Neste livro, o conhecido astrónomo e divulgador Carl Sagan (1934–1996) apresenta algumas reflexões importantes sobre a religião. O título da obra faz referência ao clássico As Variedades da Experiência Religiosa (1902), de William James, e, como este, baseia-se nas prestigiadas Palestras Gifford, da Universidade de Edimburgo.
Entre outros aspectos interessantes deste livro, Sagan sugere um argumento contra a existência de deuses, baseado no provincianismo das religiões — apesar de Sagan usar a palavra “chauvinismo”, que não quer realmente dizer o que ele pretende. Para se ter uma ideia do que está em causa, comecemos por pensar no número de segundos que há em três mil anos. Esse é o número de estrelas que há só na nossa galáxia. Acontece que avistamos cerca de cem biliões de galáxias. Teremos uma ideia da verdadeira dimensão do universo se pensarmos que no espaço vazio entre as estrelas, e sobretudo entre as galáxias, caberiam muitíssimas mais estrelas do que as que existem.
A visão religiosa do universo parece muito paroquial quando conhecemos algo da sua grandiosidade. O que não é de espantar: as concepções religiosas do universo baseiam-se em tradições orais de povos que desconheciam os aspectos mais básicos da natureza das coisas. Mas a ideia de que Deus criou este imenso universo para os seres humanos parece um absurdo aritmético. É um pouco como fazer um sistema solar inteiro para ter terreno para plantar duas margaridas.
Sagan argumenta também que se os textos religiosos fossem realmente uma mensagem genuína de deuses, poderiam integrar pelo menos algumas informações que só com o desenvolvimento posterior da ciência conseguíramos compreender cabalmente. Poderiam apresentar um resultado sofisticado da matemática, por exemplo, ou da física; poderiam dizer qualquer coisa sobre moléculas ou átomos, sobre a atmosfera de Júpiter ou a combustão que ocorre nas estrelas. Afinal de contas, faz parte dos escritos religiosos a ideia de que contêm mensagens que só mais tarde compreendemos. Contudo, as mensagens dos textos sagrados não contêm tais informações. O que torna mais provável a ideia de que não são realmente mensagens de deuses.
Sagan faz uma útil analogia com o estudo dos pretensos contactos com extraterrestres. Para saber se os muitos relatos de contactos com extraterrestres são genuínos, temos de usar os mais exigentes critérios de prova porque as pessoas têm tendência para se auto-enganar quando isso é para elas emocionalmente reconfortante. Sagan argumenta que quanto à questão de saber se há deuses, ou um só deus chamado Deus, devemos usar precisamente os mesmos critérios exigentes de prova. Mas quando usamos tais critérios, vemos que não há razões para acreditar que há deuses. Há é razões para acreditar que as pessoas estão tão determinadas a acreditar em deuses que estão dispostas a atropelar a verdade para o poderem afirmar. O que mostra que na religião a “Verdade” é uma palavra sem significado que se escreve com maiúscula.