Este livro narra a história da construção da liberdade de pensar ao longo dos séculos XVII e XVIII. Este período histórico pode ser dividido, pelo menos, em duas fases distintas as quais o autor norte-americano procura aclarar: um Iluminismo “Radical”, a partir das ideias de Espinosa, Descartes, Malebranche, Diderot, D’Argens, Rousseau, D’Holbach, Voltaire, Hobbes, Hume, La Mettrie, Shaftesbury, Mandeville, Tindal, Montaigne e outros; e um Iluminismo “Moderado” (mas não menos importante), a partir das ideias de Newton, Locke, Pascal, dentre outros, todos devidamente adaptados ao pensar sob a tutela das instituições religiosas vigentes: católicos, luteranos e calvinistas.
A luta por liberdade de expressão e criação, de um lado, e a censura, nem sempre precisa, felizmente, mas aguerrida, por outro, constituiu muito do turbulento período histórico do Iluminismo europeu. Alguns países se destacaram na construção de uma esfera pública de livre discussão, tanto quanto possível à época, como a Holanda e a Inglaterra; outros mantiveram-se mais ou menos atados aos poderes eclesiásticos e imperiais, como a Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Suíça, etc.
Jonathan I. Israel destaca especialmente quatro filósofos, dentre muitos, os quais contribuíram para minar a autoridade político-esclesiástica no Iluminismo: Descartes, Espinosa (provavelmente o mais odiado e perseguido), Leibniz e Wolff. Especialmente as ideias de Espinosa tornaram-se uma das principais fontes iluministas para confrontar as tradições cristãs católica e reformista. A tese espinosista de os eventos relatados nas denominadas “Sagradas Escrituras” serem explicáveis naturalmente, bem como a sua teoria de uma substância eterna e imutável imanente, possibilitaram a construção da modernidade tal como a conhecemos.
Os filósofos denominados “radicais” pelos censores da época foram todos classificados como “ateus”, embora nem todos aceitassem esta denominação. Muitos foram deístas ou agnósticos, mas não necessariamente ateus. Contudo, as suas ideias desafiaram o poder político vigente, quer imperial, quer eclesiástico, quanto aos seus fundamentos (magister dixit): a autoridade papal e Aristóteles (devidamente cristianizado).
O autor analisa diferentes pensadores e suas contribuições filosóficas as quais deram condições para a modernidade se desenvolver como um espaço público livre para pensar sem sanções (ainda que imperfeita). Dividido em cinco partes e trinta e oito capítulos, num estilo leve e agradável (para mim), contribui para uma melhor compreensão dos enormes esforços e sacrifícios (não raro pessoais) a fim de constituir a modernidade como o momento histórico no qual os direitos individuais liberais (autonomia moral e livre-pensar) puderam surgir.
Uma leitura recomendada nesta época na qual os arcaicos fundamentalismos dão ares de um retorno, pondo em questão as bases da racionalidade moderna construída com enorme esforço no renascimento e iluminismo. E também para responder a uma recorrente questão quanto a ser a filosofia inútil: as ideias movem e transformam o mundo (apesar da opinião de Marx).
Weber Lima