A prosa clássica foi um estilo amplamente cultivado em França, no século XVIII, mas surge noutras culturas, incluindo orientais, e não se trata de um arcaísmo: é um estilo vivo, tão importante hoje como no passado. Esta obra apresenta o estilo clássico, contrastando-o com outros, através de exemplos e explicações sobre as suas características fundamentais. É uma obra única, simultaneamente de referência e de estudo, que dá a conhecer um aspecto fundamental da vida intelectual.
Os autores começam por explicar que um estilo não é uma habilidade nem um floreado que se pode acrescentar ou não a uma prosa já escrita. Não é uma habilidade porque escrever é uma actividade intelectual, irredutível a automatismos: implica reflexão, escolha e tomadas de posição perante questões fundamentais. E não é um mero floreado porque é tão impossível escrever prosa sem estilo como é impossível imprimir palavras num jornal sem usar um dado tipo gráfico (como “Times”, “Arial”, etc.). Tal como podemos ler jornais e livros durante anos sem dar atenção aos tipos gráficos usados, também podemos ler jornais e livros durante anos sem ter consciência dos estilos de prosa usados. Mas precisamente porque o estilo de prosa está sempre presente, tenhamos ou não consciência dele, é inaceitável, apesar de comum, que um prosador não se dê conta do facto. A força deste livro é dar-nos a ver o que antes era invisível: o estilo.
O estilo clássico é adequado aos mais diversos fins: filosofia, literatura, guias de observação, manuais de software. Os guias da Audubon e as obras de Descartes, Pascal, Tucídides, Euclides e James Watson são exemplos brilhantes e diversificados do estilo clássico. O livro apresenta muitos outros exemplos.
Diferentes estilos assumem diferentes posições relativamente aos cinco elementos do estilo: verdade, apresentação, cena, elenco e pensamento e linguagem. O estilo clássico trata a verdade como intrinsecamente iluminante, algo que basta exprimir de forma directa e simples para ser apreendida e valorizada pelo leitor. Este é tratado como membro de pleno direito de uma comunidade de investigação na qual todos têm igual acesso à verdade. Este estilo pressupõe que a verdade é intrinsecamente interessante, bastando apresentá-la claramente para o seu valor ser reconhecido. Outros estilos, como o romântico, têm atitudes diferentes relativamente aos elementos do estilo — neste caso, por exemplo, a verdade é encarada como um mistério inalcançável, e o leitor é encarado como inferior ao autor, que se apresenta como alguém que teve uma visão que todavia não pode ser adequadamente transmitida. O autor romântico chama constantemente a atenção para si próprio e para a sua prosa, nomeadamente através de dispositivos metalinguísticos. Ao invés, o prosador clássico prefere manter nos bastidores o labor estilístico, apresentando-se muito simples ao leitor, em resultado de um prévio, invisível e laborioso trabalho de clarificação e simplificação. Apesar de prezar a simplicidade, o estilo clássico distingue-se do estilo simples, no qual não há qualquer subtileza nem qualquer visão de uma verdade intrinsecamente interessante e não imediata. “A verdade é pura e simples” é uma frase no estilo simples; “a verdade raramente é pura, e nunca é simples” é clássica.