Falácias da ambiguidade
Stephen Downes
Tradução e adaptação de Júlio Sameiro
As falácias desta secção são, todas elas, falácias geradas pela falta de clareza no uso de uma frase ou palavra. Há dois modos de isto suceder:
- A palavra ou frase pode ser ambígua, caso em que tem mais de um sentido distinto;
- A palavra ou frase pode ser vaga. Nesse caso não tem um sentido distinto.
Equívoco
A mesma palavra pode ser usada com dois significados diferentes.
Exemplos:
- Criminalidade é ilegalidade. O julgamento de um roubo ou assassínio são acções criminais. Os julgamentos de roubos e assassínios são designados de acções criminais. Logo, os julgamentos de roubos e assassínios são ilegais. (Exemplo retirado de Copi.)
- Os assassinos de cianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças. (O
argumento joga com os significados moral e descritivo de
“humano”)
- Para ser grande ou pequeno um objecto tem, primeiro, de ser. Logo, o ser do objecto surgiu primeiro. (Jogo com os
significados lógico e físico de “ser”)
Prova: Identifique a palavra que é usada mais de uma vez. Depois, mostre que a palavra surge com diferentes definições, adequadas num dos seus usos e desadequadas noutros.
Referências: Barker: 163; Cedarblom and Paulsen: 142; Copi e Cohen: 113; Davis: 58.
Anfibologia
Uma anfibologia ocorre quando a construção da frase permite atribuir-lhe diferentes significados.
Exemplos:
- No teu emprego todos gostam de um carro. Portanto, há um carro muito especial. (Todos gostam de um carro
qualquer ou do mesmo carro?)
- O Oráculo de Delos disse a Croseus que se ele continuasse a guerra destruiria um reino poderoso. (O
Oráculo não disse que seria o seu próprio
reino...)
Prova: Evidencie a ambiguidade da frase, mostrando que pode receber diferentes interpretações.
Referências: Copi and Cohen: 114.
Ênfase
A ênfase é usada para sugerir uma proposição diferente daquela que, de facto, é expressa.
Exemplos:
- Não há CERVEJA GRÁTIS!
- A ex-namorada, procurando vingar-se do capitão, escreveu no jornal: “Hoje, o capitão estava sóbrio”. (Ela sugere, com a ênfase, que
habitualmente o capitão está bêbado. Copi,
p. 117)
Prova: Explicite a proposição sugerida, contrastando-a com a proposição realmente expressa.
Referências: Copi e Cohen: 115, 117.