egoísmo ético
Perspectiva normativa (ver normativo/descritivo) segundo a qual qualquer agente humano deve agir sempre e unicamente em função daquilo que é efectivamente melhor para si. (Pedro Galvão)
Perspectiva normativa (ver normativo/descritivo) segundo a qual qualquer agente humano deve agir sempre e unicamente em função daquilo que é efectivamente melhor para si. (Pedro Galvão)
Perspectiva descritiva (ver normativo/descritivo) segundo a qual qualquer agente humano age sempre tendo em vista apenas aquilo que julga ser melhor para si. Assim, qualquer acto aparentemente altruísta (por exemplo, arriscar a própria vida para salvar outra pessoa) esconde um motivo egoísta (por exemplo, parecer corajoso aos olhos dos outros). (Pedro Galvão)
Termo grego que significa “forma” ou “ideia”. Platão considerava que as Formas ou Ideias eram imutáveis, imateriais e não podiam ser percepcionadas pelos sentidos, mas eram a realidade última, sendo as coisas quotidianas apenas uma pálida semelhança das Formas. (Desidério Murcho)
Termo grego que significa “interrogatório”, e que costuma ser usado para referir o método usado por Sócrates, que consistia em fazer perguntas aos seus interlocutores com o objectivo de descobrir verdades importantes acerca de conceitos filosóficos centrais, como justiça, bem e verdade. (Desidério Murcho)
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O tipo de sentimento que, segundo alguns filósofos, só as obras de arte conseguem despertar em nós e que se distingue dos sentimentos provocados por quaisquer outros objectos. De acordo com esses filósofos, o que nos permite identificar uma verdadeira obra de arte é o facto de ela provocar em nós um tipo peculiar de emoção, a emoção estética. O filósofo e crítico de arte Clive Bell (1881–1964) considera que há nas obras de arte, e só nelas, uma certa propriedade que provoca em nós emoções estéticas. A essa propriedade dá o nome de forma significante. Nem todos os filósofos admitem a existência de emoções estéticas. (Aires Almeida)
Teoria metaética segundo a qual não há factos morais e, portanto, os juízos morais não têm valor de verdade. Para o emotivista, ao fazer um juízo moral estamos apenas a exprimir certos sentimentos ou atitudes. Isto significa que quando uma pessoa diz, por exemplo, que o aborto é errado, está só a exprimir uma atitude pessoal de reprovação relativamente ao aborto — não está a fazer uma afirmação sobre o aborto que possa ser avaliada como verdadeira ou falsa. Tal como o subjectivismo moral, o emotivismo nega a objectividade da ética. Ver objectivismo/subjectivismo. (Pedro Galvão)
Diz-se do que se refere à experiência sensível. Assim, uma afirmação é empírica se descrever ou de algum modo estiver relacionada com a descrição de um estado de coisas de que temos experiência e puder ser confirmada ou falsificada pela experiência sensível. E o mesmo se aplica em relação às nossas crenças. Ao afirmar que há seres inteligentes extraterrestres estamos a defender uma tese empírica; ao afirmar que Lisboa é maior do que Faro estamos a exprimir uma crença empírica. Isto contrasta com teses ou crenças não empíricas (isto é, conceptuais), como a tese de que 30 + 60 = 90, ou a crença de que o vermelho é uma cor (o que é diferente da crença de que um dado objecto é vermelho). Podemos ainda falar de qualidades empíricas quando dizemos, por exemplo, que determinado objecto é azul. Neste caso trata-se de uma qualidade empírica porque referimos uma característica que pode ser directamente observada, enquanto que as qualidades teóricas são inferidas (ver inferência). Ver também a priori/a posteriori e empirismo. (Aires Almeida)
Perspectiva filosófica de acordo com a qual todo o nosso conhecimento substancial deriva da experiência e das impressões colhidas pelos cinco sentidos (ver a priori/a posteriori). O empirismo divide-se, em geral, em duas posições. A posição segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência, não havendo espaço para o conhecimento a priori (esta é a posição empirista radical); e a posição segundo a qual, apesar de todo o nosso conhecimento substancial derivar da experiência, existe conhecimento a priori, só que este não é substancial, nada nos diz acerca do mundo exprimindo meras relações entre os conceitos (esta é a posição empirista moderada). Um dos primeiros grandes filósofos empiristas foi o inglês do séc. XVII John Locke. Este defendeu que a nossa mente se compara a uma folha de papel em branco (ou a uma tábua rasa, como dizia Aristóteles) na qual os nossos sentidos vão deixando registadas as impressões colhidas do exterior. A mente era vista como uma espécie de recipiente que se vai enchendo à medida que o contacto com o mundo à nossa volta o permite, mas incapaz de ter uma intervenção activa que não seja a interpretação e manipulação dos dados sensíveis. O desrespeito pelos dados sensíveis é que está, segundo o empirista, na origem das interpretações abusivas em que se apoiam as nossas crenças falsas. O empirismo opõe-se, pois, ao racionalismo, o qual defende que podemos obter conhecimento a priori substancial acerca do mundo. O filósofo escocês do séc. XVIII David Hume enfrentou, sempre numa perspectiva empirista, algumas das dificuldades apontadas pelos racionalistas, acabando por tirar a conclusão céptica (ver cepticismo) de que era impossível basear na experiência ideias tão importantes para a ciência como as de causalidade e de universalidade (ver universais). Os ingleses Stuart Mill (séc. XIX), o alemão Rudof Carnap e o filósofo americano W. V. Quine estes já no séc. XX, são alguns dos mais destacados empiristas. São duas as grandes dificuldades que qualquer teoria empirista enfrenta, explicar a forte intuição de que temos conhecimento a priori substancial, e explicar a forte intuição de que existem verdades necessárias. Ver também coerentismo, fundacionalismo, indução, pragmatismo, verificacionismo. (Aires Almeida)
Blackburn, Simon, Pense: Uma Introdução à Filosofia, capítulo 1 (Lisboa: Gradiva, 2001).
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, capítulos 12 e 14 (Lisboa: Temas e Debates, 1999).
Nagel, Thomas, O Que Quer Dizer Tudo Isto?, capítulo 2 (Lisboa: Gradiva, 1995).
Russell, Bertrand, Os Problemas da Filosofia, capítulos V-X (Coimbra: Almedina, 2001).
Um argumento com pelo menos uma premissa não explicitada. Chama-se por vezes “premissa implícita" à premissa não formulada. Na argumentação quotidiana estamos habituados a omitir premissas óbvias. A premissa implícita do argumento “O António devia ser despedido porque roubou dinheiros públicos” é razoavelmente clara: “Todas as pessoas que roubam dinheiros públicos devem ser despedidas”. Mas qual será a premissa implícita do argumento “A droga deve ser proibida porque provoca a morte"? Se a premissa implícita for o princípio geral de que tudo o que provoca a morte deve ser proibido, o seu locutor está obrigado a aceitar que a condução de automóveis deve também ser proibida, o que o autor do argumento original pode não estar disposto a aceitar. Descobrir as premissas implícitas das nossas ideias ou das ideias dos filósofos é uma parte importante do trabalho filosófico. (Desidério Murcho)
Termo utilizado correntemente com o significado de frase, ou mais especificamente, de frase declarativa com sentido, mas que na lógica e na filosofia significa antes aquilo que é expresso por intermédio de uma frase declarativa com sentido. Ver proposição. (Álvaro Nunes)
Juntamente com o estoicismo e o cepticismo, uma das três grandes filosofias do período helenístico. Tem origem na filosofia de Epicuro (341–271 a. C), filósofo grego que em 306 fundou em Atenas uma escola chamada “Jardim”. O epicurismo retoma e desenvolve o atomismo de Leucipo e Demócrito, defendendo que os únicos existentes per se são os corpos, constituídos por átomos, e o espaço vazio, ambos infinitos. O universo é eterno e infinito e o nosso mundo é apenas um entre muitos. O prazer é o único bem e o objectivo natural do ser humano, ao qual todos os outros se subordinam. O sofrimento é o único mal e não existe qualquer estado intermédio. O nosso objectivo principal é minimizar o sofrimento, o que se consegue através de um modo de vida simples e do estudo da física, o qual elimina as duas principais fontes de angústia, o receio dos deuses e da morte, e permite alcançar um estado de tranquilidade ou imperturbabilidade (ataraxia), que constitui a forma de felicidade mais elevada e o objectivo correcto da vida. Ver hedonismo, mal moral, mal natural. (Álvaro Nunes)
Um fenómeno que não tem poderes causais no que respeita a um dado processo, sendo muitas vezes apenas um subproduto do mesmo. Por exemplo, o fumo que vemos e o ruído que ouvimos de um comboio em movimento são causados pelo motor do comboio mas não causam eles o movimento do comboio. Se as propriedades mentais forem epifenomenais, então não podem causar as nossas acções. Esta é a doutrina central do epifenomenalismo. O conceito é importante em filosofia da ciência, filosofia da mente e filosofia da psicologia. (Miguel Amen)
Termo grego que significa “conhecimento” e de onde deriva a palavra “epistemologia”. Aristóteles usava o termo no sentido de conhecimento sistemático racional, a que hoje chamamos “ciência”, mas que para ele incluía a filosofia. (Desidério Murcho)
A disciplina tradicional da filosofia, também conhecida por teoria do conhecimento, que trata de problemas como “o que é o conhecimento?”, “o que podemos conhecer?”, “qual é a origem do conhecimento?”, “como justificamos as nossas crenças?”, envolvendo um conjunto de noções relacionadas entre si, como “conhecer”, “perceber”, “prova”, “crença”, “certeza”, “justificação” e “confirmação”, entre outras. O nome deriva de epistêmê, termo do antigo grego que significa conhecimento. A esse termo opunha-se o termo doxa, que significa opinião. Isto porque, como Platão começou por sublinhar, não é possível conhecer falsidades, sendo contudo possível — e até frequente — ter opiniões falsas. Assim, um dos problemas que desde logo se coloca é o de saber como se alcança o conhecimento e se evita a mera opinião. A célebre teoria das ideias de Platão continha uma resposta para esse problema. Para Platão, só através de um processo racional de afastamento das impressões sensíveis somos conduzidos à contemplação das Ideias perfeitas, de que os objectos captados pelos nossos sentidos são simples cópias imperfeitas. É nas Ideias que reside a verdade, pelo que o chamado “conhecimento sensível” não deve, em rigor, ser considerado conhecimento. A discussão acerca do papel dos sentidos na formação do conhecimento e na justificação das nossas crenças acabou por dar lugar a duas grandes doutrinas epistemológicas rivais: o empirismo e o racionalismo. Empiristas como os britânicos Locke, Hume e Berkeley defendem que todo o conhecimento substancial provém da experiência sensível, enquanto os racionalistas, como o francês Descartes e o alemão Leibniz, consideram que o conhecimento, se correctamente entendido, deve exibir as marcas da universalidade (ver universal) e da necessidade (ver necessário), características que de modo algum dependem da experiência. Assim, para os racionalistas nem todo o conhecimento deriva da experiência sensível. Kant, procurou determinar com exactidão como se constitui o conhecimento, concluindo que este depende tanto da matéria fornecida pelos sentidos como das formas a priori do pensamento a que os dados sensíveis têm de se submeter. Kant opõe-se assim tanto ao empirismo como ao racionalismo tradicional.
A justificação das nossas crenças é outro dos problemas epistemológicos que têm gerado importantes debates. Há filósofos que defendem que por muito boas que sejam, as nossas justificações nunca conseguem ser inteiramente satisfatórias, vendo-nos assim permanentemente confrontados com dúvidas insuperáveis. Este problema é também conhecido por “problema do cepticismo”, uma vez que os cépticos acabam por concluir, aparentemente de forma justificada, que o conhecimento não é possível. No sentido de evitar o cepticismo, muitos filósofos procuraram um fundamento para o conhecimento, isto é, um reduzido número de certezas inabaláveis a partir das quais se estrutura todo o nosso sistema de crenças. Essas certezas tanto podem pertencer ao domínio da razão como da experiência, consoante as inclinações racionalistas ou empiristas do filósofo. A este ponto de vista chama-se fundacionalismo, e Descartes constitui um dos exemplos mais conhecidos. Mas há também quem não aceite qualquer tipo de fundamento último para o conhecimento, sem contudo aderir ao cepticismo. É o caso dos defensores do coerentismo, para quem as nossas crenças se apoiam mutuamente umas nas outras sem precisarem que uma delas sustente as restantes. À maneira de uma rede ou das inúmeras peças de madeira de que é feito um barco, permitindo-lhe flutuar no mar sem se afundar — esta é a metáfora de Otto Neurath (1882–1945) —, o importante é que as crenças sejam coerentes entre si.
Mais directamente ligado ao que se passa com a ciência, embora não só, há o chamado problema da indução, a propósito do qual se discute se o tipo de justificação baseado em inferências indutivas é ou não aceitável. Podemos ainda encontrar problemas de epistemologia da religião, tratando-se aí da justificação das crenças religiosas; epistemologia da matemática, etc. (Aires Almeida)
Blackburn, Simon, Pense, Capítulo 1 (Lisboa: Gradiva, 2001).
Dancy, Jonnathan, Epistemologia Contemporânea (Lisboa: Edições 70, 1990).
Nagel, Thomas, O Que Quer Dizer Tudo Isto?, Capítulo 2 (Lisboa: Gradiva, 1995).
Russell, Bertrand, Os Problemas da Filosofia (Coimbra: Almedina, 2001).
Warburton, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia, Capítulo 4 (Lisboa: Gradiva, 1998).
Termo grego que refere a suspensão da crença. O termo era usado pelos cépticos da Antiguidade Grega, como Pirro de Élis (c. 365-275 a. C.), o fundador do cepticismo grego, para referir o estado de não comprometimento por ele defendido perante teses ou teorias opostas; assim, perante a questão de saber se Deus existe ou não, Pirro defenderia a suspensão da crença ou epochê em relação a ambas as teses. O mesmo termo foi usado já no séc. XX por Edmund Husserl (1859-1938), o fundador da fenomenologia, para referir o acto de “pôr entre parênteses” as nossas crenças de senso comum, nomeadamente a de que o mundo exterior existe, adoptando uma postura mais reflectida e genuinamente filosófica. (Desidério Murcho)
A noção de equidade exprime a intuição moral básica de que todos os seres humanos merecem, à partida, igual consideração. Isto significa que o bem-estar de qualquer ser humano, independentemente das suas características e condição, tem, à partida, a mesma importância que o bem-estar de qualquer outro ser humano. Ver também Rawls, John. (Faustino Vaz)
Duas afirmações são equivalentes se se implicam mutuamente (ver implicação). Há portanto tantos tipos de equivalência quantos os tipos admitidos de implicação. Por exemplo, a equivalência material entre duas afirmações P e Q ocorre quando elas se implicam materialmente entre si, isto é, quando não se tem que P é verdadeira e Q falsa nem vice-versa (ou seja, quando P e Q têm o mesmo valor de verdade); neste caso, é o mesmo que bicondicional. Um tipo de equivalência mais forte (e mais próximo do uso corrente do termo) verifica-se quando duas afirmações são logicamente equivalentes, caso em que têm necessariamente o mesmo valor de verdade (ver necessário/contingente). (Pedro Santos)
Termo grego que significa “amor erótico”. Na Antiguidade Grega, os filósofos contrastavam o amor erótico com a amizade entre amigos, a que chamavam philia e de onde deriva o termo português “filial”. Mais tarde, os filósofos cristãos opunham o amor erótico ao amor cristão pelo próximo (agapê). (Desidério Murcho)
O termo “escolástica” significa, literalmente, a filosofia “da escola”, isto é, a filosofia que se praticou nas universidades europeias medievais, fundadas no século XIII, em particular as de Paris e Oxford, embora se inclua na escolástica os “mestres de dialéctica" (ver Dialéctica) anteriores como Abelardo e Pedro Lombardo (1095-1160). A escolástica caracterizou-se por traduzir, estudar e comentar as obras de Aristóteles, e por integrá-las na teologia cristã, mas não se limitou a isso, pois os filósofos escolásticos também discutiram e defenderam teorias originais em lógica, metafísica, filosofia da linguagem e epistemologia. Uma das inovações importantes da filosofia escolástica foi a prática das disputas, em que os alunos tinham de defender uma dada tese ou a sua contrária, pondo à prova as aptidões argumentativas (ver argumento). Entre os principais autores deste período estão Tomás de Aquino, Duns Escoto e Guilherme de Ockham. As preocupações fundamentais destes autores incluíam, na epistemologia, a relação entre a razão e a fé, e, na metafísica, o chamado problema dos universais, que opõe duas grandes doutrinas, o nominalismo e o realismo, e é ainda um dos debates fundamentais da metafísica contemporânea. (Vítor Guerreiro)
Expressão latina que significa “ser é ser percepcionado”. Ver Berkeley.
A essência de uma coisa é uma propriedade essencial individuadora dessa coisa. Ou seja, é uma propriedade que uma coisa tem, que não poderia deixar de ter e que a distingue de todas as outras coisas. Por exemplo, a essência da água é ser H2O. Não se deve confundir essência com propriedade essencial, pois nem todas as propriedades essenciais são individuadoras. Por exemplo, o código genético de um organismo é uma propriedade essencial desse organismo; mas não é uma propriedade que o distingue de outros organismos que podem ter o mesmíssimo código genético — os seus irmãos gémeos. (Desidério Murcho)
Ver definição essencialista.
A noção moderna de estado surgiu com Maquiavel e Hobbes, e inclui os seguintes aspectos: a) uma população formada por membros socialmente relacionados entre si; b) um território; c) um governo que tem o poder de estabelecer leis e usar a coerção, de modo a regular o comportamento dos indivíduos dentro de certos limites; d) independência e reconhecimento político de outros estados. Um debate importante em filosofia política é o de saber qual deve ser o papel do estado na regulação da vida dos indivíduos. Filósofos como John Locke e Robert Nozick (1938-2002) defendem que o papel do estado deve ser muito limitado, de modo a não pôr em causa a liberdade individual (ver liberalismo). John Rawls, por sua vez, acha que o estado deve intervir para garantir uma maior justiça social. Os anarquistas defendem que a existência do estado não se justifica. (Aires Almeida)
Uma das disciplinas tradicionais da filosofia, que aborda um conjunto de problemas e conceitos por vezes muito diferentes entre si. A estética começou por ser sobretudo uma teoria do belo, depois passou a ser entendida como teoria do gosto e nos nossos dias é predominantemente identificada com a filosofia da arte. Há fortes razões para considerar que estas três formas de encarar a estética não são apenas diferentes maneiras de abordar os mesmos problemas. É certo que gostamos de coisas belas que também são arte, mas não deixa de ser verdade que as coisas que consideramos belas, aquelas de que gostamos e as que são arte, formam conjuntos distintos. Afinal, até é banal gostarmos de coisas que não são belas e muito menos arte; assim como podemos nomear obras de arte de que não gostamos nem consideramos belas.
Enquanto teoria do belo, a estética defronta-se com problemas como “O que é o belo?” e “Como chegamos a saber o que é o belo?”. Estas são perguntas que já Platão colocava no séc. IV A.C e que só indirectamente diziam respeito à arte, pois a arte consistia, para ele, na imitação das coisas belas. Razão pela qual Platão tinha uma opinião desfavorável à arte, ao contrário do seu contemporâneo Aristóteles, para quem a imitação de coisas belas tinha os seus próprios méritos.
Já para os filósofos do séc. XVIII, como Hume e Kant, é no campo da subjectividade que se encontra a resposta para o problema do belo. A estética transformou-se, assim, em teoria do gosto, cujo problema central passou a ser o de saber como justificamos os nossos gostos. O subjectivismo estético é a doutrina defendida por estes dois filósofos, embora com tonalidades diferentes. A doutrina rival é o objectivismo estético e é bem representado pelo filósofo americano contemporâneo Monroe Beardsley (1915-85), para quem o belo não depende dos gostos pessoais, mas da existência de certas características nas próprias coisas.
Finalmente, as revoluções artísticas dos dois últimos séculos, ao alargar de tal modo o universo de objectos que passaram a ser catalogados como arte, acabaram por despertar nos filósofos vários problemas que se tornaram o centro das disputas estéticas. É o caso dos problemas de filosofia da arte como “O que é arte?” e “Qual o valor da arte?”, entre outros. Quanto ao problema da definição de arte, há três tipos de teorias: as essencialistas — teorias da representação, da expressão e formalista —, as não-essencialistas — teorias institucionais, de filósofos como o americano George Dickie (n. 1936) — e as que, inspiradas no filósofo austríaco Wittgenstein, consideram ser impossível definir “arte”. Relativamente ao problema do valor da arte, encontramos dois tipos de teorias: as que defendem que a arte tem valor em si — teorias da arte pela arte, tendo Oscar Wilde (1854-1900) como defensor mais conhecido — e as que defendem que a arte tem valor porque tem uma função (teorias funcionalistas), seja ela social, moral, terapêutica, lúdica ou cognitiva. A função cognitiva é das mais discutidas e o filósofo americano contemporâneo Nelson Goodman é um dos seus mais importantes defensores, considerando a arte uma importante forma de conhecimento. Ver também cognitivismo estético, esteticismo, funcionalismo estético. (Aires Almeida)
Graham, Gordon, Filosofia das Artes (Lisboa: Edições 70, 2001).
Warburton, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia, capítulo 7 (Lisboa: Gradiva, 1998).
Townsend, Dabney, Introdução à Estética (Lisboa: Edições 70, 2002).
Doutrina segundo a qual a arte tem valor em si e não porque cumpre alguma função ou propósito exterior a si. O esteticismo opõe-se às teorias funcionalistas (ver funcionalismo estético), de acordo com as quais a arte tem uma função, seja ela moral, política, lúdica, cognitiva ou outra qualquer. Oscar Wilde (1854-1900), um dos mais destacados defensores do esteticismo, considera que a arte se eleva acima de tudo o resto precisamente porque é inútil. Isto não significa que não existam obras de arte que são criadas tendo em vista certos objectivos (é o caso das obras de arte religiosa e da arte de intervenção), mas o seu valor não depende de tais objectivos serem ou não alcançados. O que torna uma obra de arte bela ou digna de admiração são as suas características internas e tudo o mais constitui, em muitos casos, um defeito que só prejudica a própria obra. O esteticismo identifica-se em grande parte com a conhecida teoria da arte pela arte, que surgiu em França com figuras como o poeta Baudelaire (1821–67). Ver também formalismo estético. (Aires Almeida)
Corrente filosófica fundada por Zenão de Cítio (332–264 a.C.) no terceiro séc. antes da era cristã e que está associada a pensadores como Séneca (4 a.C.-65 d.C.), Epicteto (50–138 d. C.) e o imperador romano Marco Aurélio (121–180 d. C.). Para os estóicos, a filosofia tem como finalidade essencial formar o homem sábio. A Sabedoria consiste na prática da virtude, em viver de acordo com a natureza ou a ordem racional (logos) do universo. O logos é a divindade imanente ao mundo e tudo governa necessariamente. O Sábio, com serenidade e autodomínio, compreende o carácter necessário do que acontece. O estoicismo desenvolveu a primeira moral de tipo universal fundada na igualdade de princípio de todos os homens (considerados cidadãos do mundo — cosmopolitismo). Em lógica devemos a Crisipo (279-206 a.C.) a análise de enunciados compostos tais como condicionais e disjuntivos e a identificação das formas padrão de raciocínio que vieram a ser conhecidas pelo nome de modus ponens e modus tollens. (Luís Rodrigues)
Disciplina tradicional da filosofia, também conhecida por filosofia moral, que enfrenta o problema de saber como devemos viver.
A área da ética que lida com este problema da forma mais directa é a ética normativa. A ética normativa ocupa-se em grande medida de dois problemas mais específicos: 1) O que é agir de uma forma moralmente acertada? 2) O que torna boa ou valiosa a vida de uma pessoa? Ao tentar responder a esta perguntas, os filósofos propõem, respectivamente, teorias da obrigação e teorias do valor. As primeiras só floresceram a partir do séc. XVIII e exprimem-se em princípios, como o imperativo categórico de Kant, que nos proporcionam um padrão para determinar aquilo que é moralmente obrigatório ou permissível fazer. Há dois tipos fundamentais de teoria da obrigação. Quem, como Mill, Hare ou Singer, defende uma ética consequencialista, pensa que para determinar o que devemos ou podemos fazer precisamos apenas de avaliar as consequências dos nossos actos: a melhor opção ética é sempre aquela que dará origem aos melhores resultados. Quem, como Kant, defende uma ética deontológica, julga que a nossa prioridade enquanto agentes morais é evitar realizar certos tipos de actos — ou, como dizem alguns deontologistas, respeitar certos direitos.
O interesse pelas teorias do valor remonta à Antiguidade. Filósofos como Aristóteles, bem como os representantes do epicurismo, do estoicismo e de outras escolas, esforçaram-se por compreender o que é ter uma vida boa. Grande parte do debate sobre esta questão constitui-se a partir de duas perspectivas contrárias: enquanto alguns autores defendem que temos uma vida boa na medida em que conseguimos satisfazer os nossos desejos, outros pensam que aquilo que torna a nossa vida boa é a presença de certos bens que têm valor independentemente de serem desejados, como o conhecimento, a amizade e a apreciação da beleza. Entre os filósofos que subscrevem esta segunda perspectiva, encontramos os defensores do hedonismo, que pensam que na verdade há um único bem fundamental: o prazer.
O desenvolvimento da ética normativa conduziu, há algumas décadas, ao aparecimento de outra área da filosofia moral — a ética aplicada. Nesta área discute-se o que é obrigatório ou permissível fazer pensando em certos problemas morais concretos que dividem as pessoas. Discute-se, por exemplo, em que circunstâncias é permissível uma mulher fazer um aborto, se a pena de morte é errada, se as pessoas devem ter o direito de usar armas, até que ponto é aceitável o uso de animais em experiências científicas e que tipo de conduta é apropriado durante uma guerra. Um segmento importante da ética aplicada, no qual se incluem algumas destas questões, é a bioética.
A metaética é a terceira área principal da filosofia moral, distinguindo-se das outras duas não só por ser mais abstracta (ver abstracto/concreto), mas também por não possuir um carácter normativo (ver normativo/descritivo). Nesta área, o objectivo não é saber o que devemos fazer ou valorizar, isto é, não é defender determinados juízos morais — na metaética discute-se antes o que querem dizer os nossos juízos morais e como podemos avaliá-los. Ver contratualismo, ética das virtudes. (Pedro Galvão)
Singer, Peter, Ética Prática (Lisboa: Gradiva, 2000).
Ramo da ética também designado “ética prática” em que, diferentemente da metaética e das teorias normativas da ética, se discutem directamente questões práticas da ética como o aborto, a eutanásia, a pena de morte, a clonagem, a pobreza, o ambiente, a pornografia, etc. Ver também bioética. (Aires Almeida)
Inspirados em Aristóteles, os que defendem uma ética das virtudes procuram geralmente uma alternativa tanto à ética consequencialista como à ética deontológica. Ao passo que estes dois tipos de ética se concentram na procura de princípios morais que regulem a conduta, a ética das virtudes tenta examinar os traços de carácter próprios de um agente virtuoso, como a coragem, a benevolência ou a honestidade. Assim, para muitos defensores da ética das virtudes o que interessa primariamente não é saber que actos devemos realizar, mas que tipo de pessoa devemos ser. (Pedro Galvão)
Quem defende uma ética deontológica, por oposição a quem defende uma ética consequencialista, pensa que agir moralmente não é apenas uma questão de produzir bons resultados e evitar maus resultados. Os deontologistas defendem que temos deveres que nos obrigam a não realizar certos tipos de actos, de tal maneira que não podemos realizá-los mesmo quando a sua realização permitiria evitar um mal maior. Afirmam, por exemplo, que temos o dever de não matar pessoas inocentes, querendo dizer com isso que é errado matar uma pessoa inocente mesmo que matá-la seja a única maneira de impedir que alguém mate várias pessoas inocentes. Ver dever, direitos, imperativo categórico. (Pedro Galvão)
Termo grego para eudemonia: bem-estar ou felicidade. Segundo Aristóteles, a felicidade não consiste na posse de bens materiais e é o máximo bem a que todas as pessoas naturalmente aspiram. Para o estoicismo, a felicidade não é um fim (telos), como para Aristóteles, mas simplesmente algo que resulta da vida harmoniosa. (Aires Almeida)
O termo foi criado em 1883 por Francis Galton, influenciado pela ideia de selecção natural, de Darwin, para designar a selecção de características hereditárias de modo a melhorar as gerações futuras. Entre os meios habitualmente propostos para atingir esse objectivo contam-se os cruzamentos selectivos, o controlo da natalidade, os cuidados pré-natais, a fertilização in vitro e a engenharia genética. Estes meios são geralmente designados por “eugenia positiva”. Outros meios incluem o aborto, o infanticídio, a eutanásia, a esterilização forçada e a eliminação de populações consideradas geneticamente defeituosas. Estes meios caem sob a designação de “eugenia negativa”, e foram largamente implantados na Alemanha nazi, entre meados da década de 30 do séc. XX e o termo da Segunda Guerra Mundial. Durante os anos 30, a eugenia foi defendida por intelectuais proeminentes, como George Bernard Shaw e John Maynard Keynes, e condenada por outros, como G. K. Chesterton, que a considerava imoral. Nessa época, todavia, a ideia conheceu considerável popularidade nos meios científicos, tendo-se tornado, inclusivamente, uma disciplina académica em muitas universidades. A ideia de eugenia contribuiu para o investimento no combate a doenças hereditárias como a hemofilia ou a doença de Huntington. A sua reputação científica, porém, decaiu significativamente não só na sequência das políticas raciais da Alemanha nazi, mas também devido ao debate acerca da sua eventual contaminação por conceitos extracientíficos como os de classe social ou pureza racial. Actualmente, os desenvolvimentos da genética e das tecnologias reprodutivas relançaram o debate sobre se, e até que ponto, certas práticas são ou não eugénicas e se serão, nesse caso, morais ou imorais. (Artur Polónio)
Ver dilema de Êutifron.
Ver falácia da exclusão.
A questão de saber que coisas existem é o tema central em ontologia. Discutem-se assuntos como a existência ou não de objectos abstractos, tais como universais, proposições (ver proposição) e números, e que tipo de existência têm objectos ficcionais como Sherlock Holmes ou Frodo Baggins. Uma segunda questão é a de saber o que é a existência. Alguns filósofos defendem que a existência é (pelo menos por vezes) uma propriedade de objectos isto é, uma propriedade de primeira ordem como a propriedade de ser alto ou bonito. Outros filósofos defendem que a existência nunca é uma propriedade de objectos, mas antes uma propriedade de propriedades isto é, uma propriedade de segunda ordem. Ou seja, quando dizemos que Pégaso não existe, não estamos a dizer que Pégaso não tem a propriedade da existência mas que a propriedade de ser Pégaso não tem objectos na sua extensão isto é, nada existe com a propriedade de ser Pégaso. (Célia Teixeira)
Ver sentido da vida.
Ver quantificador existencial.
Movimento filosófico constituído por diversas doutrinas unidas por dois aspectos fundamentais: 1) o objecto da sua reflexão é a existência humana entendida como realidade individual concreta que não se explica nem se demonstra mas unicamente se descreve; 2) reage contra a identificação hegeliana entre realidade e racionalidade porque a existência não está iluminada pela luz da razão. Afirmar, como o fez Hegel que tudo o que é real é racional implica desvalorizar os aspectos dramáticos, angustiantes, imprevisíveis e absurdos que caracterizam a existência humana. O existencialismo pretende falar do ser humano concreto. Nada lhe dizem as ideias ou noções abstractas nem os grandes sistemas racionais que tudo julgam poder explicar e solucionar. O que lhe interessa é descrever o indivíduo, a realidade singular em devir, dramaticamente comprometida ou envolvida nas suas escolhas e opções. O principal representante da corrente existencialista é Sartre, embora se considere que as raízes da filosofia existencialista remontam pelo menos a Kierkegaard. O filósofo dinamarquês revoltou-se contra a crença tipicamente hegeliana de que a razão podia resolver os problemas fundamentais da vida fossem eles morais, religiosos, políticos ou artísticos. O resultado desta confiança cega na razão foi a construção de poderosos sistemas filosóficos que tudo pretendiam explicar mas cujo grau de abstracção era tal que perdiam de vista a realidade concreta individual ou lhe atribuíam pouca importância. Autenticidade, responsabilidade, escolha, angústia, singularidade, absurdo, são alguns dos conceitos que o movimento existencialista encontra em Kierkegaard e utilizará conforme a orientação dos seus representantes. Sartre representa o existencialismo ateu, Gabriel Marcel o existencialismo cristão. Outros pensadores, como Heidegger e Karl Jaspers (1883-1969), e Albert Camus (1913-1960), são por alguns historiadores da filosofia incluídos neste movimento muito heterogéneo. (Luís Rodrigues)
Conhecimento que se obtém directamente da observação do mundo à nossa volta. Diz-se que se obtém directamente porque não é o resultado de qualquer inferência. Em termos mais precisos, dá-se o nome de “experiência” aos dados dos sentidos, ou sensações, em que tal conhecimento se baseia. Finalmente, o termo usa-se ainda, no sentido de experimentação, para referir o que os cientistas fazem para testar e compreender as consequências das suas teorias, nomeadamente através da manipulação de fenómenos e de simulações laboratoriais. Ver também empirismo. (Aires Almeida)
Diz-se muitas vezes que uma experiência é estética se for originada por objectos belos ou obras de arte. Alguns filósofos consideram este um tipo especial de experiência, diferente de qualquer outra experiência, e que só ocorre quando contemplamos objectos estéticos. Kant procura caracterizar (se bem que indirectamente, referindo-se antes aos juízos) a diferença que há entre uma experiência estética e uma experiência não-estética, dizendo que aquela é desinteressada e esta não. Quer com isso dizer que a experiência estética não procura satisfazer qualquer tipo de necessidade prática nem tem qualquer finalidade exterior a si. Esta caracterização não é aceite por aqueles que consideram haver experiências marcadas pelo desinteresse, mas que não são estéticas, como jogar matraquilhos. Alguns filósofos defendem que a estética consiste na análise e discussão da experiência estética. Outros, como o filósofo americano George Dickie (n. 1926), acham que não existe tal coisa. Ver também atitude estética e juízo estético. (Aires Almeida)
Na impossibilidade de realizar experiências científicas (ver experiência), muitos filósofos desenvolvem situações ou acontecimentos imaginários, a que se dá o nome de “experiências mentais”. As experiências mentais são uma forma de saber até que ponto as teorias filosóficas são plausíveis e, simultaneamente, uma forma de argumentar, estabelecendo casos possíveis que as possam refutar. De filósofos antigos, como Platão e a sua alegoria da caverna, a contemporâneos, como John Searle e o seu Quarto Chinês, passando por Descartes e o seu génio maligno, são muitos os que recorrem a experiências mentais. (Aires Almeida)
1. Diz-se daquele tipo de experiência em que se tem uma percepção ou se sente a manifestação de uma divindade. Um exemplo de uma experiência desse tipo é a que é atribuída aos Pastorinhos de Fátima quando afirmam ter visto Nossa Senhora. A existência ou não de experiências religiosas tem um papel importante em filosofia da religião, pois estas são por vezes usadas como prova da existência de Deus. A experiência religiosa é discutida no âmbito da epistemologia da religião.
2. Num sentido popular, as actividades decorrentes da prática de uma religião, como ir à missa e rezar, são vistas como experiências religiosas. Ver milagres, filosofia da religião. (Célia Teixeira)
Numa explicação, o explanandum é aquilo que queremos explicar; o explanans consiste na informação aduzida para explicar aquilo que queremos explicar. Segundo a perspectiva padrão, todas ou muitas das explicações científicas obedecem ao modelo nomológico-dedutivo. De acordo com este modelo, explicar cientificamente um acontecimento é mostrar que, dadas as condições reunidas na altura da sua ocorrência (as chamadas “condições iniciais”) e as leis da natureza, esse acontecimento tinha de ocorrer. Por exemplo, imagine-se que queríamos explicar a dilatação de um certo pedaço de metal. A explicação poderia apresentar-se assim: 1) Todo o metal dilata quando é aquecido; 2) Este pedaço de metal foi aquecido; 3) Logo, este pedaço de metal dilatou. Em 3 encontramos o explanandum, isto é, o acontecimento que queremos explicar. Em 1 e 2 encontramos o explanans — uma lei da natureza e uma condição inicial, respectivamente. Explicamos o acontecimento deduzindo 3 da lei e da condição. Muitos filósofos pensam que este modelo não se aplica às ciências sociais. Ver argumento, dedução, lei da natureza, unidade da ciência. (Pedro Galvão)
Ver definição explícita.
1. A extensão de um termo é a totalidade dos objectos a que se refere. Por exemplo, a extensão do predicado “ser português” é o conjunto dos portugueses. Dois termos com a mesma extensão podem exprimir conceitos diferentes e assim ter intensões (com s) diferentes: “O Presidente da República em 2003” e “O marido de Maria José Ritta” têm ambos como extensão Jorge Sampaio, mas identificam-no através de condições diferentes. Diz-se que, numa frase, uma expressão ocorre num contexto extensional quando pode ser substituída por uma expressão com a mesma extensão sem que isso altere o valor de verdade da frase; caso contrário, diz-se que ocorre num contexto intensional. Assim, em “João viu a Miss Portugal”, a expressão nominal “a Miss Portugal” ocorre num contexto extensional, pois se a substituirmos por “a filha do Mendes" (por hipótese, com a mesma extensão) o valor de verdade da frase original não se altera. Pelo contrário, em “João procura a Miss Portugal”, a mesma expressão ocorre num contexto intensional, visto que essa frase e “João procura a filha do Mendes” podem ter valores de verdade diferentes (o João pode procurar a Miss Portugal sem saber que ela é a filha do Mendes).
2. A propriedade daquilo que é extenso, isto é, do que tem existência material (ver matéria). Ver também intensão, referência. (Pedro Santos)