Francis Bacon (1561–1626) foi um filósofo, ensaísta e metodólogo inglês. Na política, ascendeu à posição de Lorde Chanceler. Em 1621 afastou-se da vida pública, depois de ser condenado por aceitar subornos no exercício das suas funções oficiais como juiz.
Bacon advogou o novo empirismo que resultava dos feitos da ciência moderna dos primórdios. Opunha-se ao alegado conhecimento baseado em apelos à autoridade, e à esterilidade da escolástica. Pensava que era preciso uma nova atitude e uma nova metodologia, estritamente baseadas nas práticas científicas. O objectivo da aquisição de conhecimento é o bem da humanidade: conhecimento é poder. A ordem social que deveria resultar da ciência aplicada é retratada em A Nova Atlântida (1627). O método da indução a ser usado é desenvolvido em detalhe em Novum Organum (1620). Esta nova lógica deverá substituir o silogismo aristotélico, tal como a indução por simples enumeração de instâncias. Nenhuma destas lógicas mais antigas pode produzir conhecimento das leis reais da natureza. Bacon pensava que temos de intervir na natureza, manipulando-a por meio do controlo experimental que leva à invenção de novas tecnologias.
Há obstáculos bem conhecidos à aquisição do conhecimento das leis causais. A esses obstáculos (opiniões falsas, preconceitos), que “antecipam” a natureza em vez de explicá-la, chama Bacon “ídolos” (idola). Os ídolos da tribo (idola tribus) são tendências mentais naturais, entre as quais se conta a procura vã de propósitos na natureza, e o impulso para ver os nossos próprios desejos e necessidades na natureza. Os ídolos da caverna (idola specus) são predisposições de indivíduos particulares. Os indivíduos tendem a formar opiniões com base nas idiossincrasias da educação, das relações sociais, das leituras, e das autoridades favoritas. Bacon considera que os ídolos do mercado (idola fori) são potencialmente as mais perigosas de todas as disposições, porque surgem de usos comuns da linguagem, de que resultam com frequência disputas verbais. Muitas palavras, apesar de se considerar que têm significado, nada referem; outras, apesar de referirem coisas reais, estão mal definidas ou são usadas de maneiras confusas. Os ídolos do teatro (idola theatri) dependem da influência das teorias recebidas dos predecessores. A única autoridade que essas teorias têm é tratar-se de construções verbais engenhosas. O objectivo da aquisição genuína de conhecimento não depende de competências superiores no uso de palavras, mas antes da descoberta de leis da natureza. Depois de eliminados os ídolos, o espírito fica apto a procurar o conhecimento das leis da natureza, com base na experimentação. Bacon sustentava que nada existe na natureza excepto corpos (objectos materiais) actuando em conformidade com leis fixas. Estas leis são “formas”. Por exemplo, Bacon pensava que a forma ou causa do calor é o movimento de minúsculas partículas que constituem um corpo. Esta forma é aquilo de que depende a existência do calor. O que a indução procura mostrar é que certas leis têm uma aplicação perfeitamente geral, universal. Em todos os casos de calor, há uma mudança mensurável no movimento das partículas que constituem o corpo em movimento.
Bacon pensava que a indução científica funciona da seguinte maneira: primeiro, procuramos aqueles casos nos quais, dadas certas mudanças, outras invariavelmente se seguem. Para usar o seu exemplo, se ocorrem certas mudanças na forma (movimento de partículas), segue-se sempre o calor. Tentamos encontrar todas as “instâncias positivas” da forma que dão origem ao efeito dessa forma. De seguida, investigamos as “instâncias negativas”, casos onde, na ausência da forma, a mudança qualitativa não tem lugar. Na operação destes métodos é importante tentar produzir experimentalmente “instâncias prerrogativas”, exemplos particularmente marcantes ou típicos do fenómeno sob investigação. Por último, nos casos em que o objecto de estudo está presente num grau maior ou menor, temos de conseguir ter em conta a razão de ser dessas mudanças. No exemplo anterior, mudanças quantitativas no grau de calor estarão correlacionadas com mudanças quantitativas na velocidade das partículas. Este método implica que em muitos casos podemos inventar instrumentos para medir mudanças de grau. Essas invenções são, é claro, o resultado esperançoso da investigação científica, porque a sua posse melhora a condição dos seres humanos.
A metodologia empirista notavelmente moderna (mas não inteiramente nova) de Bacon influenciou figuras do século XIX (e.g., Sir John Herschel e J. S. Mill), que generalizaram os seus resultados e os usaram como base para mostrar novas ideias perspicazes sobre a metodologia científica.