Acabei de escrever o livro Science Fictions (Nova Iorque: Metropolitan Books, 2020) no início de 2020, razão pela qual só incluí uma breve menção ao que acabou por se tornar a maior crónica científica das nossas vidas: a pandemia do COVID-19. Desde a Guerra Fria e da Corrida Espacial que não ouvíamos falar tanto de ciência diariamente, e desde essa altura que não se depositavam tantas esperanças na ciência.
Os chamados testes clínicos de desafio humano (TDH) para a Covid-19 são uma forma de avaliar e desenvolver vacinas que envolvem, em um ambiente controlado, infectar intencionalmente (com uma versão do vírus SARS-COV-2, um vírus de “desafio”), de cem a duzentos voluntários plenamente informados e que consintam em participar.
Algumas linguagens são expressivas; seja complementar seja principalmente, expressam sentimentos e/ou atitudes. Há elocuções puramente expressivas, mas há também partículas expressivas, como “raios”, que ocorrem integradas em frases gramaticais.
Matei a Maria queimando-a com um maçarico. Deixei a Maria morrer com uma doença que lhe provocava dores tão intensas como queimaduras. Em nenhum dos casos a Maria fez o que quer que fosse para merecer aquele sofrimento e este não tinha qualquer intenção de evitar um sofrimento muito maior. Será que a minha acção no primeiro caso é moralmente diferente da minha omissão no segundo?
Homo sapiens quer dizer hominini sábio, e em muitos aspetos merecemos o epíteto específico do binómio de Lineu. A nossa espécie fez a datação da origem do Universo, sondou a natureza da matéria e da energia, descodificou os segredos da vida, desvendou o circuito da consciência e fez a crónica da nossa história e da nossa diversidade.
Para um cientista, distinguir entre ciência e pseudociência é similar a andar de bicicleta. A maioria das pessoas sabe andar de bicicleta, mas apenas algumas conseguem explicar como o fazem. De alguma maneira temos a capacidade de manter o equilíbrio, e todos parecemos fazê-lo de maneira aproximadamente igual, mas como fazemos isso?
A preocupação de John Locke quanto à identidade pessoal encerra uma dimensão interessante: centra-se na noção de pessoa, escolhida para evitar que o princípio da continuidade da identidade dependa do corpo, que cresce, muda e envelhece, e que pode ser afetado por, digamos, um acidente, em que as memórias, caráter e propósitos associados àquele indivíduo poderão desaparecer e ser completamente substituídos, ainda que o corpo seja o mesmo.
O critério de Mahatma Gandhi para avaliar a grandeza de uma nação e o seu progresso moral era o tratamento dado aos animais. Por esse padrão, não podemos afirmar que houve muito progresso moral nos últimos dois milénios.
A lógica proposicional é, em demasiados aspetos, bastante limitada. Apenas permite dar conta das condições de validade de um conjunto restrito de argumentos dedutivos.
Um conjunto final de questões sobre a Perspectiva Padrão emerge da consideração da Perspectiva Relativista. Assim como a Perspectiva Naturalista e ao contrário da Perspectiva Cética, a Perspectiva Relativista não sugere exatamente que a Perspectiva Padrão seja falsa, mas antes que é incompleta e que não leva em conta considerações importantes.
Em 29 de Dezembro do ano passado, Hasan Gokal, o director clínico da equipa de resposta à COVID-19 no Condado de Harris, no Texas (que inclui Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos em termos de população), supervisionava a administração da vacina da Moderna, na sua maior parte a trabalhadores de serviços de urgência.
Por que razão não consigo dividir sete sardinhas inteiras por três gatos? Por que razão não consigo atravessar as sete pontes de Königsberg, uma só vez e numa única caminhada? Por que razão a espécie Magicicada de cigarras da América do Norte tem ciclos de vida ímpares, de 13 ou 17 anos?
O nosso assunto é quádruplo — um livro e seu significado; um homem e suas ideias; uma cultura e suas preocupações; uma sociedade e seus problemas. A sociedade é a Kakania — em outras palavras, a Viena dos Habsburgo dos últimos vinte e cinco ou trinta anos do Império Austro-Húngaro, conforme captado com uma ironia perspicaz por Robert Musil no primeiro documental volume do seu romance O Homem Sem Qualidades.
Não poucos filósofos de admirável inteligência consideraram que o fato de normalmente não conseguimos ver de um objeto físico mais do que uma parte da sua superfície tem consequências paradoxais, ou seja, que dele decorre que a crença de “senso comum” segundo a qual podemos ver objetos físicos e, com base nisso, saber que há tais objetos tem de ser ou decididamente rejeitada ou substancialmente modificada.
A filosofia do século XX, tanto na tradição “analítica” como na “continental”, preocupou-se com questões acerca do significado linguístico, e acerca da maneira como a linguagem se relaciona com a realidade. Na tradição analítica, isto foi em larga medida uma consequência das revoluções ocorridas na lógica, e a que Frege e Russell deram o pontapé de saída.
A epistemologia moderna começa com uma teoria da conspiração. “Irei supor”, escreve Descartes, “que um génio maligno, poderoso e astuto, tudo fez para me enganar […] Irei pensar que o céu, o ar, a terra, as cores, formas, sons e todas as coisas externas não passam de sonhos que o génio maligno maquinou como armadilhas para o meu juízo”.
Agatha Christie escreveu em sua autobiografia que sempre fora fascinada pela matemática e que pensou que em algum momento de sua vida, se tivesse continuado seus estudos, teria se tornado uma matemática e nunca teria escrito quaisquer estórias de detetive.
Em um cenário de extrema escassez de recursos hospitalares para elevado volume de pacientes na pandemia por Covid-19, quais devem ser as diretrizes para a alocação de leitos e ventiladores em UTI? Gravidade da situação do paciente? Ordem de chegada? Maiores chances de recuperação da doença? Sorteio? Profissionais da saúde na linha de frente devem ter prioridade? Como lidar com a escolha entre pacientes com a mesma situação clínica, ou seja, com o empate?
Acautele-se o leitor que decida abrir Facfulness, o livro onde Hans Rosling condensou a sua experiência de uma vida como médico, investigador, professor e reputado conferencista de Saúde Internacional, com a colaboração do filho Ola e da nora Anna, que se encarregaram mais especificamente da análise de dados, dos gráficos e das explicações visuais!
A primeira pergunta que deve ocorrer a alguém que pegue no presente livro pela primeira vez é: o que é o Tomismo Analítico? É uma ótima pergunta, mas não é de fácil resposta. A primeira parte da pergunta é, talvez, um pouco mais fácil de responder do que a segunda, pois “Tomismo” pode ser mais facilmente identificado como se referindo a um corpus particular de pensamento, a saber, o pensamento de Tomás de Aquino e a subsequente interpretação das suas ideias.
A questão filosófica central quanto aos objetos abstratos é esta: Há alguns? Uma resposta afirmativa — dada pelos platónicos ou realistas — apoia-se no facto de parecer que partes significativas do nosso discurso e pensamento dizem respeito a objetos que estão para lá do espaço e do tempo, sendo por isso incapazes de entrar em relações causais, apesar de grande parte desse discurso dizer respeito a objetos concretos (grosso modo, objetos com extensão espácio-temporal).
Neste livro oportuno, Toby Ord defende que há uma probabilidade em seis de a humanidade sofrer uma catástrofe existencial nos próximos cem anos, e que minimizar esse risco deve ser uma das maiores prioridades a nível global. Vivemos numa época de elevado risco existencial, devido a tecnologias tão poderosas como as armas nucleares, a biotecnologia e a inteligência artificial.
Neste livro, Joseph Raz, um dos grandes expoentes da Filosofia do Direito contemporânea, se propõe à tarefa de refletir criticamente sobre os valores morais universais. Como um dos convidados da Conferência Seeley de 2000, buscou clarificar a tese de que os valores morais são universais.
Muitas pessoas são atraídas por conceções construtivistas da verdade, da justificação e da racionalidade, aceitando que há muitas maneiras radicalmente diferentes, mas igualmente válidas de conhecer o mundo. Ou seja, defendem a tese de que todo o conhecimento é socialmente construído.
Ao lado do grande “D” vermelho, na parte inferior do trabalho final que escrevi para um curso de ciência política de nível médio, durante o segundo semestre da faculdade, estava escrito: “Você pensa como um filósofo, não como um cientista político”.
Suponha que você esteja lendo A Terra Inútil de Eliot, Rei Lear de Shakespeare, Ulisses de Joyce e A enfermaria nº 6 de Chekhov. Você está lendo um poema, uma peça, um romance e um conto. Poderíamos também dizer que você está lendo uma obra de literatura, ou de literatura imaginativa — embora no caso de Rei Lear alguém pudesse se inclinar a negar isso, pretendendo distinguir nitidamente literatura de drama.
Há muita coisa que não sabemos sobre a COVID-19. Quanto mais tempo demorarmos a descobri-lo, mais vidas se irão perder. Neste artigo, iremos defender um princípio de paridade de risco: se é permissível expor alguns membros da sociedade a um certo nível de risco ex ante, a fim de minimizar os danos gerais do vírus, então é permissível expor voluntários totalmente informados a um nível de risco comparável no contexto de investigações promissoras sobre o vírus.
Deixe-me contar — brevemente — sobre um estranho caso da história da filosofia. Alexius Meinong (1853–1920) foi um psicólogo austríaco e filósofo sistemático. Parte de seu trabalho era apresentar uma análise sofisticada do conteúdo do pensamento. Um aspecto notável sobre isso é o que se segue. Se você está pensando sobre o Taj Mahal, você está pensando sobre algo.
Não nos iludamos. É difícil construir um avião mais rápido do que uma bala. É difícil correr a maratona. Compor As Bodas de Fígaro não deve ter sido fácil. Escrever Os Miseráveis também não. A física é difícil, a matemática é difícil. A lógica é difícil. Muitas coisas valiosas são difíceis — e pretender que não são é iludirmo-nos.
A história está cheia de exemplos de condutas desumanas de uma pessoa frente a outra. Alguns atos são obras de indivíduos isolados, como o assassino em série Andrei Chikatilo ou do vigarista Bernie Madoff. Muitos males especialmente sinistros foram perpetrados por nações ou grupos: o Holocausto, as remoções estalinistas, e a matança dos Tutsis em Ruanda.
O governo representativo é um fenómeno relativamente recente: não tem mais de um século e meio. Isto significa que, durante muito tempo, a teoria democrática foi essencialmente especulativa, alimentada por muito romantismo e boas intenções. Hoje, porém, dispomos de resultados que vêm da experiência; e isso justifica, no mínimo, que a teoria democrática deve ser confrontada com os factos.
O meu amigo João veio cá casa tomar um café. Enquanto aqueço a água, digo-lhe: “existe uma chávena no armário”. O João abre o armário. Et voilà! O João encontra uma chávena no armário. De acordo com a teoria da verdade como correspondência, a frase “existe uma chávena no armário” é verdadeira se, e só se, é um facto que existe uma chávena no armário.
Quanto custa salvar uma vida? Será demasiado difícil? Será demasiado caro? Será sequer que tenho a obrigação de tentar fazê-lo? Talvez este tipo de questões seja demasiado complexo para esperar obter respostas práticas que não sejam independentes dos benefícios realmente a atingir.
Filósofo alemão (1889–1976), professor nas universidades de Marburgo (1923–1928) e Freiburg (1928–1951), Heidegger é famoso pelas suas teorias do ser e da natureza humana e pelas suas interpretações singulares da metafísica tradicional.
Quem estuda lógica sabe que existem pelo menos duas maneiras de rejeitar um argumento: 1) encontrar algum defeito na passagem das premissas para a conclusão; 2) rejeitar as premissas. Aceitando as premissas e raciocinando bem, devemos também aceitar as conclusões que se seguem delas.
A tensão entre ciência e religião é antiga e bem documentada. Talvez o exemplo mais conhecido seja o embate entre Galileu e a Igreja Católica. Em 1633, a Inquisição forçou Galileu a abandonar publicamente suas teses copernicanas, e o condenou a passar os últimos anos de sua vida em prisão domiciliar, em Florença.
A publicação do Manifesto do Partido Comunista (1848), escrito por Marx e Engels, pode considerar-se o ato que, simbolicamente, inaugura um dos mais importantes movimentos sociais, políticos, ideológicos… e filosóficos dos últimos séculos: o movimento comunista.
A lógica enquanto ciência que estuda as condições de validade dos argumentos foi fundada por Aristóteles (384-322 a. C.). Paralelamente ao estudo da noção de validade e de outras noções centrais da lógica, Aristóteles desenvolveu a teoria do silogismo.
O que nos torna bons ou maus? Essa profunda questão filosófica foi alvo de um experimento psicológico desenvolvido em 1997 pelo psicólogo Richard Baron. O estudo foi publicado num periódico americano tradicional da área de psicologia social e descreve os métodos e resultados da pesquisa de Baron.
A Europa, a Índia e a China têm tradições, religiões, folclore, poesia, arte e apanhados de máximas que dão corpo à sabedoria que emana da experiência. Desenvolveram também corpos de pensamento que são distintamente filosóficos, na forma de debates detalhados e, em quase todos os casos, escritos, sobre teorias e ideias metafísicas, epistemológicas, éticas e políticas.
“The MIT Press Essential Knowledge series” tem como objetivo publicar livros sobre temas atuais de modo acessível, conciso e bem fundamentado. Para tanto, convida especialistas renomados para oferecer uma visão geral de um assunto particular que tem chamado a atenção da sociedade.