Thomas Nagel (n. 1937) deu contributos num largo espectro de tópicos filosóficos em teoria ética, psicologia moral, ética aplicada e teoria política, assim como em metafísica e epistemologia. A sua obra distingue-se pela abrangência, clareza e acúmen.
Apesar de não haver um tema único, estritamente definido, que percorra toda a sua obra, Nagel lidou persistentemente com o problema de reconciliar uma perspectiva objectiva da realidade com a nossa experiência subjectiva, individual, como pessoa. Na sua obra magna, The View from Nowhere,1 Nagel escreve que
Este livro é sobre um só problema: como combinar a perspectiva de uma pessoa particular no seio do mundo, com uma perspectiva objectiva desse mesmo mundo, incluindo a pessoa e o seu ponto de vista. É um problema que enfrenta toda a criatura com o impulso e a capacidade para transcender o seu ponto de vista particular e para conceber o mundo como um todo. (1986, p. 3)
A defesa de Nagel da legitimidade tanto da nossa perspectiva subjectiva como de um ponto de vista objectivo, não-individual, tem feito parte da resistência de Nagel a filosofias que descartam qualquer uma delas. Assim, em vários livros e muitos artigos, Nagel elaborou uma crítica influente de formas de fisicismo que eliminam ou não levam a sério a realidade da experiência subjectiva, e tem sido também muito crítico de filosofias que cedem ao cepticismo, por atribuírem uma autoridade excessiva à subjectividade.
The Possibility of Altruism,2 o seu primeiro livro, defende que no reconhecimento de um indivíduo do que é bom ou mau para si ao longo do tempo há um reconhecimento implícito do que é bom ou mau para outros indivíduos:
Na minha própria aceitação de finalidades ou razões atribuo valor objectivo a certas circunstâncias, e não apenas valor a mim próprio. (1970, p. 85)
Na sua obra posterior, Nagel aprimora a convicção de que a teoria ética e política precisa de ser em grande medida imparcial e constituída unicamente por razões neutras quanto ao agente; estas razões são constituídas pelo “que toda a gente deveria valorizar, independentemente da relação disso consigo própria” (1991, p. 40). Nagel admite a existência de alguma tensão entre essa perspectiva neutra quanto ao agente e alguns dos valores que têm o seu lugar em contextos específicos e pessoais. Nagel advoga um ideal de igualitarismo social (1991), apesar de reconhecer que alguns bens são privados e que devem ser mantidos à distância da vigilância e controlo públicos (2002). A preocupação de Nagel com a integridade do indivíduo posiciona-o contra a engenharia social abrangente.
Na filosofia da mente, Nagel é muitíssimo conhecido devido ao ensaio “What Is It Like to Be a Bat?” (inicialmente publicado na Philosophical Review 1974, pp. 435–450, reimpresso em Mortal Questions e incluído em inúmeras antologias). Neste ensaio, Nagel considera que a experiência subjectiva, fenoménica, é o problema central que enfrenta o fisicismo contemporâneo. Defende que uma explicação materialista neurobiológica, funcional, do corpo humano, completamente desenvolvida, deixaria ainda por incluir a experiência subjectiva (o “como” da experiência de ser consciente e de ter experiências conscientes), tal como uma explicação neurobiológica materialista e funcional de um morcego, inteiramente desenvolvida, deixaria ainda por incluir como é ser um morcego. Em What Does It All Mean?,3 Nagel usa a experiência mental de um espectro invertido e de outras sensações invertidas, para pôr a nu a aparente contingência da relação entre os estados conscientes, experienciais, e os estados funcionalistas, materialistas. Estes são casos em que a explicação funcionalista de ver uma dada cor ou de ter experiência de um sabor está invertida, de modo que o fisicista concluiria que uma pessoa tem experiência de um certo sabor, quando afinal tem uma experiência de outro sabor muito diferente. Em The View from Nowhere, assim como Other Minds, entre outras obras, Nagel opõe-se a todas as filosofias da mente que não reconheçam a realidade da experiência vivida subjectiva.
Apesar de a defesa de Nagel da realidade das experiências fenoménicas e da aparente contingência da relação entre o mental e o físico parecer ter dado alguma credibilidade a pelo menos uma forma modificada de dualismo, o próprio Nagel sustenta que se pode evitar o dualismo desenvolvendo uma revisão conceptual da nossa concepção actual do mundo físico e da experiência subjectiva. Apesar de os filósofos não terem ainda esta nova mundividência, Nagel recomenda que de futuro a reflexão filosófica se centre na tarefa de conceber um mundo natural único que incorpore o que agora vemos como estados físicos objectivos e a nossa subjectividade mental interna.
No conciso The Last Word,4 Nagel oferece uma defesa apaixonada da razão como modo fidedigno de investigação, alheia às objecções de relativistas, pós-modernistas, ou pragmatistas contemporâneos, como Richard Rorty:
A razão […] pode funcionar como tribunal de última instância não apenas contra as opiniões comuns e os hábitos da nossa comunidade, mas também contra as peculiaridades da nossa perspectiva pessoal. É algo que cada indivíduo consegue encontrar no seu próprio seio, mas que ao mesmo tempo tem autoridade universal. A razão oferece, misteriosamente, uma maneira de nos distanciarmos da opinião comum e das práticas habituais. […] Quem apela à razão propõe-se descobrir uma fonte de autoridade em si que não é apenas pessoal, ou social, mas também universal — e que deve persuadir também seja quem for que esteja disposto a ouvi-la. (1997, pp. 2–3)
Nagel reconhece as muitas maneiras em que o nosso raciocínio pode ter deficiências, mas defende, apesar disso, a necessidade de recorrer à razão para corrigi-las, ainda que gradualmente.
Nagel formou-se na Universidade de Cornell em 1958 (Bachelor of Arts), em 1960 fez mestrado em Oxford (Bachelor of Philosophy) e concluiu o doutoramento em Harvard em 1963. Foi professor nas universidades de Califórnia (Berkeley), Princeton e Nova Iorque, onde foi eleito Professor em 2002. Além dos seus escritos filosóficos especializados, Nagel escreveu sobre problemas políticos e morais práticos. Por exemplo, defendeu uma perspectiva muitíssimo restrita de quando e como uma guerra é justa.