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19 de Agosto de 2004   Filosofia

A lição fragmentável

Álvaro Nunes
Philosophy in Practice: An introduction to the Main Questions
de Adam Morton
Blackwell, 1995, 499 pp.

Este é um livro a vários títulos exemplar. Trata-se de uma obra escrita para ser usada na prática de ensino e resulta da experiência do autor. Só por si este já constitui um motivo suficiente para a olhar com atenção. Mas Morton pretende com ela, ao mesmo tempo, fornecer um instrumento de trabalho e exemplificar o método que, com sucesso, tem usado na sua actividade lectiva. O método que usa e exemplifica é ao mesmo tempo tão diferente daquele que frequentemente se usa nas nossas escolas e faculdades e tão ajustado ao ensino da Filosofia que, o facto de ter sido escrito a pensar no primeiro ano de ensino universitário, não impede que seja também de grande utilidade para os professores do ensino secundário.

O pressuposto básico de que este método (e o livro) parte é que “não há qualquer razão para estudar filosofia a menos que se esteja preparado para pensar por si próprio”. O método (a que Morton chama “lição fragmentável”) é apenas a aplicação deste princípio. As aulas têm o seguinte formato: o professor introduz um tema durante quinze ou vinte minutos. Em seguida os estudantes, em grupos de quatro a oito, trabalham numa tarefa para que a introdução do professor os preparou. Há depois uma breve discussão que envolve toda a classe, seguida seja por outra pequena lição ou por outra tarefa.

Os 15 capítulos do livro abordam, de forma clara e didacticamente adequada, os principais temas da filosofia (certeza e dúvida, racionalismo, racionalismo e relativismo em moral, indução e dedução, utilitarismo e ética kantiana, empirismo, objectividade, materialismo e dualismo, realismo, para referir apenas alguns) de uma perspectiva que possibilita a aplicação deste método. Cada tópico é objecto de um breve texto introdutório a que se segue em muitos casos um conjunto de tarefas. O objectivo, como já foi dito, é proporcionar os conhecimentos necessários a (e potenciar) o pensamento crítico.

Como pano de fundo desta forma de trabalhar encontra-se uma concepção de filosofia como prática inquisitiva em detrimento de saber e, concomitantemente, uma concepção do seu ensino que valoriza a análise e pensamento crítico em detrimento do método expositivo. Mais que não seja por possibilitar uma reflexão sobre os processos de ensino da filosofia, este livro merece ser olhado com atenção por todos aqueles que se preocupam com o ensino e prática da filosofia.

Álvaro Nunes

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ISSN 1749-8457