Susan Greenfield é professora de Farmacologia, Medicina e Física em três universidades inglesas, tem-se afirmado como uma neurocientista de relevo e ainda consegue encontrar tempo para a divulgação científica. Além de ter realizado em 1994 as célebres Royal Institution Christmas Lectures, fundadas por Michael Faraday, nos anos seguintes deu regularmente conferências introdutórias sobre o cérebro. Este contacto com o público teve como resultado O Cérebro Humano, um livro acessível que nos proporciona uma visita guiada às neurociências — uma visita bastante breve, mas muito informativa e bem estruturada.
Neste livro Greenfield apresenta-nos o cérebro de vários pontos de vista, começando pelo mais intuitivo. Nos dois primeiros capítulos ocupa-se do cérebro tal como o podemos ver a olho nu e explora as suas regiões principais. Mostra-nos que este não funciona como uma espécie de colecção de pequenos cérebros, cada um com a sua função, deixando claro como, embora ainda haja muito para saber a este respeito, mais de uma região cerebral contribui para a mesma função. No primeiro capítulo, é de destacar a descrição das diversas técnicas de visualização do cérebro que têm permitido avanços decisivos nas neurociências.
O terceiro capítulo convida-nos a apreciar o cérebro à escala microscópica. Greenfield, para além de explicar com algum detalhe o que são os neurónios e como comunicam entre si, diz-nos como esta comunicação é afectada por muitas das drogas mais conhecidas. O quarto capítulo introduz uma nova mudança de perspectiva: dá-nos a oportunidade de seguir o desenvolvimento do cérebro a partir de um óvulo fertilizado. Greenfield tenta mostrar como o cérebro muda em função da experiência para dar origem a um indivíduo único. O quinto e último capítulo, “Com a Mente em Mente”, lida com um dos tópicos mais complexos e fascinantes das neurociências: a memória.
O Cérebro Humano apresenta várias qualidades que importa sublinhar. Greenfield faz uma apresentação criteriosa de casos clínicos, realiza várias incursões oportunas na história da ciência e enriquece a sua exposição com frequentes comparações com o cérebro de outros animais. No entanto, o estilo de Greenfield não é dos mais cativantes, e a autora revela uma certa ingenuidade filosófica nas raras ocasiões em que se afasta dos tópicos estritamente científicos. Podemos encontrar o melhor exemplo disto nos três últimos parágrafos da conclusão, que se resumem a considerações vagas e confusas sobre a natureza da consciência. Mas este é um mal menor: estamos seguramente perante um livro que pode ser caracterizado como uma boa introdução concisa às neurociências.