A existência levanta problemas complexos e importantes na metafísica, filosofia da linguagem, e lógica filosófica. Muitos destes problemas podem ser organizados em torno das seguintes duas questões: É a existência uma propriedade de indivíduos? E pressupondo que a existência é uma propriedade de indivíduos, há indivíduos que carecem dessa propriedade?
Nos anos que precederam a segunda guerra mundial, e que lhe sucederam, era comum na tradição analítica uma atitude decididamente negativa quanto à metafísica. Antes da guerra, os positivistas lógicos invocaram o seu critério empirista de significado para concluir que, tomadas ao pé da letra como teses sobre o mundo extralinguístico, as afirmações metafísicas eram literalmente destituídas de significado.
As teorias da verdade investigam a verdade como propriedade das nossas ideias e do nosso discurso. Atribuímos a verdade e a falsidade a uma imensa diversidade de denominados portadores de verdade: itens linguísticos (frases, elocuções, afirmações e asserções), itens abstractos (proposições) e itens mentais (juízos e crenças). Qual é a propriedade que estamos atribuindo quando dizemos que um portador de verdade é verdadeiro?
Conversamos sobre afectos, realidades, crenças, pensamentos, medos, desejos, memórias, futuros e tudo o mais. Sem a verdade, toda a conversa seria uma mera manifestação de subjectividades solipsistas e imunes ao erro, discursos paralelos sem triangulação possível entre si e a realidade.
A palavra metafísica deriva do grego meta ta physika (literalmente, “depois das coisas da natureza”), uma expressão usada por comentadores tanto do período helenístico como de períodos posteriores para referir um grupo de textos originalmente sem título da autoria de Aristóteles a que ainda chamamos Metafísica.
O cepticismo de Quine com respeito às perspectivas tradicionais do significado andava de mãos dadas com o seu cepticismo com respeito às modalidades. Na peugada de Carnap e de C. I. Lewis, Quine considerava que as noções modais estavam intimamente ligadas à noção de significado.
A liberdade é uma das crenças mais básicas e fundamentais dos seres humanos. Estamos convencidos de que sempre que decidimos ou escolhemos fazer uma coisa em vez de outra, quer seja a propósito de um assunto importante ou de algo completamente trivial, essa decisão ou escolha depende inteiramente de nós.
Suponha o leitor que o raptam e o obrigam a cometer uma série de crimes terríveis. O raptor fá-lo disparar sobre a primeira vítima, forçando-o a premir o gatilho de uma arma, hipnotiza-o para que envenene uma segunda e depois empurra-o de um avião fazendo-o esmagar uma terceira. Milagrosamente, o leitor sobrevive à queda. A situação deixa-o atordoado, aliviado por ter chegado ao fim da sua dolorosa experiência. Mas então, para sua surpresa, é detido pela polícia, que o algema e acusa de homicídio.
Agatha Christie escreveu em sua autobiografia que sempre fora fascinada pela matemática e que pensou que em algum momento de sua vida, se tivesse continuado seus estudos, teria se tornado uma matemática e nunca teria escrito quaisquer estórias de detetive.
A questão filosófica central quanto aos objectos abstractos é esta: Há alguns? Uma resposta afirmativa — dada pelos platónicos ou realistas — apoia-se no facto de parecer que partes significativas do nosso discurso e pensamento dizem respeito a objectos que estão para lá do espaço e do tempo, sendo por isso incapazes de entrar em relações causais, apesar de grande parte desse discurso dizer respeito a objectos concretos (grosso modo, objectos com extensão espaciotemporal).
Deixe-me contar — brevemente — sobre um estranho caso da história da filosofia. Alexius Meinong (1853–1920) foi um psicólogo austríaco e filósofo sistemático. Parte de seu trabalho era apresentar uma análise sofisticada do conteúdo do pensamento. Um aspecto notável sobre isso é o que se segue. Se você está pensando sobre o Taj Mahal, você está pensando sobre algo.
O meu amigo João veio cá casa tomar um café. Enquanto aqueço a água, digo-lhe: “existe uma chávena no armário”. O João abre o armário. Et voilà! O João encontra uma chávena no armário. De acordo com a teoria da verdade como correspondência, a frase “existe uma chávena no armário” é verdadeira se, e só se, é um facto que existe uma chávena no armário.
Discutirei em primeiro lugar o problema do livre-arbítrio, já que se efectivamente não houver tal coisa também não haverá moralidade. A moralidade diz respeito ao que o homem deve ou não fazer.
Poderão algumas espécies sociais ser naturais? Neste artigo argumento que há três espécies de espécies sociais.
As ciências sociais estudam entidades políticas como nações e leis, factos económicos respeitantes a dinheiro, défice, inflação e recessão, e factos sociais, respeitantes a estruturas de classe, relações de raça e género.
Este artigo é acerca da ontologia de uma determinada classe de entidades sociais e do papel da linguagem na sua criação e manutenção. As entidades sociais que tenho em mente são os objectos como a nota de 20 dólares que tenho na mão, a Universidade da Califórnia e o Presidente dos Estados Unidos.
Suponha que um carpinteiro talha pedaços de madeira e os organiza de modo a comporem uma mesa. Em bom rigor ontológico, o que ocorreu? Será que somente certos pedaços de madeira ou agregados de fibras de celulose foram dispostos de modo diferente em relação uns aos outros, ou terá sido criado algum objeto de categoria distinta quer dos pedaços quer dos agregados?
Imagine um deserto, um verdadeiro deserto onde nada cresce e nada há senão areia. Imagine que um regimento da Legião Estrangeira chega a um determinado ponto nesse deserto com ordens para garantir a segurança das rotas locais de caravanas, contra a bandidagem.
Há indícios históricos de que realmente existiu um nobre chamado Rolando, que serviu sob Carlos Magno. Suponha, porém, que isso é equivocado e que não existiu uma pessoa como Rolando.
Por que existe o Universo? Há aqui duas perguntas: 1) Por que existe o Universo de todo em todo? Ou seja, por que há algo em vez de nada? 2) Por que é o Universo como é? Há quem não leve a sério estas perguntas, considerando-as ociosas. Há até quem pense que não fazem sentido.
O compatibilismo do milagre local (de agora em diante, CML) é uma teoria compatibilista acerca do problema do livre-arbítrio e do determinismo. De acordo com o CML, temos frequentemente — embora não sempre — a capacidade de agir diferentemente do que de fato agimos, mesmo sob a hipótese de o determinismo ser verdadeiro.
O incompatibilismo é uma tese acerca do problema do livre-arbítrio. Não se trata de afirmar que o determinismo é verdadeiro. Também não diz que não somos livres. Limita-se a uma afirmação condicional: se o determinismo for verdadeiro, não somos livres.
Podemos, em geral, explicar a acção intencional segundo duas perspectivas bastante diferentes: a intencional e a deliberativa. Embora à primeira vista isto não pareça problemático, a sua análise dá lugar a um quebra-cabeças. Seja-me permitido explicar as duas perspectivas.
Quem afirma que a alma é distinta do corpo, que é imaterial, que extrai as ideias de si própria e que age de acordo com a sua própria energia e sem o auxílio de objectos externos, afasta a alma, em virtude do seu próprio sistema, daquelas leis físicas segundo as quais todos os seres conhecidos estão obrigados a actuar.
Irei começar por expor a teoria compatibilista da liberdade apresentada por David Hume. A ideia é que uma acção é praticada livremente se o agente podia ter actuado de outra forma, caso o tivesse desejado. Suponha-se que alguém aceita uma oferta de emprego para o Verão.
Para avaliar uma acção, é necessário antes de mais compreendê-la.
Uma explicação por compreensão, para ser aceitável, deve satisfazer as três condições seguintes. Em primeiro lugar, deve poder estar de acordo sobre o que o agente fez. Em segundo lugar, deve determinar as razões do agente para realizar essa acção.
O ponto de partida desta investigação será a própria acção. Na nossa vida diária temos tendência para contrastar o que fazemos com aquilo que apenas acontece. Esta é uma polaridade conceptual importante. Desempenha um papel central não só no modo como nos concebemos a nós próprios e aos outros, mas também no valor que atribuímos às nossas vidas.
O nominalismo quanto à matemática (ou nominalismo matemático) é a perspectiva segundo a qual ou os objetos, as relações e as estruturas matemáticas não existem de todo em todo, ou não existem enquanto objetos abstratos (objetos que nem estão localizados no espaço-tempo, nem têm poderes causais).
A filosofia da mente não trata apenas da análise filosófica de conceitos mentais ou psicológicos. Está também intimamente relacionada com problemas metafísicos. A metafísica – que tem sido tradicionalmente considerada a raiz de toda a filosofia – é a investigação sistemática da estrutura mais fundamental da realidade.
A minha tese é a seguinte: a pessoa que está convencida que tem liberdade de escolha ou livre-arbítrio tem um maior sentido de responsabilidade do que a pessoa que pensa que o determinismo absoluto governa o universo e a vida humana.
O objectivo deste ensaio é esclarecer algumas noções importantes para a compreensão da ideia de que há verdades necessárias a posteriori. Esta ideia foi introduzida e desenvolvida por Saul Kripke (n. 1940), nos anos 70 do século XX.
O objetivo deste artigo é duplo: quero elucidar a concepção aristotélica do princípio da não-contradição como um princípio metafísico, e não lógico nem semântico, e defender a sua verdade nesse sentido. Primeiro explicarei o que de fato significa dizer que o princípio da não-contradição é metafísico.
A complexidade do movimento corporal só sugere acção quando nos faz pensar que o corpo, durante o seu movimento, está sob a direcção do agente. Executar uma acção é, assim, um acontecimento complexo, que inclui um movimento corporal e o estado de coisas ou actividade que constitui a direcção que o agente tem sobre esse movimento.
Segundo um ser extraterrestre tralfamadoriano, no livro Slaughterhouse Five de Kurt Vonnegut, Jr., os tralfamadorianos viajaram até aos confins do universo e só na Terra se fala de livre-arbítrio. Talvez. Mas fala-se mesmo muito.
A ilusão do livre-arbítrio foi um obstáculo no caminho do pensamento humano durante milhares de anos. Vejamos se o senso comum e o conhecimento não podem removê-la.
Meu objetivo neste ensaio é argumentar que duas réplicas ao argumento de Russell contra o nominalismo de semelhança propostas por Cargile (2003) e Rodriguez-Pereyra (2001; 2002) não funcionam.
Há certa tensão entre duas de nossas crenças mais razoáveis: a crença de que temos livre-arbítrio e a crença de que o determinismo é verdadeiro. O determinismo é a tese de que o passado mais as leis da natureza determinam um futuro único.
Qual é a relação entre uma razão e uma ação quando a razão explica a ação, dando a razão do agente para fazer o que fez? Podemos chamar tais explicações de racionalizações, e dizer que a razão racionaliza a ação.
Filósofo e matemático francês, seria difícil sobrestimar a influência filosófica de René Descartes (1596–1650). Freqüentemente denominado “pai da filosofia moderna”, os seus argumentos sobre a dúvida, os fundamentos do conhecimento, e a natureza da mente humana, são bem conhecidos de inúmeros estudantes.
Harry Frankfurt, em “Freedom of the Will and The Concept of a Person” (1971), propõe uma definição de livre-arbítrio que, segundo ele, é neutra em relação ao problema do determinismo (ou do livre-arbítrio). Ao dizer que sua concepção de livre-arbítrio é neutra, Frankfurt sugere que mesmo sendo o universo determinado, podemos fazer as nossas escolhas livremente.
O leitor tem uma tendência natural que todos temos: raciocinar a partir de situações que pode ou não conceber para determinar o que é ou não é possível. Se isto lhe parece muito abstrato, pense no seguinte: ao planejar uma mudança de móveis você pode conceber uma situação em que a mesa caberá na porta para concluir que é possível que ela caiba na porta.
Defendo neste artigo que são implausíveis as teorias que não admitem a existência de propriedades independentes da nossa categorização do mundo. Não tenho aqui um objetivo positivo, no sentido de dar uma solução para o problema de saber o que são propriedades, mas antes argumentar que uma teoria que não admite propriedades enfrenta problemas intransponíveis.
Como Aristóteles chama a atenção nas Categorias (14b, 15-22), uma coisa pode, só por existir, fazer uma afirmação ser verdadeira. Por exemplo, que Fiel existe é verdadeira; e Fiel, o cão, só por existir, faz isto ser verdadeiro.
O termo ontologia foi introduzido pelos autores escolásticos no século XVII. Rudolf Goclenius, que mencionou a palavra em 1636, poderá ter sido o primeiro a fazê-lo, mas o termo era de tal modo natural em latim e começou a surgir tão regularmente que as disputas sobre quem detém a prioridade da sua introdução são vãs.
A ontologia é a ciência ou estudo mais geral do Ser, Existência ou Realidade. Um uso informal do termo significa o que, em termos gerais, um filósofo considera que o mundo contém. Assim, diz-se que Descartes propôs uma ontologia dualista, ou que não há deuses na ontologia de d’Holdbach.
Apresento nestas páginas o problema filosófico das propriedades. Começo por determinar o problema que está em causa para depois explorar algumas alternativas teóricas que procuram solucioná-lo.
Foi Immanuel Kant quem primeiro perguntou “Como é a metafísica possível?” Mas Kant supunha que o objecto de estudo da metafísica consistia em verdades sintéticas a priori, e desde então que duvidamos se há ou não tal classe de verdades, sobretudo porque a distinção analítico/sintético se tornou ela própria duvidosa, depois do ataque que W. V. Quine lhe dirigiu.
Os filósofos têm discordado acerca da natureza da metafísica. Aristóteles e os medievais dão-nos duas explicações diferentes da disciplina. Por vezes caracterizam-na como a tentativa de identificar as primeiras causas, em particular deus ou o motor imóvel; por vezes como a muito geral ciência do ser enquanto ser.
As pessoas que não estão familiarizadas com a metafísica tendem a ter uma concepção falsa e distorcida daquilo que a metafísica envolve. Por vezes pensam que tem algo a ver com o misticismo e a magia, o que é completamente errado. Por vezes pensam que tem algo a ver com a física, o que até é verdade, em certo sentido.
Num texto de 1697, Leibniz formula uma pergunta radical: “Por que há algo em vez de nada?” O seu objectivo é sustentar a existência de um deus que seria a origem da realidade. Esta ideia, contudo, precisa de ser cuidadosamente formulada, para não dar origem ao absurdo de sustentar que há algo porque Deus, que não é algo, o criou.
“Por que há algo em vez de nada?” é a formulação básica — desde Leibniz — de um problema da metafísica: a questão, se é que tem sentido, consiste em descobrir uma razão de ser para a própria existência de um mundo repleto de coisas que o compõem, em vez de um puro vazio, a ausência de universo, o nada.
Ludwig Wittgenstein (1889–1951) declara nas secções 6.44 e 6.45 do Tratactus Logico-Philosophicus (trad. de M. S. Lourenço, Gulbenkian) que “O que é místico é que o mundo exista, não como o mundo é. A contemplação do mundo sub specie aeterni é a sua contemplação como um todo limitado”.
Um pedaço de barro solta-se de um grande barranco, formando por coincidência, e ao mesmo tempo, uma estátua de Machado de Assis. Três dias depois a estátua é completamente destruída; ao ser atingida por um machado ela se parte em vários pedaços.
Uma componente importante da Metafísica Ocidental Comum é a tese de que há verdades objectivas. Esta tese tem duas componentes. Primeiro, as nossas crenças e asserções ou são verdadeiras ou são falsas; cada uma das nossas crenças e asserções representa o Mundo como algo que é de certa maneira, e a crença ou asserção é verdadeira se o Mundo é dessa maneira, e falsa se o Mundo não é dessa maneira.
Os seus detractores caracterizam muitas vezes a filosofia analítica como antimetafísica. Afinal, dizem, nasceu às mãos de Moore e Russell, que estavam a reagir contra os sistemas metafísicos de idealistas como Bosanquet e Bradley; e os movimentos subsequentes da tradição analítica faziam da eliminação da metafísica a pedra angular dos seus objectivos filosóficos respectivos.
O termo “nominalismo” refere-se a uma abordagem reducionista de problemas sobre a existência e natureza de entidades abstractas; opõe-se portanto ao platonismo e ao realismo.
Em metafísica, o termo “universais” aplica-se a dois tipos de coisas: propriedades (como a vermelhidão ou a redondez), e relações (como as relações de parentesco, ou relações espaciais e temporais). Os universais devem ser entendidos em contraste com os particulares.
O problema do livre-arbítrio é fundamentalmente num conflito entre a informação científica acerca do mundo e a nossa experiência como seres que agem. A ciência diz-nos que o mundo é determinado (ao nível que conta, o nível macrocósmico): dado qualquer estado do mundo, só há um estado seguinte fisicamente possível.
Define-se por vezes uma acção como o fazer intencional de alguém. O fenómeno da acção humana deve a sua importância tanto a questões sobre o estatuto metafísico dos agentes, como a questões éticas e legais sobre a liberdade e responsabilidades humanas.
Uma boa maneira de começar a nossa investigação acerca da natureza da acção é a partir da questão levantada por Wittgenstein: “O que sobra se eu subtrair o facto de o meu braço se ter erguido ao facto de eu ter erguido o meu braço?” (1953: §621).
Qual é a diferença entre uma mera decisão ou selecção e uma escolha, isto é, uma decisão livremente realizada? Eis uma ideia vulgar: uma escolha livre é uma decisão tal que, até ao momento em que foi realizada, outra decisão poderia ter sido feita.
Num livro que as salas de aula contribuíram para tornar famoso, podemos encontrar a seguinte passagem: “Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedras?”
Nada no mundo, nenhum objecto ou acontecimento, seria verdadeiro ou falso se não existissem criaturas com pensamento. John Dewey, em cuja honra e memória foram proferidas as conferências que constituíram este ensaio, retirou duas conclusões: que o acesso à verdade não podia ser uma prerrogativa especial da filosofia, e que a verdade tem de ter conexões essenciais com os interesses humanos.
A posição de que não há verdadeiramente conflito entre determinismo e livre-arbítrio — que o livre-arbítrio e o determinismo são compatíveis — é conhecida como compatibilismo. […] O compatibilismo tornou-se a mais popular doutrina da filosofia moderna porque fornece o que parece ser uma solução clara e simples para o problema do livre-arbítrio.
O objectivo deste pequeno artigo é mostrar como a experiência mental de Frankfurt se insere no debate imemorial sobre o livre-arbítrio entre o compatibilista e o incompatibilista.
As quatro teorias da verdade mais conhecidas são a teoria da redundância, a pragmática, a correspondencial e a coerencial. No que se segue quero expor de forma crítica e comparada cada uma dessas teorias, buscando avaliar as suas plausibilidades.
Nesta lição, irei apresentar as posições filosóficas canónicas acerca da relação entre liberdade e determinismo. Em seguida, farei algumas observações críticas acerca destas posições. Isto servirá para preparar o terreno para a proposta positiva que farei na próxima lição acerca de como o livre-arbítrio deve ser entendido.
Nas lições anteriores sobre o problema da relação mente/corpo, encontrámos uma ideia simples que nenhuma teoria contestava. Os dualistas, os defensores da teoria da identidade e os funcionalistas, admitem que a mente e o mundo físico interagem.
É costume dizer que cada um tem a sua filosofia e até que todos os homens têm opiniões metafísicas. Nada poderia ser mais tolo.
Algo de peculiar acontece quando olhamos a acção de um ponto de vista objectivo ou exterior. Alguns dos seus aspectos mais importantes parecem desaparecer sob o olhar objectivo. As acções parecem já não ter como fontes agentes individuais, mas tornar-se, em vez disso, componentes do fluxo de acontecimentos no mundo do qual o agente é parte.
A confusão entre palavras e coisas pode parecer demasiado básica para constituir um obstáculo sério, mas pensar isso seria um erro. Ao longo da história da filosofia, tal confusão tem feito uma carreira infame. E continua a fazer.
A questão da verdade, um dos temas mais controversos e estimulantes da filosofia, cuja importância se estende aos problemas da teoria do conhecimento, da lógica, da lingüística e das ciências, é esmiuçada por Richard Kirkham nesta alentada “introdução crítica”.
O domínio da filosofia conhecido sob a designação de “metafísica” — como veremos mais adiante, à luz da concepção que propomos para a disciplina, esta designação e a designação de “ontologia” são aproximadamente co-extensionais — assume actualmente contornos algo imprecisos e difusos.
O filme Matrix apresenta-nos uma versão de uma velha fábula filosófica: um cérebro numa cuba. Um cérebro sem corpo flutua numa cuba que por sua vez está no laboratório de um cientista. O cientista encontrou maneira do cérebro ser estimulado com o mesmo tipo de inputs que um cérebro normal costuma receber quando está num corpo.
Segundo a concepção de Bob Hale (1997) e Ian McFetridge (1990), um dado domínio de possibilidades é relativo se, e só se, há outros domínios de possibilidades que o incluem mas são mais vastos. Outra concepção de possibilidade relativa assevera que um dado domínio de possibilidades é relativo se, e só se, do facto de uma proposição desse domínio ser possível não se infere que essa proposição é possível sem ressalvas, isto é, não se infere que há um mundo possível no qual essa proposição é verdadeira.
Não vou discutir aqui se temos ou não livre-arbítrio. Vou discutir algo mais básico: a definição de livre-arbítrio. Nós usamos o termo no dia-a-dia sem nos perguntarmos muito sobre qual a sua definição. Mas julgamos saber bem o que significa.
Sócrates poderia ter nascido no Egipto ou não ter bebido a cicuta, mas não poderia ter sido um automóvel ou um cartão de crédito. Ou pelo menos as nossas “intuições modais” — as nossas convicções pré-filosóficas sobre aquilo que é ou não possível — apontam neste sentido.
Lázaro — Aí vem a Carolina. Talvez ela nos possa dizer o que pensa sobre o assunto.
Daniel — Olá, Carolina.
Carolina — Olá, Daniel. Olá, Lázaro.
Lázaro — Eu e o Daniel estávamos a falar do julgamento por assassínio do Leopoldo e do Carlos.
O problema da verdade suscita uma das mais estimulantes e persistentes reflexões filosóficas, elegendo-se, sem dificuldade, como um dos temas perenes da filosofia.
Podemos distinguir três grupos de verdades necessárias: as necessidades lógicas, físicas e metafísicas. No primeiro grupo estão verdades como “Se Sócrates é grego, é grego”; no segundo, verdades como “Nenhum objecto viaja mais depressa do que a luz”; e no terceiro, verdades como “A água é H2O”.
Os universais são os hipotéticos referentes de termos gerais como “árvore”, “mesa” e “vermelho”, e consideramo-los entidades distintas de quaisquer das coisas particulares que podemos descrever com eles. Mas por que razão havemos de supor que tais entidades existem, e qual é a sua natureza, se é que existem realmente?