A filosofia da música é o estudo acerca do que é a música e de como esta tem significado. Associadas a estes assuntos abrangentes e abstractos estão questões que têm a ver com a composição, a execução e a audição:
Estes são os tópicos que ocuparam os filósofos (na tradição ocidental) a partir dos gregos, e embora a música e a filosofia tenham ambas sofrido muitas mudanças durante esse período, as teorias essenciais acerca da natureza da música continuaram a resistir admiravelmente durante muito tempo, o que significa também que se mostraram notavelmente difíceis de justificar ou desacreditar.
Algumas dessas teorias têm a ver com a expressão. Se afirmamos (e de nenhum modo todos os filósofos o afirmam) que a música exprime sentimentos, é ainda bastante discutível o que isto signifique. Será que os compositores traduzem deliberadamente para notas no papel sentimentos que os executantes então traduzem novamente para sentimentos? Ou será que tudo isto acontece inadvertidamente, enquanto as pessoas envolvidas se ocupam de outros assuntos, de forma, execução e compreensão? Em qualquer dos casos, como ocorrem estas traduções? Haverá algum código? Se há, será que depende da natureza do ouvido e do som ou da convenção? Será que a música imita o discurso e os gestos de uma pessoa agitada, ou será que tem uma linguagem expressiva própria? Devemos ver a sua expressão como algo que lhe pertence em vez de ao seu compositor? Será que evoca sentimentos em nós, encoraja a compaixão perante os sentimentos dos outros, ou nos dá uma compreensão destes sentimentos de uma maneira mais geral?
As alternativas ou complementos à teoria expressiva da música assumem essencialmente três formas, afirmando diferentemente que os significados da música têm a ver com a natureza do som e o tempo, que é um meio de comunicação com forças superiores (talvez divinas, talvez interiores à mente), ou que é um instrumento de pensamento acerca da constituição do universo. Teorias do último género dependem amiúde de ligações entre a música e a matemática, como na noção de “música das esferas”, mantendo que a música humana é uma imagem das grandiosas proporções das órbitas planetárias, ou na aplicação de sistemas numéricos à música. Tais teorias raramente são acerca dos meios pelos quais os números, hermeticamente selados na harmonia ou ritmo, transmitem as suas associações e significados ao ouvinte.
Por outro lado, as teorias formalistas da música que a encaram como auto-suficiente receberam apoio e encorajamento nos séculos XVII, XVIII e XIX a partir de uma compreensão alargada do som e da forma musical. Na verdade, a elaboração da forma musical nas obras de Brahms, Wagner e Mahler demonstra a força destas teorias, mesmo numa época em tão profunda sintonia com a expressividade da música — o que só mostra que é possível aos músicos manter opiniões divergentes, simultaneamente, acerca da sua arte. Para Wagner, pelo menos, não era menos evidentemente poderosa a teoria da música segundo a qual esta arrasta o numinoso para a área do imediatamente perceptível.
A capacidade de a música falar em muitas vozes diferentes — as vozes manifestas da polifonia ou as vozes mais submersas de diferentes participantes (compositor, executante, carácter ou personagem, a que se pode adicionar as vozes das tradições instrumentais, formais e nacionais) — é essencial ao que a tornou um assunto tão fascinante e desconcertante de discussão filosófica.