A discussão da alma (psukhḗ) levada a cabo por Aristóteles na sua obra Sobre a Alma (De Anima) pertence à parte da sua filosofia da natureza que trata das coisas vivas. Aristóteles considera a alma um princípio de vida e pensa, portanto, que todas as coisas vivas, incluindo as plantas, têm alma.
Feche os olhos e pegue num objeto à sua frente. Abra-os agora e tente identificar qual foi o objeto em que pegou. Fácil, não? Para adultos humanos a transferência perceptual da modalidade visual para a tátil é natural. E é também fácil para bebês humanos, que já com apenas um mês de vida conseguem selecionar a imagem de uma chupeta depois de a terem chupado às cegas.
Stu acabou de chegar, depois de mais uma sessão do torneio de xadrez, onde perdeu, frente ao computador Fischkov III.
Stu: Detesto perder, especialmente com os computadores. Como podem eles pensar melhor do que eu se na realidade nem sequer podem pensar?
Phil: Tens assim tanta certeza que não podem pensar? Talvez existam mais coisas que podem pensar do que pensas.
A preocupação de John Locke quanto à identidade pessoal encerra uma dimensão interessante: centra-se na noção de pessoa, escolhida para evitar que o princípio da continuidade da identidade dependa do corpo, que cresce, muda e envelhece, e que pode ser afetado por, digamos, um acidente, em que as memórias, caráter e propósitos associados àquele indivíduo poderão desaparecer e ser completamente substituídos, ainda que o corpo seja o mesmo.
Criador do termo “População neuronal” ou “Rede neural”, o psicólogo canadense Donald Hebb revolucionou o campo da psicofisiologia com tais noções. Perceber para Hebb é “treinar” reiteradamente uma rede neural no reconhecimento de um objeto, ou seja, pela experiência.
Quando os avanços científicos vão contra as intuições do “senso comum”, as ideias a que nos habituámos subsistem frequentemente, não só para além da sua utilidade ultrapassada, mas até mesmo confundindo os cientistas cujas descobertas as deviam ter destronado.
Os sistemas nervosos humanos apresentam um número impressionante de capacidades complexas nas quais se incluem percepcionar, aprender e recordar, planear, decidir, praticar acções, bem como as capacidades de estar desperto, adormecer, sonhar, prestar atenção e estar consciente.
A experiência consciente é ao mesmo tempo a coisa que melhor conhecemos no mundo e a mais misteriosa. Não há nada que conheçamos de forma mais directa do que a consciência mas é incrivelmente difícil conciliá-la com o resto dos nossos conhecimentos. Porque é que existe? O que faz? Como é possível que nasça de processos neuronais no cérebro?
O tipo de indícios de que nos servimos para inferir aquilo que os outros pensam não é nenhum segredo: observamos as suas acções, lemos as suas cartas, estudamos-lhes as expressões, ouvimos aquilo que dizem, ficamos a saber as suas histórias e observamos as suas relações com a sociedade.
Os avanços em neurociência e ciência cognitiva das últimas décadas sugeriam inicialmente que em breve resolveríamos (ou dissolveríamos) completamente o antigo problema filosófico das relações entre corpo e mente. No entanto, a “década do cérebro” (1990–1999) encerrou-se sem satisfazer as promessas e as esperanças mais básicas que a animavam.
Mary está fechada num quarto preto e branco, é educada por meio de livros a preto-e-branco e de aulas transmitidas numa televisão a preto-e-branco. Deste modo, aprende tudo o que há para conhecer sobre a natureza física do mundo.
Em “Identity and Necessity” e Naming and Necessity, Saul Kripke apresenta argumentos contra três formas de materialismo.
Eis um ótimo livro para o leitor brasileiro que procura uma primeira aproximação à filosofia da mente de Daniel Dennett. Os temas abordados são a mente, a consciência e a psicologia, formando, juntamente com a conclusão, os quatro capítulos do livro.
A teoria representacional da mente pressupõe erroneamente que todos os estados mentais são intencionais. Mas há estados mentais, como dores e emoções, que claramente não o são. Se considerarmos a parte cognitiva da mente (estados mentais como crenças, desejos, intenções — as chamadas atitudes proposicionais), a teoria representacional da mente parece estar bem: esses estados são intencionais.
A sobreveniência é uma relação de determinação, que amiúde se supõe verificar entre características físicas e características mentais. Em filosofia da mente, usa-se por vezes o conceito de sobreveniência para articular a tese do fisicismo.
A teoria da identidade mente-corpo floresceu brevemente nos anos cinquenta e princípios dos anos sessenta do século XX, e sofreu, ainda incipiente, um ataque de Putnam com o argumento da realização múltipla — ataque de tal forma brutal que muitos pensam que está moribunda senão mesmo morta e enterrada. Neste breve artigo quero apresentar ao leitor uma forma deste argumento.
Era uma vez um dualista. Ele acreditava que a mente e a matéria são substâncias separadas. Como é que interagiam ele não alegava saber — este era um dos “mistérios” da vida. Mas estava seguro de que eram substâncias realmente separadas.
O fisicismo é a doutrina de que tudo o que existe no mundo espaciotemporal é uma coisa física, e que toda a propriedade de uma coisa física ou é uma propriedade física ou uma propriedade que está de algum modo intimamente relacionada com a sua natureza física. Formulada assim, a doutrina é uma afirmação ontológica, embora tenha importantes corolários epistemológicos e metodológicos.
Na atualidade o estudo da consciência ocupa uma posição cada vez mais significativa em diversas áreas como a filosofia, psicologia, ciências cognitivas e neurociência. É nessa linha de estudo que nos deparamos com este excelente livro de filosofia da mente, baseado em uma série de artigos de John Searle, um dos mais influentes e prestigiados filósofos contemporâneos.
Este livro reúne uma série de artigos de algumas das leading figures da investigação em ciência cognitiva acerca do papel das emoções no comportamento humano, em particular na racionalidade prática. Desde Platão até aos nossos dias a ideia dominante (sobretudo no ocidente) é de que as emoções são um entrave ao comportamento racional dos seres humanos.
Os leitores que se maravilharam com O Paradigma Perdido, de Edgar Morin (Europa-América), ou Os Dragões do Éden, de Carl Sagan (Gradiva), precisam de descobrir Steven Mithen. Jovem professor da Universidade de Reading, tem já no seu currículo vários artigos de investigação e dois livros muitíssimo influentes.
Pretendo abordar o tema da intencionalidade e algumas de suas implicações, tarefa que, reconheço, não é das mais amenas em filosofia. Partirei assim da idéia-força de Franz Brentano sobre a natureza dos estados psicológicos, idéia em evidência junto à escola analítica desde a década de 60.
Susan Greenfield é professora de Farmacologia, Medicina e Física em três universidades inglesas, tem-se afirmado como uma neurocientista de relevo e ainda consegue encontrar tempo para a divulgação científica. Além de ter realizado em 1994 as célebres Royal Institution Christmas Lectures, fundadas por Michael Faraday, nos anos seguintes deu regularmente conferências introdutórias sobre o cérebro.
O argumento de Kripke contra o materialismo tipo-tipo é um argumento contra a tese segundo a qual os tipos mentais são idênticos a tipos físicos (por exemplo, a dor é oscilação no tálamo cortical. O que exemplifica a propriedade de ser uma dor exemplifica necessariamente a propriedade de ser uma oscilação no tálamo cortical).
A consciência é o que faz do problema da relação mente-corpo um problema verdadeiramente intratável. É por essa razão, talvez, que as discussões mais recentes acerca do problema da relação mente-corpo lhe dão tão pouca importância ou o deturpam de uma forma evidente.
Entre os filósofos e os psicólogos experimentais, o behaviorismo pode assumir duas posturas básicas, que vamos denominar behaviorismo crítico e behaviorismo programático. O behaviorismo crítico se opõe ao dualismo mentalista tradicional, a partir de Descartes, segundo o qual a mente humana é de outra natureza, diferente e independente do corpo.
Uma das partes menos saudáveis da infeliz herança romântica e irracionalista, tantas vezes acriticamente admitida sem discussão, é a da suposta oposição entre a razão e a emoção. Dylan Evans faz bem em recordar Mr. Spock, dos filmes Star Trek, como uma das incarnações deste mito romântico às avessas.
Dennett começa por dizer que é “um filósofo e não um cientista, e os filósofos são melhores a fazer perguntas do que a dar respostas […] Encontrar melhores perguntas e quebrar velhos hábitos e tradições de formulação de perguntas é uma parte muito difícil do grandioso projecto humano de nos compreendermos melhor a nós e ao mundo”.
O último livro de António Damásio é já um enorme sucesso entre nós: numa semana venderam-se 10 mil exemplares, ultrapassando todas as expectativas. Isto é curioso porque não se trata de um livro acessível ao grande público.
Os problemas da filosofia da mente e das ciências da cognição são hoje em dia extremamente estimulantes por procurarem estudar fenómenos que até há pouco tempo muitas pessoas consideravam que estavam para além do alcance da ciência.
Os cães são feitos de carne e osso como nós. Podem eles pensar? Podem atribuir significado às coisas através daquilo que “dizem”? Será que dizem alguma coisa? Poderão mentir? Serão demasiado honestos para isso? Tentar fornecer uma resposta séria a estas questões leva-nos a compreender algumas das complexidades do que significa para os seres humanos ter uma linguagem na qual mentir é possível.