A filosofia da arte, ou estética, é uma das disciplinas filosóficas que tem merecido cada vez mais interesse, sobretudo em países de tradição analítica. Por isso, é hoje possível encontrar, em língua inglesa, obras de filosofia da arte escritas com grande rigor e profissionalismo. Rigor e profissionalismo que habitualmente andam associados a disciplinas mais técnicas como a lógica, a epistemologia ou a ética. Isso também começa a acontecer com as boas obras de introdução à filosofia da arte que têm surgido ultimamente. São obras em que os principais problemas, teorias e argumentos aparecem claramente formulados, discutidos e avaliados.
Este livro reúne algumas das qualidades atrás referidas, o que o torna uma das melhores obras de filosofia da arte disponíveis em língua portuguesa. Algumas dessas qualidades são indispensáveis num bom livro introdutório: uma linguagem clara, sem tecnicismos evitáveis, mas rigorosa; a preocupação de, logo no início de cada capítulo, formular correctamente o problema em discussão; a utilização de exemplos concretos de obras de arte na discussão das diferentes teorias; um curto resumo e uma pequena lista de sugestões de leitura adicional no final de cada capítulo; a avaliação crítica das diferentes teorias, não se impedindo o autor de assumir a sua própria posição, ainda que se trate de uma obra introdutória. Tudo isto conta a favor deste livro.
Mas de que problemas trata o livro? O autor começa logo por referir duas ideias diferentes acerca do modo como as teorias da arte devem ser formuladas: por um lado, as teorias que procuram responder à pergunta “O que tem valor nas obras de arte?” e, por outro, as teorias que procuram responder à pergunta “O que é a arte?”. No primeiro caso temos as teorias normativas e no segundo as teorias descritivas. No caso das teorias descritivas, distingue ainda entre as que procuram uma definição de arte em termos de condições necessárias e suficientes, a que chama “teorias filosóficas”, e as que abordam a arte enquanto fenómeno histórico e social, a que chama “sociológicas”.
A perspectiva do autor é a de que as teorias normativas evitam os problemas aparentemente insolúveis das teorias descritivas, conseguindo mesmo tornar mais inteligível a diferença entre arte e não-arte, uma vez que esta distinção “não assinala uma descoberta, mas uma recomendação”. De entre as teorias normativas discutidas, a arte como prazer, a arte como expressão e a arte como conhecimento, Graham é defensor da última, que é conhecida como cognitivismo estético. Para ele só o cognitivismo dá conta do que de mais valioso encontramos na arte. Esse é o conteúdo da primeira parte do livro.
Numa segunda parte, o autor procura ver como cada uma das teorias normativas se aplica às principais formas de arte: música, pintura e artes visuais, literatura e, finalmente, arquitectura. Daí o título do livro “Filosofia das Artes”. Procura mostrar que também aqui o cognitivismo estético leva vantagem sobre as teorias rivais.
A última parte é dedicada às teorias descritivas e ao problema da definição de arte. E esta é a parte do livro menos satisfatória, omitindo algumas das teorias e argumentos mais fortes, nomeadamente os da teoria simbólica de Goodmann e passando em claro a importante teoria da indefinibilidade da arte, de M. Weitz. Há ainda um outro aspecto que gera alguma confusão: o autor toma qualquer definição explícita como uma definição essencialista, o que o leva a dizer, incorrectamente, que todas as teorias da definição de arte são essencialistas.