falsos e caluniosos são lançados muitas vezes intencionalmente com o objectivo de desacreditar o oponente. Exemplos:
Prova: Argumente que pelo facto de não conhecermos a fonte e a base da informação, não temos maneira de avaliar a fiabilidade da informação.
Referências: Davis: 73.
Pretende-se que o modo como o argumento ou o argumentador se apresentam contribui para a verdade da conclusão. Exemplos:
Prova: É um facto que o modo como o argumento é apresentado, influencia a crença das pessoas na verdade da conclusão. Mas a verdade da conclusão não depende do modo como o argumento é apresentado. Para mostrar que esta falácia está a ser cometida, mostre que, neste caso, o estilo não afecta a verdade ou a falsidade da conclusão.
Referências: Davis: 61.
O raciocínio indutivo consiste em inferir das propriedades de uma amostra para as propriedades de um elemento não pertencente à amostra ou para as propriedades da população como um todo. Suponha-se, por exemplo, que temos uma lata com 1000 feijões. Alguns são pretos e outros são brancos. Suponha agora que retirámos da lata uma amostra de 100 feijões e que 50 eram brancos e outros 50 eram pretos. Então, podemos inferir indutivamente que metade dos feijões da lata (500 feijões) são pretos e que a outra metade é branca.
Todo o raciocínio indutivo depende da semelhança entre a amostra e a população. Quanto maior for a semelhança entre a amostra e a população como um todo, maior fiabilidade terá a inferência indutiva. Por outro lado, se a amostra tiver diferenças relevantes face à população, então a inferência indutiva não será fiável.
Mesmo que as premissas de um raciocínio indutivo sejam verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Apesar disso, uma boa inferência indutiva dá-nos uma boa razão para pensar que a conclusão é verdadeira.
A amostra é demasiado limitada e é usada apenas para apoiar uma conclusão tendenciosa. Exemplos:
Prova: Identifique as dimensões da amostra e a população em questão. Depois mostre que a amostra é insuficiente. Note-se que uma prova formal requer cálculo matemático porque está em jogo a teoria das probabilidades. Mas em muitas situações podemos confiar no bom senso.
Referências: Barker: 189; Cedarblom and Paulsen: 372; Davis: 103.
Há diferenças relevantes entre a amostra usada na inferência indutiva e a população como um todo. Exemplos:
Prova: Mostre que há diferenças relevantes entre a amostra e a população como um todo. Depois, argumente que por a amostra ser diferente, a conclusão é provavelmente diferente.
Referências: Barker: 188; Cedarblom e Paulsen: 226; Davis: 106.
Numa analogia mostra-se, primeiro, que dois objectos, a e b, são semelhantes em algumas das suas propriedades, F, G, H. Conclui-se, depois, que como a tem a propriedade E, então b também deve ter a propriedade E. A analogia falha quando os dois objectos, a e b, diferem de tal modo que isso possa afectar o facto de ambos terem a propriedade E. Diz-se, neste caso, que a analogia não teve em conta diferenças relevantes. Exemplos:
Prova: Identifique os dois objectos ou eventos que estão a ser comparados e a propriedade que se diz que ambos possuem. Mostre que os dois objectos diferem de tal modo que a analogia se torna insuficiente.
Referências: Barker: 192; Cedarblom and Paulsen: 257; Davis: 84.
A conclusão apropriada de um argumento indutivo é negada apesar dos dados. Exemplos:
Prova: Acima de tudo pode insistir na força da inferência.
Referências: Barker: 189.
Dados importantes, que arruinariam um argumento indutivo, são excluídos. A exigência de que toda a informação relevante e disponível seja incluída num argumento indutivo, é chamada “princípio da informação total”. Exemplos:
Prova: Exponha os dados em falta e mostre que eles mudam a conclusão do argumento indutivo. Note-se que não basta mostrar que nem todas as provas foram incluídas — é preciso mostrar que as provas em falta justificam outra conclusão.
Referências: Davis: 115.
Uma regra geral é um enunciado habitualmente verdadeiro mas nem sempre o é. As regras gerais são indicadas, muitas vezes, por expressões como “quase sempre” ou “a maioria”. Por exemplo, “a maioria dos conservadores favorecem cortes na Segurança Social”. Algumas vezes usamos a palavra “geralmente”, como em “Geralmente os conservadores são a favor de cortes na Segurança Social”. Mas algumas vezes nenhuma palavra específica é usada, como, por exemplo, em “Os conservadores favorecem cortes na Segurança Social”. As regras gerais nem sempre são estritamente verdadeiras. Portanto, quando alguém trata uma regra geral como se fosse estritamente sempre verdadeira, comete uma falácia.
É aplicada a regra geral quando as circunstâncias sugerem que se deve aplicar uma excepção à regra. Exemplos:
Prova: Identifique a regra geral em questão e mostre que não é uma regra geral estrita. Depois mostre que as circunstâncias deste caso sugerem que a regra não deve aplicar-se.
Referências: Copi e Cohen: 100.
Aplica-se uma excepção à regra geral a casos em que se deve aplicar a regra geral. Exemplos:
Prova: Identifique a regra geral em questão e mostre que o caso especial é uma excepção à regra.
Referências: Copi e Cohen: 100.
Os argumentos causais são os argumentos onde se conclui que uma coisa ou acontecimento causa outra. São muito comuns mas, como a relação entre causa e efeito é complexa, é fácil cometer erros. Em regra, diz-se que C é a causa do efeito E se e só se:
Diz-se “geralmente” porque há sempre excepções. Diz-se, por exemplo, que riscar o fósforo é a causa da chama porque:
Muitos especialistas requerem também que uma afirmação causal seja apoiada por uma lei da natureza. Por exemplo, a afirmação “riscar o fósforo é a causa da chama” é justificado pelo princípio “a fricção produz calor, e o calor produz o fogo”.
O nome em Latim significa: “depois disso, logo, por causa disso”. Isto descreve a falácia. Um autor comete a falácia quando pressupõe que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela teve de ser causada por esta. Exemplos:
Prova: Mostre que a correlação é coincidência, mostrando: 1) que o “efeito” teria ocorrido mesmo sem a alegada causa ocorrer, ou que 2) o efeito teve uma causa diferente da que foi indicada.
Sustenta-se que uma coisa causa outra mas, de facto, são ambas o efeito de uma mesma causa subjacente. Esta falácia é muitas vezes apresentada como um caso especial de falácia post hoc ergo propter hoc. Exemplos:
Prova: Identifique os dois efeitos e mostre que ambos são provocados pela mesma causa subjacente. É preciso indicar a causa oculta e provar que ela causa cada efeito.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238.
O objecto ou evento identificado como a causa de um efeito, é uma causa genuína — mas insignificante quando comparada com outras causas desse evento. Note-se que não se trata desta falácia quando todas as outras causas são igualmente insignificantes. Não é falacioso dizer que a sua ajuda causou a derrota do partido do governo, porque o seu voto tem o mesmo peso de qualquer outro voto e, portanto, é igualmente parte da causa. Exemplos:
Prova: Identifique uma causa mais significativa.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238.
A relação entre causa e efeito é invertida. Exemplos:
Prova: Exponha um argumento causal, mostrando que a relação entre causa e efeito foi, de facto, invertida.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238.
O efeito é provocado por um certo número de objectos ou eventos, dos quais a causa identificada é apenas um parte. Uma variante disto são os ciclos de feedback onde o efeito é ele mesmo parte da causa. Exemplos:
Prova: Mostre que todas as causas e não apenas aquela que foi mencionada são precisas para explicar o efeito.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238.
Estas falácias têm em comum o facto de falharem a prova de que a conclusão é verdadeira.
A verdade da conclusão é pressuposta pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de uma forma ligeiramente diferente. Nos casos mais subtis, a premissa é uma consequência da conclusão. Exemplos:
Prova: Mostre que para acreditarmos nas premissas já teríamos de aceitar a conclusão.
Referências: Barker: 159; Cedarblom e Paulsen: 144; Copi e Cohen: 102; Davis: 33.
Um argumento prova uma coisa diferente da pretendida. Exemplos:
Prova: Mostre que a conclusão apresentada pelo argumentador, com a qual até pode concordar, não é a conclusão que ele pretendia tirar.
Referências: Copi e Cohen: 105.
O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das “técnicas” de argumentação mais usadas. Exemplos:
Prova: Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva um argumento mais forte.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 138.
As falácias desta secção são, todas elas, falácias geradas pela falta de clareza no uso de uma frase ou palavra. Há dois modos de isto suceder:
A mesma palavra pode ser usada com dois significados diferentes. Exemplos:
Prova: Identifique a palavra que é usada mais de uma vez. Depois, mostre que a palavra surge com diferentes definições, adequadas num dos seus usos e desadequadas noutros.
Referências: Barker: 163; Cedarblom and Paulsen: 142; Copi e Cohen: 113; Davis: 58.
Uma anfibologia ocorre quando a construção da frase permite atribuir-lhe diferentes significados. Exemplos:
Prova: Evidencie a ambiguidade da frase, mostrando que pode receber diferentes interpretações.
Referências: Copi and Cohen: 114.
A ênfase é usada para sugerir uma proposição diferente daquela que, de facto, é expressa. Exemplos:
Prova: Explicite a proposição sugerida, contrastando-a com a proposição realmente expressa.
Referências: Copi e Cohen: 115, 117.
Estas falácias ocorrem porque o autor pressupõe erroneamente que as partes e o todo devem ter propriedades semelhantes. No entanto, as coisas podem ter, como um todo, propriedades diferentes das que cada uma tinha em separado.
Por as partes de um todo terem uma certa propriedade, argumenta-se que o todo tem essa mesma propriedade. Esse todo pode ser tanto um objecto composto de diferentes partes, como uma colecção ou conjunto de membros individuais. Exemplos:
Prova: Identifique o todo e as partes em questão. Mostre que, em geral o todo não têm de ter as propriedades das partes, ou, podendo ser mais específico, mostre que o todo em questão não tem as propriedades das partes.
Como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as partes têm essa propriedade. O todo em questão, pode ser tanto um objecto como uma colecção ou conjunto de membros individuais. Exemplos:
Prova: Mostre que as propriedades em questão são propriedades das partes mas não do todo. Se for preciso, descreva as partes para mostrar que elas não têm as propriedades do todo.
Referências: Barker: 164; Copi e Cohen: 119.
O termo non sequitur significa literalmente “não se segue que”. Nesta secção descrevemos falácias que ocorrem em consequência da forma de argumento usado ser inválida.
Esta falácia deriva da confusão entre condição suficiente e condição necessária. Por exemplo: dadas as proposições
P = Hitler levou com a bomba H.
Q = Hitler morreu.
Se admitir que P é verdadeira, concluirei que Q é verdadeira. P é suficiente para Q. Q é necessária para P (não há P sem Q). Mas, do facto de Q ser verdadeira, não posso concluir que P o seja (Q não é suficiente para P). Logo, todo o argumento com a seguinte forma é inválido:
Se P, então Q.
Ora, Q.
Logo, P.
Exemplos:
Prova: Mostre que, mesmo sendo as premissas verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Em geral basta mostrar que Q pode ser consequência de outra coisa que não P. Por exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas e não pela fábrica.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 24; Copi e Cohen: 241.
Nesta falácia confunde-se a condição suficiente com a condição necessária. Com uma frase condicional (Se P, então Q) dizemos que se P for verdadeira, Q também é; mas não dizemos que a recíproca é verdadeira. Por isso, os argumentos com a seguinte forma são inválidos:
Se P, então Q.
Não-P.
Logo, não-Q.
Exemplos:
Prova: Mostre que a conclusão pode ser falsa mesmo que as as premissas sejam verdadeiras. Em particular, mostre que a consequente, Q, pode ocorrer mesmo que P não ocorra.
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 26; Copi e Cohen: 241.
O argumentador avança pelo menos duas proposições que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Em tais casos as proposições podem ser contrárias ou contraditórias. Exemplos:
Prova: Parta de uma das afirmações e use-a como uma premissa para mostrar que a outra é falsa.
Referências: Barker: 157.
Uma explicação é uma forma de raciocínio que tenta dar resposta à pergunta “Porquê?” Por exemplo: é com uma explicação que respondemos a uma pergunta como “Por que é que o céu é azul?” Uma boa explicação será baseada numa teoria científica ou empírica. A explicação do azul do céu será dada em termos da composição dos céus e das teorias da reflexão.
Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo fenómeno. A explicação é falaciosa se o fenómeno não ocorre ou se não houver prova de que possa ocorrer. Exemplos:
Prova: Identifique o fenómeno que está a ser explicado. Mostre que não há razão para acreditar que o fenómeno tenha de facto ocorrido.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 158.
Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo fenómeno (facto). O fenómeno ou facto está estabelecido, o argumento visa estabelecer a explicação. Neste tipo de falácias, no entanto, apesar de algo semelhante ao fenómeno a explicar ter ocorrido, ele é falsificado, apresentado de forma parcial ou baseado em provas ad hoc. Exemplos:
Prova: Identifique o fenómeno que está a ser explicado. Mostre que as provas avançadas para afirmar a existência do fenómeno foram, de algum modo, manipuladas.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 160.
A teoria que foi concebida para explicar a ocorrência de algum fenómeno não pode ser testada. Testamos uma teoria por meio das suas previsões. Por exemplo, uma teoria pode prever que a luz muda de trajectória em certas condições, ou que um líquido muda de cor com o ácido, ou que um psicótico responda mal a certos estímulos. Se o evento previsto não ocorrer, então a informação obtida contradiz a teoria. Uma teoria não pode ser testada se não faz previsões. Também não pode ser testada se prevê acontecimentos que podem ocorrer independentemente de a teoria ser verdadeira. Exemplos:
Prova: Identifique a teoria. Mostre que ela não faz previsões, ou que as previsões feitas com a teoria são falsas ou que as previsões que ela faz podem ser verdadeiras mesmo que a teoria seja falsa.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 161.
A teoria só explica um fenómeno e nada mais. Exemplos:
Prova: Identifique a teoria e o fenómeno que ela explica. Mostre que a teoria não explica nada mais. Argumente que as teorias que só explicam um fenómeno são, na melhor das hipóteses, incompletas.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 163.
As teorias explicam os factos apelando a causas ou fenómenos subjacentes. As teorias que não apelam a causas subjacentes e apenas apelam à pertença a uma categoria (apenas incluem o fenómeno em uma classe de fenómenos) são superficiais. Exemplos:
Prova: As teorias desta espécie tentam explicar um fenómeno, mostrando que ele é parte de uma classe ou categoria de fenómenos semelhantes. Aceitando esse facto, exija uma explicação mais vasta para os fenómenos dessa categoria. Argumente que uma teoria explicativa deve referir causas e não apenas classificações.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 164.
Usamos definições para tornar os nossos conceitos mais claros. O propósito da definição é enunciar com exactidão o significado de uma palavra. Uma boa definição deve permitir que o leitor a aplique a casos concretos sem ajuda exterior. Por exemplo, suponhamos que queremos definir a palavra “maçã”. Se a definição for bem-sucedida, então o leitor deve poder aplicá-la a cada maçã que existe e só a maçãs. Se o leitor falhar algumas maçãs ou incluir outros objectos (como pêras) ou não puder dizer se algo é maçã ou não, então a definição falha. As definições não são argumentos. Por isso, não se pode, com rigor, falar de “Falácias da Definição”. Mas as definições incorrectas, por vezes tendenciosas, são muitas vezes incluídas em argumentos tornando-os falaciosos.
A definição inclui mais do que devia incluir. Exemplos:
Prova: Identifique o termos que está a ser definido. Identifique as condições da definição. Procure um objecto que preencha as condições da conclusão mas que obviamente não seja uma instância do termo a definir.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 182.
A definição não inclui tudo o que deveria incluir. Exemplos:
Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as condições da definição. Apresente um item que seja uma instância do termo mas não preencha essas condições.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 182.
A definição é tão ou mais difícil de compreender do que o termo a definir. Exemplos:
Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as condições da definição. Mostre que as condições não estão mais claramente definidas do que o termo a definir.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 184.
A definição inclui o termo definido como parte da definição. Uma definição circular é um caso especial da falta de clareza. Exemplos:
Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as condições da definição. Mostre que pelo menos um termo usado nas condições é o mesmo que o termo que está a ser definido.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 184.
A definição é autocontraditória. Exemplos:
Prova: Identifique as condições da definição. Mostre que nem todas podem ser, ao mesmo tempo, verdadeiras. Em particular, parta de uma das condições e, depois, mostre que uma das outras é falsa).
Referências: Cedarblom and Paulsen: 186.
Os operadores proposicionais aplicam-se a uma ou duas proposições para formar novas proposições.
Quando o valor de verdade da nova proposição é determinado unicamente
Há cinco operadores proposicionais verofuncionais: negação, conjunção, disjunção, condicional e bicondicional.
Qualquer proposição P pode ser negada mediante o operador negação, gerando uma nova proposição complexa: Não-P
A proposição Não P será verdadeira apenas se P for falsa. Será falsa apenas se P for verdadeira. A tabela de verdade de Não P é a seguinte:
P | Não-P |
V | F |
F | V |
Quaisquer duas proposições, P e Q, podem ser conectadas gerando uma proposição nova e complexa: “P e Q”. A proposição “P e Q” será verdadeira se e apenas se “P” e “Q” forem verdadeiras. Com qualquer outra combinação de valores de verdade será falsa.
A tabela de verdade de P e Q é a seguinte:
P | Q | P e Q |
V | V | V |
V | F | F |
F | V | F |
F | F | F |
Quaisquer duas proposições, P e Q, podem conectar-se como alternativas mútuas, produzindo uma nova proposição (complexa), P ou Q.
A proposição “P ou Q” será verdadeira se pelo menos uma das alternativas, P ou Q, for verdadeira. Será falsa se nenhuma for verdadeira.
A tabela de verdade de P ou Q é a seguinte:
P | Q | P ou Q |
V | V | V |
V | F | V |
F | V | V |
F | F | F |
Quaisquer duas proposições, P e Q, podem ser conectadas pelo condicional gerando a nova proposição complexa, Se P, então Q
A proposição Se P, então Q é verdadeira se e só se P for falsa ou Q for verdadeira. Só é falsa quando P é verdadeira e Q falsa.
A tabela de verdade de Se P, então Q é a seguinte:
P | Q | Se P, então Q |
V | V | V |
V | F | F |
F | V | V |
F | F | V |
Quaisquer duas proposições P e Q podem ser ligadas com o bicondicional, gerando uma nova proposição complexa: P se e só se Q.
A proposição P se e só se Q é verdadeira se e apenas se P e Q tiverem o mesmo valor de verdade — se ambas P e Q forem verdadeiras ou ambas falsas.
A tabela de verdade de P se e só se Q é a seguinte:
P | Q | P sse Q |
V | V | V |
V | F | F |
F | V | F |
F | F | V |
Uma proposição é o conteúdo verdadeiro ou falso expresso por uma afirmação. Usamos frases para exprimir proposições. Mas nem toda a frase exprime uma proposição: ordens, perguntas, conselhos só em casos especiais exprimem proposições. Exemplos:
Discussão: Faz sentido pensar numa proposição como o significado de uma frase. O significado de uma frase tem várias componentes:
Os filósofos discutem bastante sobre o significado. Alguns dizem que o significado é apenas a denotação. Outros dizem que é a combinação apenas da denotação e da conotação. Outros ainda (incluindo Stephen Downes) dizem que o significado é a combinação dos três — denotação, conotação e ênfase.
Uma proposição pode ter um dos seguintes valores de verdade:
Os filósofos discutem muito sobre o que constitui a verdade. Por agora podemos usar uma caracterização muito simples:
Exemplos:
Por outras palavras, uma proposição é verdadeira se ela descreve correctamente um estado do mundo, e será falsa se descrever incorrectamente um estado do mundo.
Referências: Copi: 5.
Uma tabela de verdade mostra o valor de verdade da proposição complexa que resultou da aplicação de um operador lógico a duas proposições mais simples.
Suponhamos que as duas proposições conectadas eram P e Q. Cada uma destas proposições tem dois valores de verdade possíveis: verdade ou falsidade. Isto dá-nos quatro possíveis combinações que estão representadas na tabela que se segue:
P | Q | |
V | V | |
V | F | |
F | V | |
F | F |
Na coluna da direita acrescentaremos a proposição complexa formada pela ligação de “P” e “Q”. Por baixo escreveremos o valore de verdade que ela adquire em cada um dos casos possíveis. Vejamos, por exemplo, a tabela de verdade da proposição complexa “P e Q”
P | Q | P e Q |
V | V | V |
V | F | F |
F | V | F |
F | F | F |
Note-se que a proposição complexa pode ser verdadeira ou falsa em função dos diferentes valores de verdade de P e Q e do operador usado.
A lista que se segue recenseia os melhores textos em lógica e em raciocínio crítico. Apesar de não ser um guia completo (poderá haver tal coisa?), deverá ser um bom ponto de partida. Restringi a a selecção a livros publicados neste século.