Em 2018, uma semana apenas depois do senado argentino ter recusado a descriminalização do aborto nas primeiras catorze semanas de gravidez, uma mulher de trinta e quatro anos morreu em resultado de tentar interromper a sua própria gravidez.
Nasci em 1950, cinco anos depois do fim da segunda guerra mundial, em West Hartlepool, no distrito de Durham, numa pequena cidade mineira no nordeste da Inglaterra. O hospital em que nasci era um albergue convertido, ou, como diríamos hoje em dia, um asilo para pessoas sem abrigo. A minha mãe tinha vinte anos, o meu pai vinte e seis, e eu era o primeiro filho.
Uma vez instaurada a democracia, que trabalho resta ao filósofo político? Numa perspectiva optimista, mal temos um processo democrático de tomada de decisões, o trabalho fundamental do filósofo político chegou ao fim. Todas as decisões podem agora ser deixadas ao funcionamento justo da máquina eleitoral. Infelizmente, mesmo sendo a democracia o melhor sistema que podemos conceber, não é solução para tudo. E Mill afirma que tem os seus perigos próprios: a ameaça da ditadura da maioria.
Eric Arthur Blair (1903–1950), mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell, foi um ensaísta, jornalista e romancista britânico. Orwell é bastante famoso por suas obras de ficção distópica Animal Farm e 1984, muito embora grande parte de seus outros livros e ensaios tenha também alcançado popularidade.
Gloria Taylor, uma canadiana, sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida como “doença de Lou Gehrig”. Em poucos anos, os seus músculos irão enfraquecer até não poder andar, usar as mãos, mastigar, engolir, falar e, por fim, respirar. Depois morre. Taylor não quer passar por tudo isso. Quer morrer quando quiser.
O existencialismo é um movimento filosófico que normalmente se faz remontar ao filósofo oitocentista dinamarquês Søren Kierkegaard. O nome em si foi introduzido por Jean-Paul Sartre, embora a expressão “filosofia da existência” tenha sido usada antes por Karl Jaspers, que pertencia à mesma tradição.
Hilary Putnam (1926–2016) foi um filósofo americano que deu contributos significativos para as filosofias da linguagem, da ciência, da matemática e da mente, assim como para a lógica matemática, a metafísica, a epistemologia e a ética. Concluiu o seu doutoramento em 1952 na Universidade da Califórnia de Los Angeles, e deu aulas nas universidades de Northwestern, Princeton, MIT e Harvard, onde foi Professor Universitário Emérito Cogan.
A guerra mais longa dos Estados Unidos foi contra as nações nativas americanas, à medida que se dava a expansão para oeste, alimentada por repetidas corridas ao ouro e pela chegada dos caminhos-de-ferro, que invadiram os territórios dos povos shoshone, cheyenne e sioux, entre outros, nas Grandes Planícies e nas Montanhas Rochosas.
Talvez seja melhor pensar no argumento ontológico não como um único argumento mas como uma família de argumentos, em que cada membro começa com um conceito de Deus e, apelando apenas a princípios a priori, procura estabelecer que Deus existe efectivamente. Nesta família de argumentos, o mais importante historicamente é o apresentado por Anselmo no segundo capítulo do seu Proslogium (um discurso).
O ano em que se assinalou o primeiro Dia da Terra, em 1970, foi quando deixei de comer carne. Não o fiz para salvar a Terra, mas sim porque percebi que não há justificação ética para tratar os animais como máquinas para converter a ração em carne, leite e ovos.
Até à década de 1960, os filósofos estudaram menos intensivamente a representação pictórica do que o significado linguístico. A doutrina tradicional segundo a qual as imagens representariam objectos copiando a sua aparência tinha vindo a ser posta em questão pelos teóricos da arte desde o primeiro quartel do século XX, quando aqueles que eram considerados como estilos ilusionistas em pintura foram perdendo popularidade em favor do prestígio cada vez maior dos chamados estilos artísticos “primitivos”, e das experiências fauvistas e cubistas levadas a cabo pelos artistas dessa época.
— Tens lido Epicteto?
— Ultimamente, não.
— Oh, não deixes de lê-lo. Tommy tem estado a lê-lo pela primeira vez, e está terrivelmente empolgado.
Apanhei estas sobras de diálogo da mesa do lado, no átrio de um hotel. Como Tommy, também eu me sentia “terrivelmente empolgado”, pois nunca lera realmente Epicteto, apesar de o ter amiúde visto na prateleira — talvez até o tenha citado — e perguntei-me se estava finalmente aqui o livro de sabedoria de que andara à procura aos soluços desde que andei na escola.
A filosofia moral é a tentativa de ganhar uma compreensão sistemática da natureza da moralidade e do que esta requer de nós — ou, nas palavras de Sócrates, de “como devemos viver”, e porquê. Seria útil se pudéssemos começar com uma definição simples e incontroversa de moralidade, mas isso é impossível.
Thomas Nagel (n. 1937) deu contributos num largo espectro de tópicos filosóficos em teoria ética, psicologia moral, ética aplicada e teoria política, assim como em metafísica e epistemologia. A sua obra distingue-se pela abrangência, clareza e acúmen.
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A oração é, ao que parece, uma característica proeminente de todas as religiões. As pessoas quando rezam visam contato ou comunicação com entidades ou pessoas especiais, tais como Deus, deuses, antepassados, ou ainda seres humanos exemplares, os quais possuiriam, segundo se crê, algum estatuto especial.
Descartes (1596–1650) foi um filósofo e matemático francês, fundador da “idade moderna”, e talvez a figura mais importante na revolução intelectual do século XVII, na qual os sistemas tradicionais de entendimento, baseados em Aristóteles, foram postos em questão e, em última análise, rejeitados.
O que é a raça? As discussões sobre este tema envolvem tópicos de diversas áreas de investigação. Podemos abordar os modos como os seres humanos se dividiram ao longo da história, avaliando também as consequências dessas práticas para as sociedades contemporâneas.
Desde a década de oitenta que o professor de filosofia Aleksandr Dugin acredita que o destino manifesto da Rússia é um poder cristão ortodoxo e imperial inteiramente diferente do liberalismo ocidental, e completamente na sua contramão. Em pessoa, o rosto estriado e barbudo de Dugin e a sua fogosa autoconfiança, fazem dele uma encarnação moderna de um starets, ou homem sagrado, de um romance de Tolstoi.
Anselmo nasceu em Aosta, na Itália, em 1033 ou 1034, e morreu em 1109, com 75 ou 76 anos. É também conhecido como Anselmo da Cantuária, porque foi arcebispo dessa província, sucedendo a Lanfranc. Mas foi como monge, no mosteiro beneditino de Nossa Senhora de Bec, situado no que é hoje o norte de França, que escreveu, por volta dos 44 anos, aquela que é talvez a sua mais influente obra: Proslogion (1077–1078).
Uma maneira esclarecedora de compreender o que é a lógica e qual é a sua importância é compreender primeiro o que é o raciocínio e qual é a sua importância. Será aqui abordado sobretudo o raciocínio discursivo, que é onde a lógica desempenha o seu papel mais óbvio, mas nem todo o raciocínio é discursivo. Quando reconhecemos um rosto humano, subimos um lance de escadas ou até quando caminhamos, a quantidade de raciocínio exigida é impressionante. Contudo, está quase inteiramente fora do nosso controlo.
A linguagem vulgar é muitas vezes vaga, imprecisa e ambígua. No último caso, isto acontece quando os termos que utilizamos para comunicar admitem mais do que uma interpretação, podendo a mesma expressão assumir diferentes significados ou designar diferentes coisas (objetos, acontecimentos, etc.). A expressão «ser humano», como é sabido, pode ser interpretada no sentido biológico para designar os membros da espécie Homo Sapiens, ou no sentido psicológico, relativo a pessoa.
Devo iniciar dizendo o que penso ser o objeto desta atividade chamada filosofia moral. Consiste em encontrarmos uma maneira de pensar melhor – isto é, mais racionalmente – sobre questões morais. O primeiro passo em direção a isto é: entender as questões que você está levantando. Isto poderia parecer óbvio, mas dificilmente tentamos fazê-lo.
O problema de indução que vou abordar neste texto é o problema de justificar a inferência: todos os F observados têm sido G; logo, todos os F são G. Este tipo de inferências é corrente no dia-a-dia. Por exemplo, todos os corvos observados têm sido negros, logo, todos os corvos são negros; todos os cisnes observados têm sido brancos, logo, todos os cisnes são brancos; todos os electrões observados têm-se repelido, logo, todos os electrões se repelem.
Acabei de escrever o livro Science Fictions (Nova Iorque: Metropolitan Books, 2020) no início de 2020, razão pela qual só incluí uma breve menção ao que acabou por se tornar a maior crónica científica das nossas vidas: a pandemia do COVID-19. Desde a Guerra Fria e da Corrida Espacial que não ouvíamos falar tanto de ciência diariamente, e desde essa altura que não se depositavam tantas esperanças na ciência.
Os chamados testes clínicos de desafio humano (TDH) para a Covid-19 são uma forma de avaliar e desenvolver vacinas que envolvem, em um ambiente controlado, infectar intencionalmente (com uma versão do vírus SARS-COV-2, um vírus de “desafio”), de cem a duzentos voluntários plenamente informados e que consintam em participar.
Algumas linguagens são expressivas; seja complementar seja principalmente, expressam sentimentos e/ou atitudes. Há elocuções puramente expressivas, mas há também partículas expressivas, como “raios”, que ocorrem integradas em frases gramaticais.
Matei a Maria queimando-a com um maçarico. Deixei a Maria morrer com uma doença que lhe provocava dores tão intensas como queimaduras. Em nenhum dos casos a Maria fez o que quer que fosse para merecer aquele sofrimento e este não tinha qualquer intenção de evitar um sofrimento muito maior. Será que a minha acção no primeiro caso é moralmente diferente da minha omissão no segundo?
Homo sapiens quer dizer hominini sábio, e em muitos aspetos merecemos o epíteto específico do binómio de Lineu. A nossa espécie fez a datação da origem do Universo, sondou a natureza da matéria e da energia, descodificou os segredos da vida, desvendou o circuito da consciência e fez a crónica da nossa história e da nossa diversidade.
Para um cientista, distinguir entre ciência e pseudociência é similar a andar de bicicleta. A maioria das pessoas sabe andar de bicicleta, mas apenas algumas conseguem explicar como o fazem. De alguma maneira temos a capacidade de manter o equilíbrio, e todos parecemos fazê-lo de maneira aproximadamente igual, mas como fazemos isso?