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Crítica
29 de Dezembro de 2008   Filosofia

O que é a filosofia?

John Shand
Tradução de Vítor Guerreiro

A filosofia é uma grande aventura intelectual, ao mesmo tempo que o seu objecto de discussão é uma das coisas mais importantes que podemos fazer com as nossas vidas.

Há uma anedota recorrente entre muitos filósofos profissionais, que envolve um deles a ser encurralado durante uma festa por alguém que ao saber que se trata de um filósofo lhe pergunta: “Bom, o que é então a filosofia?” A piada reflecte na verdade o desconforto de muitos filósofos e a desconfortante consciência de não serem capazes de dar uma resposta directa e clara. Muitos filósofos recorrem ao método de responder por listas, explicando que a filosofia é acerca de “questões fundamentais” como “a verdade”, “o que se pode conhecer?”, “qual a natureza de uma boa acção?”, “qual a natureza da mente e a sua relação com o corpo?”. A outra maneira de lidar com a questão é algo evasiva e envolve afirmar o menos possível, algo como: “Bom, a melhor maneira de compreender o que é a filosofia é fazê-la”. É provável que ambas as respostas, embora tendo um fundo de verdade, deixem os interlocutores perplexos, e com razão, insatisfeitos e com vontade de se afastarem para ir buscar outra bebida — para grande alívio do filósofo.

Penso que cabe aos filósofos lidar frontalmente com esta questão. Afinal, somos pagos para isso. A minha resposta imediata, que mais tarde terá de ser ligeiramente aperfeiçoada, a esta questão é a seguinte:

A filosofia é o que acontece quando se começa a pensar pela própria cabeça.

Pode-se acrescentar um pouco mais. Assim que nos libertamos dos hábitos das crenças recebidas, as que por acaso se adquiriu mesmo acerca de questões básicas, e começamos realmente a pensar acerca daquilo em que devemos acreditar, à luz da razão (argumentos) e indícios, começámos a fazer filosofia. A “tradição” de se apoiar antes em “autoridades” e “textos sagrados” é o estado normal das coisas e não a excepção na história — para muitos é ainda a maneira natural de viver. Além disso, pensar por si próprio não é algo que se leve a cabo facilmente por mero capricho, mas antes algo que é preciso reforçar como a um músculo, através de bons hábitos mentais. A filosofia é um modo de vida, que se constrói ao longo dos anos; o pensamento filosófico é um estado de espírito que se torna parte da própria natureza de uma pessoa.

É comum encarar-se a filosofia como um luxo imprático, desnecessário. Uma futilidade, lúdica na melhor das hipóteses, que se acrescenta à vida depois de se ter tratado das coisas práticas. Mas isto é um erro.

Longe de ser desnecessária, a filosofia é inevitável a partir do momento em que as pessoas deixam de tomar por adquirido as crenças que receberam e, ao invés, começam a pensar nelas com cuidado, autonomamente. A glória da filosofia — e seguramente um dos aspectos imediatamente interessantes para os que se sentem atraídos por ela — é nada estar interdito, nem mesmo o valor da razão, ou, na verdade (embora isto possa parecer paradoxal), o próprio estatuto da filosofia. Não há restrições. Só algo como argumentação e a discussão sem limites parece constante. É uma liberdade maravilhosa. Ou somos escravos das crenças que por acaso adquirimos através das circunstâncias contingentes da maneira como fomos educados e do lugar em que o fomos, ou somos até certo ponto filósofos. A filosofia é o bastião do pensamento livre e da exploração de ideias, acima de tudo.

A filosofia por vezes trata a questão da maneira como devemos viver. Pode-se argumentar que a própria adopção de uma atitude filosófica é exactamente o modo como se deve viver — tudo o resto é submissão crédula. Claro que se trata de uma questão de grau, mas na maioria dos casos é um bilhete de ida para a liberdade de pensamento: depois de o experimentar ninguém quer regressar à escravidão novamente.

Seria errado pensar que a filosofia nos deixa constantemente num estado de dúvida vaga. Aceita-se as próprias crenças com base nos melhores argumentos. Mas deixa-se a porta entreaberta à discussão suplementar. Na verdade são os que adoptam as suas crenças como actos de vontade e fé que se apoiam em terreno instável, onde podem ser derrubados por acaso, com as consequências dolorosas da desilusão, do vazio e da perda. O resultado pode ser catastrófico porque caem, se o fazem, de uma altura tal e de um lugar onde se julgavam absolutamente seguros. Depois disso, o quê? A filosofia não sonha tão alto. Está também preparada para viver corajosamente com isso. Apesar de mudarmos de crenças à luz de novos argumentos, podemos assegurar-nos que, da última vez que defendemos uma perspectiva, fizemos o melhor para chegar realmente ao fundo da questão. A filosofia não gera a dúvida vazia nem uma certeza inalcançável.

Como modo de vida, a filosofia e o pensamento filosófico não prometem a felicidade, mas penso que realçam o que há de melhor nos seres humanos. A filosofia dá corpo àquilo que há de mais nobre na nossa espécie.

A casa que os filósofos construíram

A filosofia assemelha-se muito a uma casa que se constrói sobre estacas num rio. Nessa casa podemos fazer todo o género de coisas — construir coisas, movê-las de um lado para o outro — mas estamos sempre cientes de que a estrutura é suportada por pilares assentes em algo potencialmente e, amiúde, realmente inconstante. A filosofia desce repetidamente para ver como estão as coisas perto da base dos pilares e na verdade inspecciona os próprios pilares. As coisas podem precisar de mudança lá em baixo. Para os filósofos isto não é apenas a natureza da filosofia mas a condição intelectual genuína da humanidade. É a filosofia que presta uma atenção detalhada a essa condição e a leva a sério. Isto em vez de a ignorar ou resolvê-la de um modo sofístico.

As áreas da filosofia

O âmbito da filosofia é vasto e basicamente unificado. Contudo, para clarificar questões e desenvolver competências, divide as suas energias em áreas de especialização. Estas áreas têm duas características. Por um lado, algumas áreas têm um objecto de estudo que parece sustentar grande parte daquilo que pensamos e fazemos. Por outro, outras áreas sustentam preocupações mais particulares. As áreas alimentam-se entre si e estão inter-relacionadas. A filosofia não se constrói como outras disciplinas, verticalmente, a partir de fundamentos básicos inquestionados. Não consiste em parcelas fáceis que todos podemos pressupor, a partir das quais se faz as parcelas mais complexas. Não há, como se diz, águas pouco profundas em filosofia — quando se começa, todas as questões profundas entram de imediato em jogo.

No que diz respeito aos capítulos deste livro, pode-se dividir a filosofia em três grupos.

Grupo 1
Lógica
Epistemologia
Metafísica

Grupo 2
Ética
Filosofia da mente
Filosofia da linguagem
Filosofia da ciência

Grupo 3
Filosofia antiga
Filosofia medieval
Filosofia moderna: séculos XVII e XVIII
Filosofia política
Estética
Filosofia continental
Filosofia da religião

As áreas da filosofia

A relação entre estas subdivisões da filosofia não se caracteriza pela dificuldade mas pela generalidade, havendo um decréscimo de generalidade à medida que nos afastamos do centro. Isto não significa que os temas das áreas exteriores são menos importantes. Ao invés, o que acontece é que os temas do Grupo 1 sustentam os problemas considerados no Grupo 2 e têm consequências para as conclusões a que se chega no Grupo 2 — este grupo encontra-se em constante referência ao Grupo 1. Os temas no Grupo 3 não levantam considerações filosóficas fundamentais novas que não sejam tratadas nos grupos 1 e 2, mas, ao invés, aplicam a áreas específicas todos os problemas que se encontra nesses grupos. Eis alguns exemplos: a metafísica pode lidar com a questão de que categorias de entidades fundamentalmente existem; a estética preocupa-se em saber como existem as obras de arte; que género de entidades são? A ética examina em que consiste afirmar que devemos fazer algo, em que consiste algo ser moral ou imoral; a filosofia política estuda a forma correcta de organizar a sociedade, se é que esta deve ser organizada de todo em todo.

Os capítulos históricos aqui listados, como a filosofia antiga e a filosofia medieval lidam evidentemente com todos os problemas centrais da filosofia, tal como são tratados num determinado período ou escola de pensamento.

Os problemas da filosofia

Eis uma lista de alguns dos problemas filosóficos mais básicos e mais comummente tratados. Não se preocupe demasiado com a maneira como tais questões seriam tratadas por um filósofo — basta dar-lhes uma olhada e considerar como poderia responder-lhes, de uma maneira intuitiva e imediata — quase aposto que em breve o leitor dará por si em águas mais profundas do que espera, águas realmente filosóficas. Na verdade, não se sinta pressionado para encontrar uma resposta, mas pense em diversas maneiras possíveis de responder e que razões se tem para pensar que essas respostas são correctas. As respostas, ou apenas a maneira por que se deve começar sequer a responder-lhes, são muito menos directas do que poderíamos supor.

Qual é a natureza da filosofia?
Há problemas filosóficos?
Qual é o método correcto para resolver problemas filosóficos?
Quando temos boas inferências?
Qual é a natureza da racionalidade?
O que é a verdade?
O que é conhecer algo?
O que percepcionamos quando afirmamos percepcionar o mundo?
Podemos saber que o mundo exterior existe?
O que é a realidade?
Em que consiste algo existir?
Que géneros de coisas existem?
O que é uma causa?
Em que consiste algo ser moralmente bom?
O que é a vida boa?
Poderá justificar-se os juízos éticos?
Qual é a natureza da mente?
O que é a consciência?
O que é o eu?
O que é isso de as expressões de uma língua terem significado?
O que é compreender o significado de uma palavra?
Poderá justificar-se a indução?
O que é uma lei científica?
Qual é a melhor maneira de organizar a sociedade?
O que justifica o poder do estado?
O que são os direitos humanos?
O que é uma obra de arte?
Poderemos justificar as avaliações que fazemos das obras de arte?
O que determina o significado de uma obra de arte?
Em que consiste justificar a existência de Deus?
Qual é a natureza de Deus?
Como devemos viver?

Intemporalidade

Não é controverso afirmar que os problemas filosóficos são intemporais. Para alguns parece uma desculpa para examinar problemas que de facto podem não ter resposta alguma porque à partida há algo errado em considerá-los “problemas”. Contudo, o objecto de estudo da filosofia comporta-se seguramente como se os problemas filosóficos fossem intemporais. Determinados tópicos podem ser uma preocupação mais central em dada altura, mas isso é sobretudo função da moda. Os tópicos e questões centrais surgem repetidamente. Raramente se dá o caso de um assunto considerado pela filosofia ser inteiramente dispensado, ou desvalorizar-se a maneira como anteriormente foi tratado. Muito pelo contrário. Os filósofos dão consigo a regressar aos filósofos do passado, pelo menos para usar as suas ideias sobre determinados tópicos como ponto de partida, mas normalmente é mais do que isso. Um livro que considera a natureza da justiça irá naturalmente averiguar o que Platão tinha para dizer. Os problemas da indução e da causalidade envolvem normalmente uma discussão aprofundada de Hume. Descartes é muitas vezes o ponto de partida para se considerar a natureza da mente.

Não é de todo em todo claro que se progrida em filosofia como se faz noutras áreas. Neste sentido a filosofia é muito diferente da ciência — um químico raramente acharia interessante averiguar o que outro químico afirmou acerca de algo há cem anos.

Pode-se portanto perguntar qual é o sentido da filosofia, neste caso, dado que não resolve definitivamente os problemas. Como foi já sugerido, os problemas filosóficos surgem quando começamos a pensar profundamente acerca das nossas crenças mais fundamentais. Quando o fazemos descobrimos amiúde que nem compreendemos inteiramente o conteúdo dessas crenças, nem temos qualquer justificação clara para as defender. Para um determinado tipo de mente isto é desconcertante e os problemas não desaparecem através da aceitação de respostas palavrosas ou em resposta a um quadro mental depreciativo. Talvez não sejamos capazes de apresentar soluções finais, mas, ainda assim, podemos chegar a uma conclusão que resulte do melhor pensamento disponível sobre um dado assunto.

Concluiria que os problemas filosóficos são intemporais em virtude da sua profundidade, generalidade e, em consequência, da incerteza que rodeia os próprios métodos pelos quais podemos abordá-los da melhor maneira. O resultado é que os problemas não morrem, nem as maneiras de tentar resolvê-los ou pelo menos lidar com eles.

Uma coisa é bastante certa: a questão de os problemas filosóficos serem ou não intemporais é em si própria um problema filosófico.

Além do factual

A filosofia não se preocupa normalmente com a recolha de factos. Pode-se deixar isso para outras disciplinas, como a ciência, a história, a psicologia ou a antropologia. Há uma razão dupla para isto. Em primeiro lugar, a filosofia lida normalmente com assuntos que têm de estar pressupostos na recolha de factos — questões acerca da verdade e cognoscibilidade da realidade, por exemplo. Qualquer tentativa de resolver os problemas filosóficos por referência aos factos cairá portanto muito provavelmente em petição de princípio. Não podemos, por exemplo, referir-nos aos indícios reunidos através da percepção para resolver o problema filosófico acerca do que se pode conhecer sobre o mundo através da percepção, se é que podemos conhecer algo. Em segundo lugar, os factos são normalmente insuficientes para lidar com o problema filosófico. Isto é particularmente óbvio em ética. Argumenta-se em geral que nenhuma referência a como as pessoas são e o que realmente fazem pode responder à questão acerca do que elas devem fazer. Isto não significa que se ignora os factos, apenas que os factos são insuficientes para nos permitir chegar a conclusões acerca dos assuntos com que a filosofia lida.

Os objectos de estudo da filosofia

Esta secção oferece um esboço conciso dos objectos de estudo da filosofia discutidos neste livro. O livro não trata exaustivamente de tudo na filosofia, mas pode-se afirmar com justiça que todas as áreas centrais estão aqui representadas.

Epistemologia

Aqui o objecto de estudo é a natureza do conhecimento e, dada essa natureza, o que se pode afirmar com verdade que podemos conhecer, por contraste a ter apenas crenças e opiniões acerca disso. Será que podemos rebater as perspectivas de cépticos que afirmam que, estritamente falando, não podemos conhecer tudo aquilo que afirmamos poder conhecer, se é que podemos conhecer alguma coisa?

Metafísica

Que categorias de coisas em última análise existem, que conexões há entre elas e como nos surgem? Será que todas as coisas que nos aparecem são reais, ou será que derivam de algo mais fundamental? E o que dizer acerca da existência de coisas que não “existem” no sentido usual do termo mas às quais, não obstante, nos referimos, tais como unicórnios e números?

Lógica

Aqui trata-se da natureza e identificação das boas inferências: as circunstâncias em que se diz que uma afirmação se segue de outra. Procura-se compreender e classificar os casos em que as afirmações, se são verdadeiras, justificam em alguma medida a verdade de outras afirmações.

Ética

Aqui trata-se de valores (normativos, por contraste com questões de facto) no que respeita as acções humanas. Em que consiste considerar algo que fazemos como bom ou mau? Em que consiste afirmar que devemos fazer ou não fazer algo? Não basta discutir o que fazemos, temos de discutir o que devemos fazer e o que significa afirmar isto.

Filosofia antiga

Consiste no estudo dos filósofos do mundo grego e romano. Normalmente concentramo-nos na filosofia grega a partir de c. 624 a.C., que assinala o nascimento do pré-socrático Tales, até 322 a.C., a morte de Aristóteles. As figuras mais importantes são indubitavelmente Platão e Aristóteles. É frequente alargar-se este período para incluir o mundo romano. É impossível exagerar a importância do pensamento no mundo antigo. Aqui encontramos quase tudo, desenvolvido em graus diversos, o que caracteriza a perspectiva ocidental. Na verdade representa um ponto de viragem na história humana, onde pela primeira vez se aplica a todos os níveis na resolução dos problemas mais profundos, em vez de apelar à mera autoridade ou à longevidade de uma ideia.

Filosofia medieval

Esta área abrange, há que assinalar, o estudo de filósofos ao longo de um vasto período de cerca de mil anos, desde Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) e Guilherme de Occam (c. 1285–1349 d.C.) e se prolonga pelo menos até à renascença. O fio condutor é a ascensão e predomínio do cristianismo, que permeia a filosofia que se faz durante este período. O outro elo mais importante ao longo deste período é a interpretação e adaptação da metafísica de Aristóteles.

Filosofia moderna: os séculos XVII e XVIII

Pode parecer estranho chamar “filosofia moderna” à filosofia que se faz nos séculos XVII e XVIII. Indica o período de surpreendente fecundidade no pensamento filosófico e uma nova maneira de fazer filosofia que foi uma ruptura significativa em relação ao que ocorria antes. Além disso, muitas das maneiras pelas quais contemporaneamente se faz filosofia ainda derivam do pensamento deste período. As figuras centrais são Descartes, Espinosa, Leibniz, Locke, Berkeley e Hume.

Filosofia da mente

A que tipo de entidade nos referimos quando falamos acerca da “mente”? Como se relaciona o discurso acerca da mente com o discurso acerca daquilo a que normalmente chamamos os nossos “corpos”? Serão a mente e o corpo um só, ou será que a mente é afísica? Como pode a apercepção consciente e o entendimento pelas quais nos referimos às coisas surgir da matéria inerte? O que significa afirmar que alguém é a mesma pessoa ao longo da sua vida e em que medida é que isso justifica a afirmação?

Filosofia da linguagem

Em que consiste uma expressão, oral ou escrita, ter significado e capacidade de referir coisas? O que constitui a compreensão que uma pessoa tem de uma palavra, quando sabe como deve ser usada correctamente?

Filosofia da ciência

O que define uma lei da natureza? Como difere de outras afirmações acerca do mundo? De que maneira as teorias científicas se justificam pelos indícios, caso se justifiquem? Como podemos saber que as nossas leis da natureza descrevem características do mundo que persistirão da próxima vez que o examinarmos?

Filosofia política

Como se deve organizar a sociedade? O que justifica a existência de um estado que pode legitimamente usurpar o poder às pessoas? Como se deve controlar o estado? O que justifica a propriedade privada, se é que se justifica? Como adquirem as pessoas direitos que não podem ser violados senão em circunstâncias especiais, se é que os adquirem?

Filosofia das artes

Pode-se definir o que é uma obra de arte? O que queremos dizer quando afirmamos que uma obra tem uma certa qualidade estética, como a beleza? O que determina o significado de uma obra de arte? O que justifica as diferenças entre avaliações de obras de arte, se algo o faz?

Filosofia da religião

Até que ponto os argumentos que justificam a existência de Deus são bons? Será que precisamos de argumentos a favor da existência de Deus, ou será a fé suficiente? Qual é a natureza de Deus e como se relaciona com o género de criaturas que somos?

Filosofia continental

É controverso afirmar que o grupo de filósofos que amiúde se agrupa sob esta designação se presta a tal classificação de uma maneira coerente, e este capítulo trata sobretudo dessa questão. Negativamente, a designação pode indicar uma divergência de métodos e preocupações filosóficas entre filósofos da Europa continental e filósofos de expressão inglesa no Reino Unido, América do Norte, Nova Zelândia e Austrália. Positivamente há talvez um fio condutor que parte do filósofo Immanuel Kant (1724–1804) até ao presente, passando por pensadores como Jacques Derrida, e pode-se encarar isto como diversas maneiras de responder à perspectiva filosófica do idealismo transcendental. Os filósofos recentes encontram-se aqui marcados pelo questionamento mais fundamental da natureza e na verdade da existência da própria filosofia.

O futuro da filosofia

A filosofia continuará enquanto algumas pessoas mantiverem a perspectiva de que pensar cuidadosamente por si próprias é importante. É difícil determinar que preocupações filosóficas estarão no centro das atenções das pessoas no futuro. Mas parece que haverá sempre alguém a tentar debater-se com as questões mais profundas, indisposto a aceitar sem questionar as respostas que por acaso estejam à mão.

John Shand
Fundamentals of Philosophy, org. John Shand (Londres: Routledge, 2003).
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ISSN 1749-8457