Alvin Ira Goldman nasceu na cidade de Nova Iorque, no dia 1 de Outubro de 1938, e morreu no dia 4 de Agosto de 2024. Concluiu a licenciatura na Universidade da Colúmbia em 1960. Concluiu depois as suas qualificações de pós-graduação na Universidade de Princeton: o mestrado em 1962, e o doutoramento em filosofia em 1965.
Um dos principais objetivos dos epistemólogos é oferecer uma abordagem substancial e explicativa das condições nas quais uma crença tem algum status epistêmico desejável (tipicamente, justificação e conhecimento). Do ponto de vista confiabilista, qualquer teoria epistemológica adequada terá de levar em conta a confiabilidade do processo responsável pela crença ou, de maneira mais geral, considerações acerca da verocondutibilidade.
O problema de indução que vou abordar neste texto é o problema de justificar a inferência: todos os F observados têm sido G; logo, todos os F são G. Este tipo de inferências é corrente no dia-a-dia. Por exemplo, todos os corvos observados têm sido negros, logo, todos os corvos são negros; todos os cisnes observados têm sido brancos, logo, todos os cisnes são brancos; todos os electrões observados têm-se repelido, logo, todos os electrões se repelem.
Um conjunto final de questões sobre a Perspectiva Padrão emerge da consideração da Perspectiva Relativista. Assim como a Perspectiva Naturalista e ao contrário da Perspectiva Cética, a Perspectiva Relativista não sugere exatamente que a Perspectiva Padrão seja falsa, mas antes que é incompleta e que não leva em conta considerações importantes.
Não poucos filósofos de admirável inteligência consideraram que o fato de normalmente não conseguimos ver de um objeto físico mais do que uma parte da sua superfície tem consequências paradoxais, ou seja, que dele decorre que a crença de “senso comum” segundo a qual podemos ver objetos físicos e, com base nisso, saber que há tais objetos tem de ser ou decididamente rejeitada ou substancialmente modificada.
A certeza é a propriedade de ser certo, que é uma propriedade psicológica de pessoas ou uma característica epistémica de objectos que são como que proposições (e.g., crenças, enunciados, afirmações). Podemos dizer que uma pessoa, S, está psicologicamente certa de que p (em que “p” está no lugar de uma proposição) desde que S não tenha quaisquer dúvidas de que p é verdadeira.
Dou comigo acreditando em todo o género de coisas a favor das quais não tenho provas: que fumar cigarros provoca o cancro do pulmão, que o meu carro está sempre a engasgar-se porque o carburador precisa de ser reconstruído, que a comunicação social é uma ameaça à democracia, que os bairros-de-lata provocam perturbações emocionais.
Este artigo identifica e elucida um vício epistémico que até agora não tinha nome: o descaso epistémico. Trata-se de uma falta de preocupação descontraída quanto à questão de as nossas crenças terem ou não alguma base na realidade ou de as melhores provas disponíveis as apoiarem ou não. O principal produto intelectual do descaso epistémico é a treta no sentido de Frankfurt.
Talvez o título do artigo seja recebido com grande surpresa ou mesmo incredulidade. A expectativa para título de um artigo sobre a indução em Hume seria algo como “O problema da indução proposto por Hume”. Mas isso não nos conviria. Imediatamente correríamos o risco, que desde já queremos evitar, de sermos mal interpretados.
René Descartes nasceu em 31 de março de 1596, na pequena cidade de La Haye, atualmente Descartes, em França. Em 1606 entrou para o colégio jesuíta de La Flèche, onde estudou gramática, retórica, dialética, matemática e filosofia escolástica, dominante na época, e que consistia num misto dos ensinamentos da Bíblia e da filosofia e ciência de Aristóteles.
Durante séculos, os filósofos debateram o modo como os seres humanos podem conhecer o mundo exterior. Os seus argumentos reflectiram uma preocupação quanto à validade das experiências sensoriais. Embora a nossa concepção do mundo derive da informação dos nossos sentidos, poder-se-á confiar nesses sentidos para conhecer a verdade?
É raro em filosofia chegar a consenso acerca de qualquer questão substantiva, mas durante algum tempo existiu um consenso quase completo sobre o que se designa “análise tradicional do conhecimento como crença verdadeira justificada”. De acordo com essa análise, S sabe que p se e só se 1) p é verdadeira, 2) S acredita que p; e 3) S está justificado em acreditar que p.
A distinção entre conhecimento por contacto e por descrição foi introduzida por Bertrand Russell em ligação com a sua célebre teoria das descrições. Consideraremos aqui apenas a versão epistemológica (que se distingue da lógica) da sua teoria.
Se há algo que parece certo, é o facto de adquirirmos conhecimento por meio dos nossos sentidos: visão, audição, tacto, sabor, cheiro. Como poderia alguém negar que temos tal conhecimento? Não estaremos a pressupor que o temos, mesmo ao fazer esta pergunta?
Que o mundo físico existe sem ser percepcionado é não apenas uma das nossas crenças mais profundamente enraizadas, como uma crença que nos sentimos completamente justificados ― não porque percepcionemos que existe não-percepcionado, o que seria uma contradição nos termos, mas porque não mostra em absoluto sinais de depender da percepção de alguém para que exista.
O que é o conhecimento? Antes de podermos responder a esta questão temos de determinar com exatidão o que estamos a dizer quando falamos em conhecimento, uma vez que a palavra tem vários significados e há vários tipos de conhecimento. Todo o conhecimento é uma relação entre um sujeito, o agente que conhece, e um objeto, aquilo que é conhecido.
O ceticismo, na sua versão mais extrema, é a ideia de que o conhecimento não é possível. Os céticos podem apresentar o seguinte argumento a favor da sua posição: Se S sabe que P, então não é possível que S esteja enganado acerca de P. É possível que S esteja enganado acerca de P. Portanto, S não sabe que P.
Muitos leitores que até este ponto concordaram com Berkeley talvez ergam as mãos ao céu por ele ter metido Deus em cena. Em primeiro lugar, Berkeley começou por dizer que a mente tem contacto apenas com as suas próprias ideias [experiências]. Se isto for verdadeiro, como podemos saber que existe um Deus que causa as experiências, já que Deus não é ele próprio uma das experiências?
Alguns pensam que Protágoras de Abdera pertence também ao grupo daqueles que aboliram o critério, uma vez que ele afirma que todas as impressões dos sentidos e todas as opiniões são verdadeiras e que a verdade é uma coisa relativa, uma vez que tudo o que aparece a alguém ou é opinado por alguém é imediatamente real para essa pessoa.
David Hume nasceu a 26 de Abril de 1711, em Edimburgo, numa família de pequenos proprietários rurais. A família pretendia que seguisse a carreira do pai, que tinha morrido quando ele tinha dois anos, e, por isso, com onze anos mandou-o estudar direito para a Universidade de Edimburgo. Hume sentiu uma grande aversão pelo estudo do direito e, em vez disso, dedicou-se exclusivamente à filosofia.
Górgias de Leontinos também pertenceu ao grupo daqueles que aboliram o critério, embora não tenha adoptado a mesma linha de ataque de Protágoras. Com efeito, no seu livro intitulado Acerca do Não-existente ou Acerca da Natureza, tenta estabelecer sucessivamente três pontos principais.
“Se todos os cães são mamíferos e todos os mamíferos são seres vivos, então todos os cães são criaturas vivas”. Isto é um argumento dedutivo: podemos deduzir logicamente a conclusão das premissas. Se as premissas são verdadeiras, a conclusão (logicamente) tem de ser verdadeira. Se todos os que estavam a bordo do navio morreram afogados e a Marisa estava a bordo do navio, então a Marisa morreu afogada.
Seguro neste envelope. Olho para ele e espero que todos olheis para ele. E agora baixo-o outra vez. Ora, o que aconteceu? Diríamos certamente (se olharam para ele) que vimos todos o envelope, que vimos todos o mesmo envelope. Eu vi-o e vocês também o viram. Vimos todos o mesmo objecto.
Uma das questões centrais da filosofia é: o que é o conhecimento e como se obtém? John Locke e os seus sucessores na tradição empirista defenderam que o fundamento do conhecimento contingente sobre o mundo se encontra na experiência sensorial — o uso dos cinco sentidos, ajudados quando necessário por telescópios e outros instrumentos semelhantes. Russell está de acordo com isto.
Sexto Empírico foi um cético grego da escola pirrônica e um médico clínico que viveu provavelmente durante o final do século II d.C. As datas exatas são controversas e os detalhes de sua vida praticamente desconhecidos; contudo, é a fonte mais importante de nosso conhecimento das filosofias céticas gregas antigas.
Sabemos muito. Sei qual é a comida que os pingüins comem. Sei que os telefones costumavam tocar a campainha, mas hoje em dia soltam sons estridentes quando alguém liga. Sei que Essendon ganhou a Grande Final de 1993. Sei que aqui está uma mão, e aqui está outra.
A filosofia analítica tem contribuído substancialmente para as discussões filosóficas atuais. E os avanços alcançados pelos filósofos analíticos não se encontram apenas nos problemas filosóficos discutidos contemporaneamente, mas também na história da filosofia. Este livro é um claro exemplo disso; como o próprio nome indica, é uma introdução realmente analítica à epistemologia de Kant.
O objetivo deste artigo é esboçar uma teoria da crença justificada. O que tenho em mente é uma teoria explicativa, uma teoria que explique de modo geral por que se considera que certas crenças são justificadas e outras injustificadas. Diferentemente de algumas das abordagens tradicionais, não tento prescrever padrões para a justificação que diferem ou aperfeiçoam os nossos padrões comuns.
O ceticismo moderno surgiu no século XVI com o renascimento do conhecimento e do interesse pelo antigo ceticismo pirrônico grego, que surge nos escritos de Sexto Empírico, e do ceticismo Acadêmico, apresentado em De Academica, de Cícero. O termo “cético” não foi usado na Idade Média e foi inicialmente apenas transliterado do grego.
Num ou noutro lugar — penso que é no prefácio a Saint Joan — Bernard Shaw comenta que somos hoje mais crédulos e supersticiosos do que o éramos na Idade Média, e como exemplo da credulidade moderna cita a crença muito difundida de que a Terra é redonda. O homem médio, afirma Shaw, não consegue apresentar uma só razão para pensar que a Terra é redonda.
Imagina que enfrentaste o cepticismo e superaste o desamparo em que ele queria deixar-te. Vais pressupor que sabemos algumas coisas. Mesmo que esse conhecimento seja trivial, isso basta para os nossos propósitos. Por exemplo, sabes que “a teoria de Darwin é tratada na página 99 do manual de Biologia”; se alguém te perguntar por que razão o sabes, a tua resposta será “porque consultei o manual”.
A palavra inglesa “evidence”, tal como é usada nos contextos filosóficos e não só, esconde subtilezas que dificultam a leitura e a tradução de estudantes e professores, assim como do grande público. Em diferentes contextos, pode-se traduzir “evidence” igualmente bem por “provas”, “dados”, “indícios” ou “informação”.
Um céptico radical pode objectar que a discussão acerca do conhecimento e da justificação é uma perda de tempo e de energia. Na sua opinião não há nenhuma crença suficientemente justificada para contar como conhecimento. A razão é que ele não está disposto a chamar conhecimento a qualquer proposição que pode ser objecto de dúvida. E está convencido que não há proposições imunes à dúvida.
A epistemologia é a disciplina filosófica que tenta fornecer respostas para questões relacionadas com a natureza e possibilidade do conhecimento, prioritariamente as seguintes: Qual a natureza das nossas crenças? Como podemos sustentar se são verdadeiras? O que seria necessário e suficiente para justificá-las?
Nos últimos anos fez-se várias tentativas para estabelecer as condições necessárias e suficientes para que alguém conheça uma dada proposição. Essas tentativas podem muitas vezes ser formuladas de modo semelhante ao seguinte: S sabe que P se, e só se, i) P é verdadeira, ii) S acredita que P e iii) S está justificado a acreditar que P.
A epistemologia evolucionista é uma abordagem naturalista à epistemologia que enfatiza a importância da seleção natural em dois papéis principais. No primeiro papel, a seleção é o que gera e mantém a confiabilidade dos nossos sentidos e dos nossos mecanismos cognitivos, assim como o “ajuste” entre esses mecanismos e o mundo.
Um céptico nega que sabemos aquilo que pensamos saber. Ele pode, contudo, limitar o seu cepticismo a um domínio vulnerável. Por exemplo, a maioria das pessoas pensa que tem conhecimento através dos sentidos.
Teremos maneira de saber se sabemos alguma coisa? O céptico defende que não. O problema pode parecer estranho; e, se o problema pode parecer estranho, a resposta céptica pode parecê-lo ainda mais. Muitas vezes temos boas razões para duvidar de que saibamos certas coisas; há, todavia, outras coisas de que nos parece difícil duvidar seriamente. Mas o céptico pensa ter um bom argumento.
Descartes começa com dúvidas moderadas que outros argumentos cépticos tinham tornado familiares. E observa: “os meus sentidos por vezes enganam-me, e é prudente nunca confiar completamente naqueles que nos enganam uma vez que seja”.
A reflexão sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de desconcertantes problemas filosóficos, que constituem o tema da teoria do conhecimento, ou epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como devem ser resolvidos ou, no caso de tal não ser possível, abandonados.
Qualquer pessoa tem várias crenças. Acreditas que o mundo é redondo, que tens um nariz e um coração, que 2 + 2 = 4, que há muita gente no mundo, algumas como nós outras não. Quase toda a gente está de acordo com estas crenças. Mas também há discordâncias. Algumas pessoas acreditam que há um Deus, e algumas não.
A todo o momento formas expectativas acerca de como será o futuro ou sobre que generalizações (afirmações com a forma “Todos os As são B”) são verdadeiras com base em dados que não são dedutivamente conclusivos. As tuas crenças acerca do futuro baseiam-se na percepção e na memória, mas não podes deduzir como será o futuro de premissas que descrevem o presente e o passado.
Um dos ramos mais antigos e fascinantes da filosofia é a teoria do conhecimento. Sempre aberta a problemas e apoiando-se em terreno movediço, não teme explorar novos horizontes e suscitar incômodos questionamentos em áreas supostamente sólidas. Por isso mesmo é difícil encontrar alguma obra que, sem desprezar o rigor, trate-a com clareza didática e objetividade.
O que é a epistemologia? A resposta é: o ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento humano, pelo que também é designada de “teoria do conhecimento”. Só que isto diz-nos quase nada. Por que temos necessidade de uma teoria do conhecimento? E ela é uma teoria acerca de quê, e como é que a defendemos (ou contestamos)? Aliás, o que implica dizer que a epistemologia é um ramo da filosofia?
A epistemologia é o estudo do nosso direito às crenças que temos. De modo mais genérico, começamos com o que poderíamos chamar “posturas cognitivas”, indagando se agimos bem ao manter estas posturas. As posturas cognitivas incluem tanto a crença quanto o (que pensamos ser) conhecimento.
No quotidiano falamos de conhecimento, de crenças que estão fortemente apoiadas por dados, e dizemos que elas têm justificação ou que estão bem fundamentadas. A epistemologia é a parte da filosofia que tenta entender estes conceitos. Os epistemólogos tentam avaliar a ideia, própria do senso comum, de que possuímos realmente conhecimento.