Talvez seja melhor pensar no argumento ontológico não como um único argumento mas como uma família de argumentos, em que cada membro começa com um conceito de Deus e, apelando apenas a princípios a priori, procura estabelecer que Deus existe efectivamente. Nesta família de argumentos, o mais importante historicamente é o apresentado por Anselmo no segundo capítulo do seu Proslogium (um discurso).
A oração é, ao que parece, uma característica proeminente de todas as religiões. As pessoas quando rezam visam contato ou comunicação com entidades ou pessoas especiais, tais como Deus, deuses, antepassados, ou ainda seres humanos exemplares, os quais possuiriam, segundo se crê, algum estatuto especial.
Anselmo nasceu em Aosta, na Itália, em 1033 ou 1034, e morreu em 1109, com 75 ou 76 anos. É também conhecido como “Anselmo da Cantuária”, porque foi arcebispo dessa província, sucedendo a Lanfranc. Mas foi como monge, no mosteiro beneditino de Nossa Senhora de Bec, situado no que é hoje o norte de França, que escreveu, por volta dos 44 anos, aquela que é talvez a sua mais influente obra: Proslogion (1077–1078).
A primeira pergunta que deve ocorrer a alguém que pegue no presente livro pela primeira vez é: o que é o Tomismo Analítico? É uma ótima pergunta, mas não é de fácil resposta. A primeira parte da pergunta é, talvez, um pouco mais fácil de responder do que a segunda, pois “Tomismo” pode ser mais facilmente identificado como se referindo a um corpus particular de pensamento, a saber, o pensamento de Tomás de Aquino e a subsequente interpretação das suas ideias.
Durante séculos, o entendimento cristão dominante da mensagem do evangelho era a teologia da substituição. Deste ponto de vista, o Novo Testamento é a história em que o ressequido legalismo judaico é conquistado pela fé cristã viva, alegre e plena de graça. A teologia da substituição persiste em alguns círculos, mas é falsa.
Os seus defensores filosóficos têm tentado habitualmente mostrar que a fé não está em conflito com a razão: que é internamente consistente, que está em harmonia com o conhecimento científico, ou até, mais positivamente, que algumas das suas posições podem ser estabelecidas de maneira independente por meio de raciocínio filosófico.
A fé tornou-se um tópico de discussão na tradição filosófica ocidental devido à sua proeminência no Novo Testamento, no qual os autores exortam a que se tenha fé ou se passe a tê-la. O Novo Testamento faz por sua vez eco tanto de conceitos helenísticos de fé como de tradições bíblicas mais antigas, especificamente a de Abraão, no Livro do Génesis.
Uma das principais questões discutidas desde o iluminismo é a de saber se a crença religiosa — a crença cristã, digamos — é racional, ou razoável, ou aceitável, ou justificada. A epistemologia reformista é uma posição na epistemologia da crença religiosa.
A filosofia da religião tem como objectivo investigar por processos estritamente racionais as crenças religiosas fundamentais, com o fim de determinar o seu significado e de saber se são justificadas.
Muito do que as pessoas fazem é em nome de Deus. Os irlandeses mandam-se uns aos outros pelo ar em nome de Deus. Os árabes mandam-se a si próprios pelo ar em nome de Deus. Os imãs e os aiatolas oprimem as mulheres em nome de Deus. Os papas e os padres celibatários destroçam a vida sexual das pessoas em nome de Deus. Os shohets judeus cortam a garganta de animais vivos em nome de Deus.
O objectivo deste texto é expor tanto a versão como as objecções clássicas ao argumento do desígnio e introduzir os seus desenvolvimentos contemporâneos, sobretudo os que dependem das ideias de ajuste perfeito, princípio antrópico e complexidade irredutível.
A religião é um fenómeno complexo, que tem simultaneamente um aspecto individual e um aspecto social. No início dos tempos históricos a religião era já uma coisa velha; e ao longo de toda a história, o crescimento da civilização tem sido correlato com uma diminuição da religiosidade.
Nesta lição desejo descrever algumas das provas principais que levam os biólogos a pensar que a hipótese da evolução é correcta. Enquanto S. Tomás de Aquino, William Paley e outros, defendem que a complexidade e adaptabilidade dos organismos só podem ser explicadas se as virmos como o produto do desígnio inteligente, a teoria da evolução moderna defende o contrário.
Como afirmou o vosso presidente, o tema que irei versar esta noite é Por que não sou cristão. Convém, de início, procurar estabelecer o que se entende pela palavra cristão. Ela é usada nos nossos dias num sentido vago por um grande número de pessoas. Alguns aplicam-na a todo aquele que procura levar uma vida virtuosa.
O problema objectivo consiste numa investigação acerca da verdade do cristianismo. O problema subjectivo diz respeito à relação do indivíduo com o cristianismo. Para pôr as coisas de forma simples: como é que eu, Johannes Climacus [Kierkegaard], posso participar da felicidade prometida pelo cristianismo?
É racional acreditar na existência do Deus comum? Poderá apresentar-se uma boa razão ou um argumento irresistível a favor da sua existência? Alguns teístas dizem que não e baseiam a sua crença na fé, ou seja, acreditam sem provas ou razões. Outros teístas, pelo contrário, pensam que se podem construir argumentos para provar que o Deus comum existe.
As razões para acreditarmos que há um Deus existem desde que existem pessoas que sustentam esta crença; e os filósofos tentaram transformar estas razões em “argumentos” com uma forma mais rigorosa desde que existem filósofos.
Que a corrupção do melhor gera o pior tornou-se uma máxima comumente demonstrada, entre outros exemplos, pelos efeitos perniciosos da superstição e do entusiasmo, as corrupções da religião verdadeira.
A ciência empírica ocidental moderna tem certamente sido o desenvolvimento intelectual mais impressionante desde o século XVI. A religião tem marcado presença desde há bastante mais tempo, é claro, e está hoje em crescimento, talvez como nunca o esteve antes.
A epistemologia da crença religiosa é uma área da filosofia da religião que procura responder ao seguinte problema: haverá justificação para se ter fé sem provas, argumentos ou indícios? Ou formulando de outra forma: será epistemicamente legítimo acreditar em Deus sem provas, argumentos ou indícios?
Até agora tenho considerado que a questão de saber se Deus existe é perfeitamente dotada de sentido. Pode ser difícil respondê-la, mas presumi que há uma resposta. Teístas, ateus e agnósticos estão de acordo com isto. Admiti que a frase “Deus existe” diz algo; a questão é saber se o que diz é verdadeiro, e se podemos conhecer esse algo.
Neste ensaio discute-se o problema de saber como pode Deus ser onisciente e os seres humanos terem livre-arbítrio. A posição defendida é a de que se Deus existe, então não sabe nem influencia previamente que escolhas faremos e que, portanto, a sua onisciência não é incompatível com o livre-arbítrio (que neste trabalho é usado como sinônimo de liberdade de escolha).
No Proslogium, Anselmo de Aosta (1033–1109) apresentou um dos mais importantes argumentos a favor da existência de Deus da história da filosofia: o argumento ontológico. Este argumento sustenta a existência de Deus recorrendo unicamente a premissas conhecíveis a priori.
Eis uma cadeia de raciocínio familiar, e que de facto foi formulada por diferentes filósofos, nomeadamente Leibniz: para explicar seja o que for temos de recorrer a outras coisas. Um ovo existe porque a galinha o pôs, a galinha existe porque veio de outro ovo, e assim por diante. Como explicar de maneira completa, então, a existência da realidade?
Neste livro, o conhecido astrónomo e divulgador Carl Sagan (1934–1996) apresenta algumas reflexões importantes sobre a religião. O título da obra faz referência ao clássico As Variedades da Experiência Religiosa (1902), de William James, e, como este, baseia-se nas prestigiadas Palestras Gifford, da Universidade de Edimburgo.
A seguinte história, da autoria da falecida Lois Grave, foi encontrada entre os seus papéis após o seu suicídio e foi primeiro publicada pela Eastview State Press numa colecção intitulada Ensaios Filosóficos e Histórias. É aqui reeditada com permissão da Eastview State Press e de Clarence Grave, o pai de Lois.
Há alguns anos, sem me aperceber das possíveis consequências, aceitei o convite de um colega judeu para jantar na noite de sexta-feira. Devo dizer que o meu colega nunca me pareceu particularmente ortodoxo e que além disso teria conhecimento de que sou ateu. Contudo, durante a refeição, fizeram menção de cumprir um certo ritual, no qual esperavam que participasse — algo que envolvia colocar um chapéu.
David Hume (1711–1776) foi um dos mais influentes filósofos e um dos intelectuais que mais marcou o nosso tempo. Escocês refinado, homem de letras, não teve lugar na universidade do seu tempo — como tantos outros numa altura em que as universidades não contratavam as pessoas pelas suas competências académicas, mas pelas suas filiações religiosas e pelas suas opiniões favoráveis ou não ao sistema vigente.
Exactamente oitenta anos após o processo de Dayton, Tennessee, que ficou conhecido como o John Scopes “monkey trial”, a história está prestes a repetir-se. Numa sala de audiências em Harrisburg, Pennsylvania, desde fins de Setembro cientistas e criacionistas travam uma luta para saber se e como os estudantes do liceu, em Dover, irão aprender a respeito da evolução biológica.
Autor de grandes obras filosóficas como o Tratado da Natureza Humana (1739-40), Investigação Sobre o Entendimento Humano (1748) e Investigação Sobre os Princípios da Moral (1751), David Hume (1711–1776) é também autor de vários escritos sobre religião, nos quais se opõe, em praticamente todos os pontos, à ideologia religiosa predominante em seu tempo.
De uma forma geral um criacionista é uma pessoa que acredita num deus, criador absoluto de tudo o que existe no universo, a partir de nada, num acto de livre-arbítrio. Considera-se geralmente que esta divindade está num estado de permanente envolvência com a sua criação (é “imanente”), pronta a intervir se necessário, e sem o seu constante cuidado relativamente à obra esta deixaria de existir.
Charles Darwin manteve A Origem das Espécies na gaveta por 20 anos. Temia chocar a mentalidade religiosa de seus contemporâneos: a teoria da evolução demonstrava, afinal, que o homem é apenas um animal entre outros e, como todos os outros, evoluiu a partir de formas simples, através da seleção natural.
Fiquei na garagem. Não queria ir para dentro de casa. Também não queria ir para a rua. Por isso, sentei-me na minha maleta e li “Os Protocolos dos Anciões de Tralfamadore” na Black Garterbelt. Era sobre feixes de energia inteligentes com triliões de anos de luz de comprimento. Eles queriam que a vida mortal auto-reprodutora se espalhasse pelo Universo.
Neste ensaio, apresento, analiso e discuto um dos argumentos mais utilizados pelos teístas para defender a existência de Deus — o argumento do desígnio.
O mundo em que vivemos está repleto de coisas más. Dor, fome, pobreza, tristeza, guerras, catástrofes e muitas outras coisas. Faz-nos pensar “Se eu fosse Deus, acabaria com tudo isso e faria um mundo melhor!” Dizem que Deus é criador, bom, omnipotente e omnisciente.
Neste artigo apresento duas objecções ao artigo “O Problema do Mal”, de Jaime Quintas, publicado na “Crítica”. A primeira, mais forte, procura mostrar que o argumento de Quintas é incoerente. A segunda, mais fraca, procura mostrar que o argumento de Quintas se baseia numa concepção deficiente de “impossibilidade” — concepção que, uma vez corrigida, derrota o argumento original.
Neste trabalho, analiso o problema do mal na perspectiva teísta de Richard Swinburne e na perspectiva ateísta de John L. Mackie. Analiso os argumentos apresentados por estes dois filósofos para explicar este problema, bem como as conclusões a que ambos chegam. Ao analisar os argumentos não posso deixar de os examinar e discutir, levantando objecções sempre que tal se justificar.