Menu
Crítica
10 de Fevereiro de 2009   Ética

Riqueza e a vida boa

Lucas Miotto Lopes
Sobre Ética e Economia
de Amartya Sen
Tradução de Laura Teixeira Motta
São Paulo: Companhia das Letras, 1999, 144pp.

Nos tempos de crise econômica os meios de informação ficam abarrotados de estudos empíricos, suposições de causas incertas, conjecturas de especialistas e dos que arriscam palpites ao vento a fim de demonstrar sua pseudo-erudição. São, como muitos dizem, tempos de oportunidades, tempos de mudança. Mas oportunidades do quê? Mudanças do quê? Será mesmo que a elaboração de bilionários planos econômicos é a solução última que a economia pode realizar atualmente? Talvez haja uma lacuna, uma parte perdida que poderia direcionar a economia a um fim menos arenoso; e é dessa parte perdida que Amartya Sen nos fala nesse livro: a ética.

Nesse pequeno livro, resultado de algumas conferências proferidas pelo autor em Berkeley no ano de 1986, Sen examina com sua linguagem clara e argumentos bem definidos a dissociação da ética e da economia que empobreceu tanto as análises econômicas quanto a filosofia moral. De fato, Sen defende que o que ocorreu foi uma dissociação e não uma falta de aproximação, pois desde Aristóteles a preocupação com a riqueza e os fins humanos relacionava-se com a pergunta ética “Como devemos viver?”. Dessa forma, o estudo da economia não só estava ligado à busca da riqueza, mas também à busca por objetivos mais básicos que garantiriam a vida boa. Além disso, o autor mostra que filósofos como Stuart Mill e Adam Smith também realizaram estudos econômicos levando em consideração questões éticas.

O principal argumento do autor para sustentar a tese da dissociação entre ética e economia é que a metodologia da economia moderna e, principalmente, da economia contemporânea, ao dar mais ênfase às análises econométricas e assumir como pressuposto o comportamento individual auto-interessado baseado na “escolha racional”, deixou de lado toda a complexidade analítica que a ética poderia oferecer ao estudo do comportamento humano real, bem como a contribuição da economia de “bem-estar”, a qual se ocupa justamente de questões sociais.

Sen também defende que a economia moderna e contemporânea, apesar de desprezar as questões éticas também pode oferecer à filosofia moral e à economia de bem-estar métodos e modelos que facilitariam a compreensão de certos aspectos da sociedade. Em suma, a análise logística da economia moderna combinada com a ética e com a economia de bem-estar poderia gerar benefícios mútuos.

Outro ponto relevante é que nessas análises econômicas os direitos, fundamentais para o funcionamento da economia, bem como para a vida coletiva em si, são vistos meramente como instrumentos para obtenção de eficiência e outros bens, ou utilidades. Não há qualquer valor intrínseco no gozo de direitos, nem mesmo na sua existência.

O autor, ao discorrer sobre alguns pontos, não se aprofunda em seus pormenores, o que faz a obra ter caráter introdutório, fato que pode decepcionar alguns leitores mais avançados. Mas para esses leitores Sen sempre indica boas referências bibliográficas sobre tais pontos. É uma obra imprescindível para os interessados em filosofia e economia, seja pela centralidade dos temas abordados, seja por sua simplicidade, clareza e consistência.

Lucas Miotto Lopes

Copyright © 2024 criticanarede.com
ISSN 1749-8457