Quando avaliamos os protestos nas sociedades democráticas, a não-violência não é o único critério que deve ser ponderado. O princípio da proporcionalidade pode servir como um guia útil para os factores que os manifestantes devem considerar, permitindo-nos defender o direito de protestar e, ao mesmo tempo, especificar as responsabilidades éticas dos manifestantes.
Quando os alemães fizeram seu rápido avanço pela Bélgica no começo do verão de 1940, capturaram, entre outras coisas, Mr. P. G. Wodehouse, que, durante toda a parte inicial da guerra, tinha vivido em sua casa de campo em Le Touquet e até ao último momento parece não ter percebido que estava em perigo. Enquanto era levado para o cativeiro, terá comentado que “depois disto, talvez escreva um livro sério”.
Uma vez instaurada a democracia, que trabalho resta ao filósofo político? Numa perspectiva optimista, mal temos um processo democrático de tomada de decisões, o trabalho fundamental do filósofo político chegou ao fim. Todas as decisões podem agora ser deixadas ao funcionamento justo da máquina eleitoral. Infelizmente, mesmo sendo a democracia o melhor sistema que podemos conceber, não é solução para tudo. E Mill afirma que tem os seus perigos próprios: a ameaça da ditadura da maioria.
Desde a década de oitenta que o professor de filosofia Aleksandr Dugin acredita que o destino manifesto da Rússia é um poder cristão ortodoxo e imperial inteiramente diferente do liberalismo ocidental, e completamente na sua contramão. Em pessoa, o rosto estriado e barbudo de Dugin e a sua fogosa autoconfiança, fazem dele uma encarnação moderna de um starets, ou homem sagrado, de um romance de Tolstoi.
Em 29 de Dezembro do ano passado, Hasan Gokal, o director clínico da equipa de resposta à COVID–19 no Condado de Harris, no Texas (que inclui Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos em termos de população), supervisionava a administração da vacina da Moderna, na sua maior parte a trabalhadores de serviços de urgência.
Acautele-se o leitor que decida abrir Facfulness, o livro onde Hans Rosling condensou a sua experiência de uma vida como médico, investigador, professor e reputado conferencista de Saúde Internacional, com a colaboração do filho Ola e da nora Anna, que se encarregaram mais especificamente da análise de dados, dos gráficos e das explicações visuais!
O governo representativo é um fenómeno relativamente recente: não tem mais de um século e meio. Isto significa que, durante muito tempo, a teoria democrática foi essencialmente especulativa, alimentada por muito romantismo e boas intenções. Hoje, porém, dispomos de resultados que vêm da experiência; e isso justifica, no mínimo, que a teoria democrática deve ser confrontada com os factos.
A publicação do Manifesto do Partido Comunista (1848), escrito por Marx e Engels, pode considerar-se o ato que, simbolicamente, inaugura um dos mais importantes movimentos sociais, políticos, ideológicos… e filosóficos dos últimos séculos: o movimento comunista.
O Iluminismo Agora, de Steven Pinker, apresenta uma defesa poderosa da ideia de que em todas as métricas as condições de vida dos seres humanos melhoraram persistentemente nos últimos duzentos anos. Esta melhoria pode ser atribuída não apenas à difusão dos princípios do iluminismo anunciados no século XVIII, mas também às propriedades evolutivas da mente humana, que a modernidade libertou.
Enquanto as crianças morrem de fome na Venezuela, reaparece uma saída antiga: isso não é socialismo de verdade! Uma versão desta resposta alega que o socialismo exige que os trabalhadores controlem diretamente os meios de produção. Assim, por mais que o governo venezuelano tenha colocado mais de 500 companhias sob o controle estatal, tal sistema é considerado “capitalismo de estado” e não socialismo.
A pergunta central que anima o pensamento liberal é: como as pessoas podem viver conjuntamente como livres e iguais? Essa pergunta vem sendo revigorada pelo surgimento do que podemos chamar de liberalismo neoclássico.
Quando era graduando, acreditava que a prevalência do positivismo nas ciências sociais — a ideia de estudar os fenômenos sociais de modo “objetivo” e “sem valores” — era um dos grandes males do mundo. Não se tratava apenas de uma ilusão, mas sim de uma ilusão perigosa, porque sob o disfarce da objetividade se escondiam planos secretos, nomeadamente um interesse na dominação.
Pode ser compreensível e de aplaudir que as pessoas que vivem hoje nas nações mais prósperas fiquem muitas vezes chocadas com os padrões de vida muitíssimo inferiores nos países do terceiro mundo, ou com a maneira como vivem as pessoas menos afortunadas da sua própria sociedade.
Catharine MacKinnon é uma figura emblemática na vida e no direito americanos. Durante vários anos ela e a sua colaboradora mais recente, Andrea Dworkin, foram as porta-estandartes do feminismo antiliberal, e como advogada, autora e professora tem tido um impacto explosivo.
Era o ano 2081, e toda a gente era finalmente igual. Não apenas perante Deus e a lei. Igual em todos os aspectos. Ninguém era mais inteligente. Ninguém era mais bem parecido. Ninguém era mais forte ou rápido. Toda esta igualdade era devida às 211.ª, 212.ª e 213.ª emendas constitucionais, e à vigilância incessante dos agentes da Direcção-Geral Incapacitante dos Estados Unidos.
O Mangas considerava-se um homem de bem. Naquela manhã, porém, ao sair de casa, sentiu o chão fugir-lhe por baixo dos pés: ao correr da parede, até aí imaculada, um graffiti anunciava: “O Mangas usa ceroulas”. Por baixo: “Almeida Trigueiros”.
Sempre que nos informamos de acontecimentos que abalam o mundo, de catástrofes ou massacres, tendemos não apenas a sentir vergonha (bem rapidamente) das preocupações rabugentas que temos com nossos problemas secundários, mas também a questionar o valor mais geral de todas as nossas atividades.
Este verbete tem como foco seis perguntas de grande importância a respeito da ética e da racionalidade do ato de votar: 1) Do ponto de vista de um cidadão individual, é racional votar? 2) Há um dever moral de votar? 3) Há obrigações morais a respeito de como os cidadãos votam?4) É justificado os governos obrigarem os cidadãos a votar?
O pacifismo é a teoria segundo a qual o intercâmbio humano deve ser governado por relações pacíficas e não por relações violentas ou beligerantes e que a arbitragem, a rendição ou a migração devem ser usadas para resolver disputas.
As regras da conduta justa enquadram-se nos dois amplos princípios da discriminação e da proporcionalidade. O princípio da discriminação diz respeito a quem constitui um alvo de guerra legítimo, ao passo que o princípio da proporcionalidade respeita à quantidade de força que é moralmente apropriada.
O realismo político é uma teoria de filosofia política que tenta explicar, modelar e prescrever as relações políticas. Parte do pressuposto que o poder é (ou deve ser) o fim primeiro da acção política, seja na arena doméstica seja na arena internacional.
Se você é homem e tem acesso à internet, é certo que já consumiu conteúdo pornográfico ao menos uma vez na vida. É o que afirma um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá. Além disso, pensa provavelmente que a pornografia é um assunto privado. Portanto, ninguém tem nada a ver com o que você assiste, vê ou escuta e nem com quem produz esse material.
O conceito de direitos humanos é uma pedra angular da nossa humanidade. Tais direitos não são concedidos porque se é cidadão de um país ou se pertence a uma nação, mas pertencem por direito a toda a humanidade. Isso diferencia-os, em consequência, dos direitos criados constitucionalmente, garantidos a pessoas determinadas (por exemplo, os cidadãos americanos ou franceses).
[No pensamento liberal], a cidadania é um “estatuto”, um estatuto que se procura e que, uma vez atingido, deve ser mantido. Uma diferença fundamental entre o mundo ocidental moderno e as épocas anteriores, radica na dificuldade de saber quem pode legitimamente considerar-se cidadão.
A democracia deliberativa afirma a necessidade de justificar as decisões tomadas pelos cidadãos e pelos seus representantes. Espera-se que ambos justifiquem as leis que querem impor uns aos outros. Numa democracia, os líderes devem dar razões que justifiquem as suas decisões e responder às razões que, por sua vez, são apresentadas pelos cidadãos.
Na última semana escrevi reclamando de como os jornalistas tendem a usar o termo indiferenciado “politicamente correto” para descrever um grupo complexo de comportamentos que podemos encontrar na academia contemporânea.
Pode um governo proibir legitimamente os cidadãos de publicar ou ver pornografia, ou seria isto uma violação injustificada das liberdades básicas?
Em 1799, o primeiro presidente dos EUA, George Washington, adoeceu do que hoje se pensa ter sido uma infecção na epiglote de sua garganta, que se trata de uma infecção rara, porém séria, que pode levar ao bloqueio da passagem de ar e eventualmente à asfixia. Seu amigo e médico pessoal o atendeu, juntamente com dois médicos de consulta.
Poucos pensadores ilustram melhor as contradições do capitalismo contemporâneo do que Slavoj Žižek, o filósofo esloveno e teorizador da cultura. A crise financeira e económica demonstrou a fragilidade do sistema de mercado livre que os seus defensores consideravam ter triunfado na guerra fria.
Embora Jason Stanley a descreva como “um livro sobre a natureza da propaganda”, o principal objetivo da obra é político: desenvolver um argumento contra a desigualdade material. Ele argumenta que, embora oculta, há em todo lugar um tipo de propaganda a ameaçar as democracias liberais, sustentada, acima de tudo, pelas desigualdades materiais.
Talvez a característica mais marcante no que se refere à política é o quão ela é suscetível de discordância – apenas a religião e a ética competem com a política enquanto fonte de desacordo. Há três características principais das discordâncias políticas que quero apontar: (i) são muito difundidas.
É um sinal da rapidez com que os acontecimentos estão se sucedendo o fato de a edição sem cortes de Mein Kampf, de Hurst e Blackett, publicada há apenas um ano, ser editada de um ângulo pró-Hitler. A intenção óbvia do prefácio e das notas do tradutor é atenuar a ferocidade do livro e apresentar Hitler de um modo tão gentil quanto possível. Pois naquela data Hitler ainda era respeitável.
A posição do escritor numa era de controle estatal é um assunto já amplamente discutido, embora a maior parte dos dados que podem ser relevantes não estejam ainda disponíveis. Não quero expressar aqui qualquer opinião a favor ou contra o patrocínio estatal das artes, mas apenas ressaltar que o tipo de estado que nos governa tem de depender parcialmente da atmosfera intelectual dominante.
“Cidadania” é um termo cujo significado filosófico difere do seu uso quotidiano. No discurso quotidiano, a cidadania é entendida como sinónimo de “nacionalidade”, referindo-se ao estatuto legal das pessoas enquanto membro de um país em particular. Ser um cidadão implica ter certos direitos e responsabilidades, mas estes variam imenso de país para país.
Byron usa algures a palavra francesa longueur e, de passagem, comenta que embora na Inglaterra por acaso não tenhamos a palavra, temos a coisa em considerável profusão. Do mesmo modo, existe agora um hábito mental tão disseminado que chega a afetar a nossa maneira de pensar sobre quase todos os assuntos, mas para o qual nenhum nome ainda foi dado.
Há uma entidade chamada “estado” que pode tomar o seu dinheiro, decidir quais tipos de medicamentos poderá usar e, eventualmente, desalojá-lo para que se construa uma avenida exatamente no local onde fica a sua casa. Alguns funcionários dessa entidade, tipicamente eleitos pelos votos de uma parte das pessoas, vivem de criar regras acerca do que todas as pessoas podem e não podem fazer.
Para que as pessoas sejam agentes morais, para que sejam capazes de realizar escolhas sobre o que fazer com as suas vidas, precisam de ser soberanas, precisam de autoridade pessoal, de liberdade. Essa liberdade, tal como é entendida na tradição política liberal (clássica) ocidental e, em particular na americana, é inseparável da liberdade económica e do princípio do direito à propriedade privada. Porquê?
Em 1689 e 1690, logo após a revolução de 1688, escreveu Locke os dois Tratados do Governo, dos quais o segundo tem especial importância na história das ideias políticas.
Desde a viragem do século — e para referir apenas as guerras mais importantes —, o mundo já viu surgir a guerra do Afeganistão (entre os Estados Unidos e o governo afegão, por um lado, e os Talibã e a al-Qaeda, por outro), a guerra civil do Chade (na qual rebeldes chadianos e mercenários sudaneses tentam depor o presidente), a guerra do Darfur (entre a região sudanesa do Darfur e o governo sudanês).
O texto que se segue mostra o contributo da filosofia para o esclarecimento e solução de problemas reais — como, neste caso, os problemas associados à legislação sobre o casamento e a adopção por parte de casais de pessoas do mesmo sexo.
Em 1971 era publicada uma obra que se tornaria muito importante nas discussões de filosofia política. O nome dessa obra é Uma Teoria da Justiça e seu autor John Rawls. Ao longo das aproximadas seiscentas páginas do livro, Rawls apresenta e defende a perspectiva que chamou de “Justiça como Equidade”.
Só recentemente tivemos oportunidade de ver 2081, uma curta-metragem realizada por Chandler Tuttle (2009), baseada no também curto conto Harrison Bergeron, de Kurt Vonnegut (1961). Tirando algumas diferenças de menor importância, o filme de Tuttle é fiel ao conto de Vonnegut, o que nos permite dizer que ambos expõem a mesma história.
A objetividade é um conceito bastante discutido em filosofia. Discute-se se a ciência pode ser objetiva, se a justificação de nossos juízos morais é objetiva, se é possível conhecer a realidade objetivamente e outras questões correlatas. Porém, não é só na filosofia que o termo objetividade é relevante.
História, literatura, religião e a observação prática, todas sugerem que o castigo sempre desempenhou um papel central na organização das relações humanas. Por diversas razões, isso não é surpreendente nem perturbador. Por outras razões, é as duas coisas. Para entender o fenômeno e os desafios morais que apresenta, as duas perspectivas precisam de uma exploração cuidadosa.
No Tribune da semana passada havia uma carta interessante do Sr. J. Stewart Cook, na qual sugeria que a melhor maneira de evitar o perigo de uma “hierarquia científica” seria fazer todos os membros do grande público, tanto quanto possível, ter formação científica. Ao mesmo tempo, os cientistas deveriam sair do seu isolamento e ser encorajados a desempenhar um papel mais intenso na política e na administração.
Num ensaio acertadamente publicado em 24 de Dezembro de 1943, Orwell sublinha que todas as utopias e concepções de uma existência humana perfeita, terrenas ou não, falham miseravelmente. Contrastam com a vivacidade das distopias e narrativas que descrevem em pormenor uma existência infernal ou o próprio inferno.
O direito é freqüentemente visto como um emaranhado de problemas descritos em pilhas de papéis que são conduzidos de uma maneira obscura por burocratas especializados. É associado também a essa disciplina a figura do sofista, aquele que utiliza a persuasão a fim de, a qualquer custo, “vencer” um debate — este seria o advogado.
Quando a época glaciar estava a chegar ao fim, os Neandertais pensavam provavelmente que aqueles verões quentes europeus eram apenas uma excepção. Afinal, sempre os glaciares tinham sido presença constante na Europa.
No parágrafo de encerramento do Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, Plínio Apuleyo Mendonza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa sentenciam com certa tristeza a própria derrota perante a idiotice ideológica que se espalhara na América Latina. Disseram isso há treze anos. Infelizmente, não poderiam estar mais certos.
Este livro narra a história da construção da liberdade de pensar ao longo dos séculos XVII e XVIII. Este período histórico pode ser dividido, pelo menos, em duas fases distintas as quais o autor norte-americano procura aclarar.
Em plena segunda guerra mundial, quando o governo britânico pedia aos seus cidadãos imensos sacrifícios económicos, Orwell ficou chocado com a incongruência de jornais em que os editorialistas davam voz aos pedidos do governo, ao mesmo tempo que publicavam anúncios de casacos de peles, na mesma página.
No que diz respeito a acontecimentos reveladores, a chegada de pães indianos à mesa dificilmente será o mais dramático. Mas deu a Saskia o tipo de choque mental que modificaria profundamente a sua maneira de pensar.
O anti-semitismo é obviamente um assunto que precisa de ser seriamente estudado, mas parece improvável que o venha a ser nos próximos tempos. O problema é que enquanto o anti-semitismo for encarado simplesmente como uma aberração vergonhosa, quase um crime, qualquer pessoa suficientemente literata para ter ouvido a palavra irá obviamente declarar-se-lhe imune.
Em 1874 Karl Marx leu a obra Estatismo e Anarquia de Mikhail Bakunine, um dos fundadores do anarquismo como movimento revolucionário internacional e principal adversário de Marx na luta pelo controlo da primeira internacional. Marx não era passivo relativamente a qualquer coisa que fizesse e, ao ler Bakunine, copiou diversas passagens cruciais do livro acrescentando os seus próprios comentários.
Ayaan Hirsi (o nome original é Ayaan Hirsi Magan), nasceu em 1969, em Mogadíscio, no seio de uma família muçulmana importante da Somália, pertencente ao clã Osman Mahamud, um subclã dos Darod. Este livro é um obra autobiográfica e tremendamente humana.
A tolerância é uma das noções mais difíceis de compreender. Confunde-se geralmente com o relativismo epistémico e esta confusão denuncia incapacidade ou até falta de vontade para aceitar a tolerância. Os pensadores pós-modernistas são responsáveis por contaminar a cultura contemporânea com esta confusão grave, que acaba por tornar impossível a genuína tolerância.
Já tem alguns anos a sua edição nos Estados Unidos, mas vale a pena ler ou reler este livro. Fredrick Appel assumiu a difícil tarefa de mostrar como a imagem que hoje tende a prevalecer sobre o pensamento de Friedrich Nietzsche, particularmente nas Humanidades e Ciências Sociais é uma imagem superficial e distorcida.
“O orientalismo romântico de Foucault” podia muito bem ser o título deste livro, que coloca, a partir de uma perspectiva feminista e de esquerda, questões sérias, profundas e particularmente incómodas sobre o pensamento de Foucault e a sua crítica enviesada da modernidade.
Um encontro com uma das mais surpreendentes reviravoltas da vida intelectual europeia do século XX, é o que nos propõe Richard Wolin, um historiador das ideias da City University de Nova Iorque, neste, agora editado em paperback (a edição original é de 2004).
Desde o clássico de Edward Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, publicado no final do século XVIII, que as razões e as consequências da queda do Império Romano do Ocidente têm fascinado e dividido os historiadores.
“Acredita que somos pobres porque eles são ricos e vice-versa, que a história é uma bem-sucedida conspiração dos maus contra os bons, onde aqueles sempre ganham e nós sempre perdemos (em todos os casos, está entre as pobres vítimas e os bons perdedores), não se constrange em navegar no espaço cibernético, sentir-se online e (sem perceber a contradição) abominar o consumismo.”
John Stuart Mill explica assim, em Sobre a Liberdade (Edições 70, no prelo), o princípio do dano: “É o princípio de que o único fim para o qual as pessoas têm justificação, individual ou colectivamente, em interferir na liberdade de acção de outro, é a autoprotecção”.
Na obra On Liberty (1859), John Stuart Mill (1806-73) apresenta vários argumentos famosos e influentes a favor da liberdade de expressão, um dos direitos humanos fundamentais, consagrado no artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Um dos argumentos de Mill será analisado nesta comunicação.
Em 1952, a BBC transmitiu seis conferências radiofónicas de Isaiah Berlin que deixaram o público rendido ao seu talento para discutir, de uma forma acessível e despretensiosa, teorias políticas e filosóficas com grande importância prática.
O direito tem sido um importante tema de discussão filosófica desde o início da disciplina. Tentativas de descoberta dos princípios da ordem cósmica e de descoberta ou estabelecimento dos princípios da ordem nas comunidades humanas foram os primórdios da investigação sobre o direito.
Como devem ser distribuídos os bens numa sociedade? […] Serão consideradas aqui três perspectivas — primeiro o utilitarismo, e depois as perspectivas não-consequencialistas de John Rawls e Robert Nozick.
Há crianças vendidas por pais extremamente pobres a quem tem dinheiro e falta de escrúpulos para as comprar; pessoas cujo rendimento não permite fazer mais do que uma refeição por dia; jovens que não têm a menor possibilidade de adquirir pelo menos a escolaridade básica; cidadãos que estão presos por terem defendido as suas ideias.
Este é um livro estranho de um economista, no mínimo, controverso. Na verdade, Steven D. Levitt nunca escreveu qualquer livro, incluindo este, que foi escrito (ou compilado) pelo jornalista Stephen J. Dubner do New York Times e da New Yorker, com base em artigos científicos publicados por Levitt. Apesar do sub-subtítulo ser um pouco exagerado, o subtítulo já assim não o é.
A evolução do direito internacional tem sido acelerada, nos últimos tempos, pela globalização, pelas relações intensas entre países e pelas políticas externas dos governos. Neste ensaio, abordam-se os novos desafios que se oferecem hoje ao direito internacional, nomeadamente os problemas relacionados com o estado-nação.
Pensa por momentos na tua própria sujeição política. Estás continuamente a ser sujeito a regras de que não és o autor — designadas por “leis” — que te governam não apenas a ti mas aos outros, que impõe, por exemplo, a velocidade a que deves andar na auto-estrada, o comportamento que deves ter em público, que tipo de acções para com os outros são permissíveis.
A recente publicação de várias caricaturas sobre o profeta Maomé numa revista dinamarquesa tem suscitado várias reacções diferentes, sendo frequentemente posta a questão de quais devem ser os limites da liberdade de expressão.
Os Elementos do Jornalismo, livro de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, oferece bons temas para reflexão. Bem escrito, claro e objetivo, mostra o que passa pelas cabeças dos jornalistas dos EUA, mas vale também para os brasileiros, inclusive no que diz respeito a algumas confusões teóricas da profissão, sempre apontadas mas não resolvidas. Aproveito a ocasião para comentar duas delas.
O filósofo italiano Norberto Bobbio (1909–2004) nunca gostou de falar de si próprio, mas o cerco feito pelo jornalista Alberto Papuzzi, do La Stampa (quotidiano de Turim onde exerceu atividade de colaborador regular de 1976 aos anos 90), acabou por demovê-lo. A ele abriu seus arquivos, escritos e cartas pessoais, alinhavados numa série de entrevistas ao longo de um ano.
George Orwell é o nome literário de Eric Blair (1903–1950), autor conhecido entre nós sobretudo graças a O Triunfo dos Porcos, de 1945 (Europa-América) e Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de 1949 (Antígona). Mas Orwell foi antes de mais um ensaísta popular. Pequenas crónicas e recensões, publicadas na imprensa inglesa, garantiram-lhe um lugar de respeito nas letras.
Se algumas páginas do livro do Sr. Bertrand Russell, O Poder, parecem vazias, isso é unicamente porque descemos a um ponto tal que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes. O problema não é apenas que hoje em dia o governo da força crua se encontra em quase todo o lado. Provavelmente, isso sempre foi assim.
Lucio Colletti (1924-2001), um dos filósofos mais importantes da Itália e um dos poucos a serem reconhecidos internacionalmente (à parte um certo provincianismo inglês, apenas ele e Benedetto Croce figuram, por exemplo, no Oxford Companion to Philosophy, de Ted Honderich, de 1995), acaba de receber uma homenagem, três anos após sua morte.
Esta é a melhor obra introdutória à filosofia política que alguma vez li. Sem impor qualquer ideologia, oferece precisamente aquilo que pode interessar a qualquer leitor que se inicie no assunto: um exame crítico dos temas fundamentais da filosofia política.
A Revolução Americana de 1787, em particular, e a história americana, em geral, têm merecido pouca ou nenhuma atenção por parte das editoras nacionais e dos investigadores portugueses nas áreas das ciências humanas e das humanidades.
Uma questão que muito preocupou os filósofos políticos dos séculos XVII e XVIII foi a de encontrar uma justificação racional — dedutiva — para a existência das sociedades humanas.
Erasmo, o grande defensor alemão do humanismo, foi um dos primeiros a condenar a guerra. Referindo-se à guerra escreveu: “Quem já viu 100 000 animais a correr para se degolarem uns aos outros, como os homens fazem por toda a parte, sabe que nada há mais perverso, mais desastroso, mais destruidor, mais repugnante, numa palavra, mais indigno do homem”.
A principal motivação da teoria da justiça como equidade é o desejo de Rawls de formular uma alternativa poderosa ao utilitarismo. Parecia-lhe que o utilitarismo era a teoria mais sistemática e abrangente disponível para fornecer uma base de comparação entre instituições e práticas sociais alternativas. No entanto, para Rawls, o utilitarismo é insatisfatório pelo menos por duas razões.
“No termo “globalização”, mais do que na designação anterior de “internacionalização”, está implícita a ideia de que estamos a ultrapassar a era do estabelecimento de laços entre os países e começamos a contemplar algo para lá do conceito existente de Estado-nação. Mas esta alteração precisa de encontrar eco em todos os níveis do pensamento, em especial na reflexão sobre a ética”.
Karl Heinrich Marx nasceu a 5 de Maio de 1818, na cidade alemã de Trier e morreu em Londres em 1883. No cemitério de Highgate, em Londres, a 17 de Março de 1883, só 11 pessoas se apresentaram no funeral de Marx. Entre elas, o seu amigo de longa data, Friedrich Engels, que não hesitou em declarar que “o nome e a obra de Marx persistirão ao longo dos tempos”.
A 10 de Março de 1762, na cidade de Toulose, um homem é torturado, supliciado na roda até à morte para, finalmente, o seu cadáver ser lançado ao fogo. Assim se cumpria a condenação sentenciada, no dia anterior, pelo Parlamenlo local.
“A verdade antes de tudo, senhores” — isto é o que pedia Rui Barbosa na conferência “A Imprensa e o Dever da Verdade” publicada pela Universidade de São Paulo. Esse texto se deve a uma feliz iniciativa de Freitas Nobre, professor do Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes — ECA — onde funciona o Curso de Jornalismo.
Democrata — Ouvi dizer que te dizes um verdadeiro defensor das ideias democráticas. Todavia, criticas democratas que, como eu, afirmam que a democracia deve ser a forma de governar o estado.
Anarquista — Pois claro. Não podes transformar um mau estado num bom estado só por torná-lo democrático.