Alguns pensam que Protágoras de Abdera pertence também ao grupo daqueles que aboliram o critério, uma vez que ele afirma que todas as impressões dos sentidos e todas as opiniões são verdadeiras e que a verdade é uma coisa relativa, uma vez que tudo o que aparece a alguém ou é opinado por alguém é imediatamente real para essa pessoa. Não há dúvida de que no começo do seu livro Raciocínios Demolidores, ele afirmou que “De todas as coisas a medida é o homem, das coisas existentes que existem, e das coisas não existentes que não existem”. E mesmo a afirmação contrária parece testemunhar a favor desta ideia. De facto, se alguém quiser afirmar que o homem não é o critério de todas as coisas, estará a confirmar a afirmação de que o homem é o critério de todas as coisas, uma vez que quem faz a afirmação é ele próprio um homem e ao afirmar o que lhe parece, confessa que a sua própria afirmação é uma das aparências relativamente a si próprio. É por isso também que o louco é um critério fiável das aparências que ocorrem num estado de loucura, aquele que está a dormir das do sono, a criança das da infância e o idoso das da velhice. Não é igualmente correcto rejeitar um conjunto de circunstâncias devido a um conjunto diferente de circunstâncias — quero dizer, as aparências que ocorrem no estado de loucura devido às impressões recebidas num estado mentalmente são, as do sono devido às do estado de vigília e as da infância devido às da velhice. De facto, tal como estas percepções não aparecem aos primeiros, inversamente também as aparências percebidas por estes não afectam aqueles. Como consequência, se o louco, ou aquele que está a dormir, não é um juiz de confiança das aparências que percebe porque está num determinado estado de alma, uma vez que quer o homem são de espírito quer o homem acordado também estão num certo estado de alma, também não serão de confiança para a determinação das suas percepções. Vendo, por conseguinte, que nenhuma impressão é recebida separadamente das circunstâncias, devemos acreditar em cada homem tendo em conta as impressões recebidas nas suas próprias circunstâncias. E, como alguns supuseram, este homem [Protágoras] rejeita o critério porque percebeu que este pretende ser um teste de realidades absolutas e pretende distinguir entre o verdadeiro e o falso, ao passo que o homem ainda agora mencionado não admite a existência seja do que for de absolutamente real ou falso.