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Crítica
1 de Outubro de 2005   História da filosofia

O clube metafísico

Desidério Murcho
The Metaphysical Club: A Story of Ideas in America
de Louis Menand
Londres: Flamingo, 2002, 560 pp.

O Clube Metafísico foi formado nos anos setenta do século XIX por jovens americanos que vieram a exercer uma enorme influência nas ideias do seu tempo: os filósofos Charles Peirce, John Dewey e William James, e o jurista Oliver Wendell Holmes Júnior, entre outros. Estes quatro autores são os protagonistas desta complexa história das ideias científicas e filosóficas da América do século XIX, e do seu contexto histórico, político, militar e cultural. Desta história fazem parte outros autores importantes, como Louis Agassiz, Du Bois, Ralph Waldo Emerson e Chauncey Wright. O autor considera que os EUA se tornaram uma nação moderna depois da Guerra Civil, e procura mostrar a influência que os horrores da guerra exerceram nos membros do Clube Metafísico.

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James, Peirce e Dewey são conhecidos como os pais do pragmatismo, uma corrente filosófica que, em traços gerais, desconfia das grandes teorizações abstractas e privilegia o particular sobre o universal. Esta é uma ideia que hoje é novamente muito discutida, em ética, sob o nome de “particularismo moral”. Bertrand Russell declarou que jamais daria a sua vida por causa das suas crenças, pois estas podem estar erradas, e este é o espírito do pragmatismo. Contudo, certas formulações do pragmatismo soam a disparate: como se fosse a defesa de que a verdade é seja o que for que nós acreditamos que é verdade, sendo que nós acreditamos que é verdade seja o que for que funciona. Por causa de formulações infelizes deste género, Bertrand Russell referiu-se ao pragmatismo com compreensível incredulidade, e para grande irritação do impassível e comedido Dewey: se o pragmatismo fosse verdadeiro, escreveu Russell em 1909, então “os couraçados e as metralhadoras terão de ser os árbitros finais da verdade metafísica”.

Contudo, segundo Menand, o pragmatismo deve ser entendido como uma tentativa de assegurar que podemos discordar sem recorrer à força, reconhecendo para isso cada um de nós os limites das suas próprias crenças. A ideia mais cara ao jurista Holmes era a de que não são os princípios gerais que justificam as decisões dos juízes, mas antes as características particulares de cada caso. Uma das suas ocupações favoritas era pedir aos seus convidados que lhe apresentassem uma decisão jurídica qualquer, encarregando-se ele de mostrar que se poderia justificá-la apelando para princípios opostos e incompatíveis. O próprio Menand mostra que a Guerra Civil Americana, ao contrário do que se pensa geralmente, não foi uma guerra contra a escravatura e o racismo do Sul. Surpreendentemente, muitas das pessoas que eram racistas eram contra a escravatura, e muitas das que no Norte não eram racistas eram contra a guerra.

Publicado pela primeira vez em 2001, este livro ganhou o prestigiado Prémio Pulitzer e foi considerado um dos melhores livros desse ano pelo New York Times Book Review e pela revista Economist. O autor é professor de Inglês no Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova Iorque, escreve com verve na New Yorker e este é o seu primeiro livro dirigido ao grande público. Apesar de volumoso, é de leitura agradável e muito informativo. É difícil saber até que ponto seria comercialmente viável entre nós, mas trata-se de uma obra de interesse inegável.

Desidério Murcho
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ISSN 1749-8457