Este livro apresenta-se como uma obra original, o que só é verdade em relação ao panorama editorial português. Até porque a ideia de Patricia Carrassat e Isabelle Marcadé, ambas diplomadas pela École du Louvre, é bastante simples: escrever um livro que ajude a reconhecer e compreender os movimentos na pintura, do renascimento aos anos 90 do século XX. Mas fazem-no muitíssimo bem, diga-se. Em 240 páginas é possível encontrar, com uma facilidade espantosa, mais e melhor informação do que em muitas histórias da arte bem mais pesadas. Trata-se de uma obra muito bem concebida, graficamente cuidada e que vai directa ao essencial; características que a tornam didacticamente irrepreensível.
A obra introduz cronologicamente os diversos movimentos na pintura — cada século é visualmente destacado por cores diferentes nas páginas — apresentados segundo uma estrutura fixa:
Em média são destinadas 4 páginas a cada movimento, embora alguns movimentos do século XX não cheguem sequer a ocupar uma página. É de assinalar que mais de metade da obra é destinada aos variadíssimos movimentos artísticos do século XX, a começar pelo expressionismo, passando por movimentos como arte bruta, Cobra, arte conceptual, graffiti art, transvanguarda, bad painting, etc., para terminar nas novas figurações. Ao contrário do que é costume, é bom verificar que nesta obra a pintura do século XX não termina nos anos 60 com a pop art. No final há ainda um quadro cronológico com todos os movimentos, um pequeno glossário e um índice remissivo.
Num livro assim há sempre inclusões e omissões que são, certamente, discutíveis. Por isso os leitores mais informados irão estranhar algumas ausências de peso, principalmente em relação ao século XX. As próprias autoras advertem que pintores como Velázquez, Balthus e Bacon não são incluídos porque, em sua opinião, escapam a qualquer movimento. O que acontece também com artistas como Hopper e Gerhard Richter. E nomes fundamentais do século passado, como Calder o foi para a arte cinética, também não se encontram, pois o livro trata os movimentos apenas na pintura. Só que, sobretudo no século XX, torna-se difícil compreender satisfatoriamente os movimentos artísticos separando a pintura da escultura. Tanto que, por diversas vezes, as autoras acabam por referir alguns escultores. Assim como, em rigor, não se pode afirmar que certos artistas referidos no livro, como Beuys, Mapplethorpe e Nam June Paik, são pintores. Caracterizar os movimentos apenas na pintura parece-me, pois, uma limitação evitável. Como evitável é o destaque que as autoras dão a correntes artísticas manifestamente menores, principalmente francesas, como é o caso da Cooperativa dos Malassis, da Suportes-Superfícies e da rebuscada OuPeinPo.
Resta dizer que, numa tradução em geral boa, causa alguma perplexidade encontrar erros como ready-man em vez de ready-made (p. 178), Bronks em vez de Bronx (p. 209) ou punck no lugar de punk (p. 226). Além disso, Niki de Saint-Phalle é uma escultora e não, como se lê, um escultor.
Qualquer discussão sobre arte que não tenha em conta o que de mais importante os artistas produziram é uma discussão vazia. Este livro pode contribuir de forma eficaz para evitar esse problema em relação à pintura, destinando-se a um público bastante vasto, mas principalmente a professores e alunos de estética e filosofia da arte.