1 de Novembro de 2016   Dicionário Escolar de Filosofia

Dicionário escolar de filosofia

Organização de Aires Almeida

G

Galileu Galilei (1564-1642)

Cientista e filósofo italiano. Foi julgado por defender o heliocentrismo sobretudo no seu Diálogo dos Grandes Sistemas (1632; trad. 1980, Gradiva), o que nessa época se opunha à doutrina oficial da igreja, ao senso comum e à autoridade de Aristóteles. Acabou por ser condenado a prisão domiciliária e morreu cego. As suas ideias acerca do método científico, assim como os resultados práticos da sua aplicação, deram origem à ciência moderna. Tais ideias conduziram também ao abandono de uma concepção da natureza herdada de Aristóteles e com mais de dois mil anos de tradição. Esta foi a razão pela qual Galileu travou uma intensa luta contra os argumentos de autoridade em que se refugiavam os académicos de então, batendo-se pela autonomia da ciência e pela investigação directa e metódica da natureza. Defendeu a aplicação da matemática na explicação dos fenómenos naturais, o que fez pela primeira vez em relação ao movimento, e que se tornou uma característica fundamental da ciência. A sua concepção mecanicista (ver mecanicismo) da natureza articulava-se com a posição epistemológica do realismo crítico e com a ideia de que as características que observamos nos objectos se dividem em qualidades primárias e qualidades secundárias. (Aires Almeida)

Geist

Termo alemão que significa “alma” ou “espírito”. Ver Hegel.

generalização

Um tipo muito comum de inferência indutiva (ver indução), que estabelece uma conclusão geral como, por exemplo, “os portugueses são machistas” a partir de casos menos gerais. Atribui-se assim a mesma propriedade, a propriedade de ser machista, a uma certa classe de indivíduos ou objectos, a classe dos portugueses. Apesar de o raciocínio indutivo não se fazer apenas por generalização, grande parte do raciocínio comum é desse tipo. (Aires Almeida)

génio maligno

Hipótese introduzida por Descartes com o fim de dramatizar os argumentos cépticos contra a ideia de que sabemos seja o que for, convidando-nos a imaginar que os nossos pensamentos e percepções estão sistematicamente a ser manipulados por uma espécie de Deus enganador. Claro que, sendo enganador, não poderia ser bom e, portanto também não poderia ser Deus, dado que a bondade é uma das características de Deus. Daí dizer que se trata de um génio maligno. O poder desse génio faria com que nos enganássemos de tal modo que tomássemos sempre como verdadeiro aquilo que não passa, afinal, de meras ilusões. Esta hipótese é rejeitada pelo próprio Descartes, concluindo que de uma coisa tal génio não o pode enganar: que existe, dado que está a ser enganado por ele. Uma versão mais actual da hipótese do génio maligno é a experiência mental do “cérebro numa cuba”, apresentada pelo filósofo americano Hilary Putnam (n. 1926). O filme The Matrix parte da mesma ideia. (Aires Almeida)

Gestalt

Termo alemão que significa “configuração”. Foi introduzido na psicologia cognitiva para designar o facto de a percepção de objectos não se dar em termos atómicos, objecto a objecto, como até então era comum supor-se, mas antes em termos de grandes configurações ou grupos de percepções. Wittgenstein foi influenciado por estas teorias, tendo defendido, na obra Investigações Filosóficas, uma teoria do significado “gestaltista”, por oposição à sua própria anterior teoria pictórica do significado, que era atomista. (Desidério Murcho)

gnosiologia

O mesmo que teoria do conhecimento, ou também epistemologia. Alguns filósofos utilizam este termo de origem latina para se referirem ao conjunto de conceitos e de problemas acerca do conhecimento. (Aires Almeida)

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Dúvidas?

gnothi se auton

Expressão grega que significa “conhece-te a ti mesmo”. Inscrita no pórtico de Delfos, na Grécia antiga, Sócrates declarou ter dedicado a sua vida ao auto-conhecimento. Deste modo, Sócrates parecia conceber a filosofia como uma actividade prática, que envolvia todo o ser humano, e não apenas os aspectos teóricos do conhecimento. Aristóteles partilhava a mesma perspectiva, mas mais por considerar que nenhuma actividade de investigação racional nos é estranha enquanto seres humanos, pois somos seres racionais. (Desidério Murcho)

Gödel, Kurt

(1906-1978) Lógico e filósofo norte-americano de origem austríaca. O que o tornou célebre foram certos resultados da lógica, nomeadamente o seu teorema da incompletude, publicado em 1931. Este teorema mostra que em certos sistemas de lógica clássica suficientemente fortes para incluírem a aritmética, haverá sempre proposições verdadeiras que não se pode provar nesse sistema que são verdadeiras. (Hoje em dia podemos construir sistemas lógicos que incluem a aritmética e que não padecem desta limitação.) Abundam as interpretações erradas do seu resultado, pensando-se muitas vezes que constitui uma demonstração dos limites da razão. Pelo contrário, Gödel encarava o seu resultado como a demonstração de que nem mesmo a racionalidade matemática se pode reduzir à mera manipulação cega de símbolos, o que por sua vez significava que a concepção empirista da racionalidade estava errada. Gödel apresentou também uma versão do argumento ontológico, baseando-se em conceitos centrais de Leibniz. (Desidério Murcho)

Goodman, Nelson (1906-1998)

Filósofo americano. Conhecido sobretudo pelo seu trabalho relativo ao problema da indução, as suas ideias abrangem também temas da metafísica e da filosofia da arte.

Relativamente ao problema da indução, Goodman apresenta em Facto, Ficção e Previsão (1954; trad. 1991, Presença) o famoso Novo Enigma da Indução que procura mostrar que este problema não depende unicamente da relação de confirmação mas também da adequação dos predicados usados para fazer induções.

Na metafísica, Goodman defendeu, em Modos de Fazer Mundos (1978; trad. 1995, Asa), uma versão extrema de idealismo, segundo a qual só há inúmeras versões diferentes de “mundos”, não existindo um mundo independente das nossas representações.

Na filosofia da arte, defendeu, em Linguagens da Arte (1976; trad. 2003, Gradiva), uma versão sofisticada da teoria institucional da arte, o valor cognitivo da arte e o artificialismo da distinção entre artes e ciências.

Partindo do positivismo lógico, aceita algumas das ideias centrais deste movimento, como o nominalismo (a crença de que não há universais, como a brancura), rejeita outras (como a suposta superioridade da ciência na tarefa de conhecer o mundo) e abraça algumas das consequências mais polémicas desse movimento (o extremo anti-realismo, que declara ser tudo uma construção linguística). (Desidério Murcho)

gosto, padrão de

Ver padrão de gosto.

gosto, teoria do

Ver teoria do gosto.

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