Alasdair MacIntyre (1929–2025) foi um filósofo anglo-americano, e um eminente representante contemporâneo da ética aristotélica. Nasceu na Escócia, formou-se na Inglaterra e deu aulas em universidades tanto inglesas como (sobretudo) norte-americanas. Entre os seus primeiros trabalhos conta-se perspicazes discussões críticas de Marx e Freud, assim como a sua influente A Short History of Ethics. A sua obra mais discutida, contudo, tem sido After Virtue (1981), uma análise e crítica das perspectivas éticas modernas, do ponto de vista de uma ética aristotélica das virtudes.
MacIntyre começa com a surpreendente insolubilidade das discordâncias éticas modernas, que diagnostica como um resultado da ausência de uma concepção comum substancial do bem ético. Esta ausência deve-se por sua vez à rejeição moderna de uma natureza humana que forneceria sentido e propósito à vida humana. Na esteira do Iluminismo, defende MacIntyre, os seres humanos são encarados como indivíduos meramente atómicos, que usam uma razão puramente formal para procurar alcançar os seus desejos contingentes. A teoria moral moderna tenta derivar valores morais desta concepção da realidade humana. Os utilitaristas começam pelos desejos, defendendo que têm de ter resposta de modo a maximizar a felicidade (ou utilidade). Os kantianos começam pela razão, defendendo que o nosso compromisso com a racionalidade exige o reconhecimento dos direitos alheios aos mesmos bens que desejamos para nós. MacIntyre, contudo, sustenta que as noções modernas de utilidade e de direitos são ficções: não há maneira de partir de desejos individuais para concluir o interesse em fazer os outros felizes ou para concluir os direitos invioláveis de todas as pessoas. MacIntyre conclui que o liberalismo iluminista não pode construir uma ética coerente e que, portanto, as nossas únicas alternativas são a aceitação da redução nietzschiana da moralidade à vontade de poder, ou o regresso a uma ética aristotélica fundada numa concepção substancial da natureza humana.
O projecto positivo de MacIntyre é formular e defender uma ética aristotélica das virtudes (baseada em particular no pensamento de Tomás), onde as virtudes são entendidas como as qualidades morais necessárias para realizar o potencial da natureza humana. O seu objectivo não é a mera reactivação do pensamento aristotélico, mas antes uma reformulação e, em alguns casos, uma revisão desse pensamento, à luz da sua história ao longo dos últimos 2 500 anos.
MacIntyre dá especial atenção à reformulação dos conceitos de prática (acção comunitária que visa um bem intrínseco), virtude (um hábito necessário para nos entregarmos de maneira bem-sucedida a uma prática) e tradição (uma comunidade que se prolonga na história, na qual as práticas relevantes para a realização da natureza humana podem ser levadas a cabo). A sua concepção de tradição merece um destaque especial. É uma tentativa de fornecer ao aristotelismo uma orientação histórica que o próprio Aristóteles nunca contemplou; e, em contraste com Burke, faz da tradição o locus da reflexão racional sobre as práticas do passado, e da sua revisão, em vez de ser apenas um apego emocional a essas práticas. MacIntyre dedicou também uma atenção considerável ao problema de adjudicar racionalmente as pretensões de tradições rivais (especialmente em Whose Justice? Which Rationality?, 1988) e à defesa da tradição aristotélica em oposição à do Iluminismo e à do nietzschianismo (especialmente em Three Rival Versions of Moral Inquiry, 1990). Entre os seus trabalhos mais recentes conta-se Dependent National Animals (1999), Edith Stein: A Philosophical Prologue (2006) e God, Philosophy, Universities (2011).