S. Tomás de Aquino
Ver Tomás de Aquino.
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O mesmo que conhecer. Ver conhecimento, opinião.
Expressão latina que significa “mantendo a verdade”. Usa-se a expressão em filosofia da linguagem para referir os contextos linguísticos em que se pode substituir uma expressão por outra “mantendo a verdade" (os chamados contextos “extensionais”). (Desidério Murcho)
Filósofo cristão que realiza a síntese entre a filosofia antiga de inspiração platónica e o cristianismo. Nas Confissões (c. 400; trad. 2001, INCM) descreve a sua conversão à fé cristã. Quanto à relação entre razão e fé afirma na Doutrina Cristã que a reflexão filosófica parte das verdades reveladas pelas Sagradas Escrituras e deve esclarecê-las. Repudiar a razão, crer sem compreender, é rejeitar um dom de Deus. A filosofia é um meio para a plena fruição da fé. Desafio para a fé e para a razão é o problema do mal. Não podendo ser criado por Deus, Supremo Bem, o mal é uma deficiência da vontade humana que prefere bens inferiores ao Criador. Marcada pelo pecado original, a vontade só com a intervenção da Graça divina pode fazer o bem. O amor das coisas efémeras e o desprezo do que é eterno deram origem à cidade terrestre em radical oposição à Cidade de Deus (411; trad. 1991, FCG). A história é o palco da luta entre estes dois reinos. O triunfo da cidade celeste consistirá na criação de uma comunidade universal de justos e fraternos vivendo segundo a lei e o amor de Deus. (Luís Rodrigues)
Filósofo, dramaturgo, romancista e militante político francês cuja obra desenvolve essencialmente uma tese: o homem é liberdade e define-se pelo que faz. No ser humano, a existência precede a essência, afirma Sartre em O Existencialismo é um Humanismo (1946; trad. 1970, Presença). Quer dizer: não há qualquer ideia que se possa fazer sobre um homem antes de ele existir e agir porque não há qualquer modelo pré-definido, nenhum destino previamente traçado. A radical afirmação da liberdade humana exige a negação da existência de Deus (em O Ser e o Nada (1643) diz que Deus é uma paixão inútil). Não existe Deus para nos dizer o que fazer e como viver. A liberdade humana é o fundamento de todos os valores e exige do ser humano um compromisso permanente, uma renovação constante por meio de escolhas e actos, porque é o nosso modo de ser como sujeitos conscientes. O existencialismo de Sartre é um humanismo porque afirma depender do homem ser o senhor do seu destino. (Luís Rodrigues)
(n. 1932) Filósofo da linguagem e da mente. Foi aluno de J. L. Austin em Oxford, nos anos 50, sendo professor na Universidade da Carlifórnia em Berkeley até aos dias de hoje. Em filosofia da linguagem, Searle defende que as entidades básicas a analisar não são expressões linguísticas pertencentes a uma dada língua (por exemplo, frases dessa língua), mas produções ou elocuções de tais expressões (ou seja, actos de fala). Estas produções de sequências linguísticas (subentende-se, gramaticais e com sentido) são regidas por regras, sendo felizes (felicitous) ou infelizes segundo obedeçam a essas regras ou as infrinjam (uma noção que Searle herdou de Austin). A aprendizagem de uma língua pode, por sua vez, ser vista, em última análise, como a aprendizagem de tais regras, descritas pela teoria searleana dos actos de fala. Uma vez que a concepção searleana da linguagem humana está comprometida com a ideia de que falar é praticar acções, essa descrição faz parte de uma teoria mais geral acerca do modo como a mente humana opera na sua relação com o mundo — sendo a filosofia da linguagem, desta perspectiva, um ramo da filosofia da mente. Searle dedica o seu trabalho mais recente sobretudo a esta última disciplina, e em particular à defesa da tese de que os estados mentais são essencialmente intencionais, o que o opõe a perspectivas como o comportamentalismo e o funcionalismo. A sua famosa experiência mental do quarto chinês é frequentemente considerada um argumento convincente a favor da ideia de que a manipulação não consciente e, logo, não intencional de informação codificada, como a que é tipicamente executada por um computador, não corresponde a um processo mental — algo que por vezes se formula sugestivamente dizendo-se que a experiência mostra que “os computadores jamais poderão pensar”. (Pedro Santos)
Searle, John, Intencionalidade (Lisboa: Relógio D'Água, 2007).
Searle, John, Mente, Cérebro e Ciência (Lisboa: Edições 70, 2005).
Searle, John, Actos de Fala (Coimbra: Livraria Almedina, 2006).
Searle, John, A Redescoberta da Mente (Lisboa: Instituto Piaget, 1998).
1. O ramo da linguística que estuda o significado literal das expressões linguísticas e a sua relação com a realidade extralinguística. Uma teoria com grande aceitação é a de que uma das tarefas principais da semântica consiste em definir as condições de verdade das frases de uma língua natural e em explicar como essas condições de verdade resultam, por um lado, dos significados parciais das expressões que compõem essas frases e, por outro, da sua estrutura sintáctica (ver sintaxe). Outras tarefas tipicamente associadas à semântica são a de especificar as diferentes componentes do significado das expressões linguísticas (por exemplo, o seu sentido e a sua referência) e a de relacionar sistematicamente o significado das frases com o seu potencial inferencial (ou lógico). Alguns tópicos abrangidos pela semântica (por exemplo significado, verdade, referência) são comuns à filosofia da linguagem, de modo que não existe uma fronteira nítida entre as duas disciplinas. É, porém, razoável dizer que a semântica dá ênfase ao estudo empírico das línguas naturais, ao passo que a filosofia da linguagem se dedica sobretudo à análise dos conceitos necessários para esse estudo.
2. A semântica de uma linguagem formal (ver cálculo lógico) resulta da atribuição de significados aos seus símbolos básicos e fórmulas, as quais recebem um valor de verdade — ver interpretação. No cálculo de predicados, por exemplo, isto permite ver quais as derivações admitidas pela sintaxe da linguagem que são válidas. Ver também pragmática. (Pedro Santos)
Os seres sencientes têm a capacidade de sentir prazer ou dor. Assim, havendo senciência, há alguma vida mental consciente que pode ser melhor ou pior para quem a vive. As plantas não são sencientes; a grande maioria dos animais, entre os quais nos incluímos, são-no. De acordo com os defensores do utilitarismo, todos os seres sencientes — e só eles — têm estatuto moral. Não têm, no entanto, o mesmo estatuto: devemos ter uma maior consideração moral por aqueles que possuem uma vida mental mais rica e complexa. Na ética deontológica de Kant, pelo contrário, entende-se que muitos dos seres sencientes não têm estatuto moral: só devemos uma consideração moral directa aos seres dotados de uma natureza racional. (Pedro Galvão)
1. Mais vulgarmente refere a disposição para valorizar de modo especial as atitudes e as emoções. A doutrina ética do emotivismo, por exemplo, dá um relevo especial a este tipo de disposição das pessoas.
2. Em estética, sensibilidade significa o mesmo que refinamento do gosto.
3. Em epistemologia, particularmente na filosofia de Kant, a sensibilidade é a capacidade perceptiva do sujeito que, apoiada nos órgãos dos sentidos, fornece a matéria para o conhecimento. (Aires Almeida)
Ver mundo sensível.
O conjunto mais alargado de crenças que uma comunidade tem por verdadeiras e partilha durante um certo período de tempo. O senso comum é um “saber” que resulta da experiência de vida individual e colectiva. Os hábitos e costumes, as tradições e rituais, os “ditos” e provérbios, as opiniões populares, etc., são habitualmente referidos como manifestações do senso comum. A sua aprendizagem é uma condição necessária para a socialização de cada membro da comunidade, funcionando como um mecanismo regulador do seu pensamento e da sua acção. Do ponto de vista da ciência e da filosofia, os processos de justificação das crenças de senso comum afiguram-se muitíssimo superficiais e falíveis, e é frequente tais crenças resistirem mal a um exame crítico mais minucioso, pelo que a sua ampla aceitação não é uma garantia de que sejam verdadeiras. Alguns filósofos têm discutido a continuidade/descontinuidade entre o senso comum e a ciência e a filosofia, tendo particular relevância, nessa discussão, o problema da demarcação. Ver crença, verdade/falsidade, crítica, critério de demarcação. (António Paulo Costa)
Aquilo que uma pessoa associa a uma expressão quando a compreende. Frege distinguiu o sentido de uma expressão da sua referência no seu famoso artigo “Über Sinn und Bedeutung" (“Sobre o Sentido e a Referência”, 1892). Duas expressões podem referir o mesmo objecto mas ter diferentes sentidos. Por exemplo, as expressões “Estrela da Manhã” e “Estrela da Tarde” referem a mesma coisa, nomeadamente, Vénus, mas têm sentidos diferentes (têm diferentes modos de apresentação). Esta distinção está intimamente relacionada com a distinção entre conotação e denotação, e entre intensão ou compreensão e extensão. Ver filosofia da linguagem. (Célia Teixeira)
Ver sentido da vida.
Em geral, dizemos que uma certa actividade é absurda ou não tem sentido quando não tem qualquer objectivo. Por exemplo, não faz sentido passar a vida aos saltos se isso não tiver qualquer objectivo; mas faz sentido, se o objectivo for exercitar os músculos. Em geral, dizemos também que uma certa actividade não tem sentido, apesar de ter um objectivo, se esse objectivo não puder ser alcançado ou não tiver qualquer valor, mesmo que possa ser alcançado. Por exemplo, não faz sentido passar a vida a tentar chegar à Lua a saltar, porque nunca o iremos conseguir; e não faz sentido passar a vida a tentar fazer passar um elefante por debaixo da porta da cozinha, não só porque nunca o vamos conseguir, mas também porque, mesmo que o conseguíssemos, isso não teria aparentemente importância alguma.
Assim, responder ao problema do sentido da vida é responder às seguintes três perguntas: Terá a vida humana, no seu todo, um ou vários objectivos? Será esse objectivo (ou objectivos) alcançável? Terá esse objectivo (ou objectivos) algum valor? A resposta da maior parte dos filósofos consiste em dizer que o objectivo da vida humana é a felicidade; mas depois diferem no modo como entendem o que constitui a felicidade. As tradições religiosas defendem em geral que a vida só faz sentido se Deus existir; alguns filósofos aceitaram esta ideia, mas acrescentaram que a vida absurda tem de ser então abraçada precisamente porque Deus não existe (ver existencialismo). Contudo, muitos filósofos não concebem o sentido da vida como algo que dependa da existência ou não de Deus, e é costume chamar “humanista” a esta tradição. (Desidério Murcho)
Aquilo que apreendemos pelos sentidos e sem recorrer à inferência. Os dados dos sentidos são, assim, os objectos imediatos da percepção. Diz-se que os objectos são “imediatos” precisamente porque não se obtêm por inferência. Por exemplo, quando olho para o livro amarelo que está à minha frente apreendo sem recorrer à inferência uma certa cor e uma certa forma. Esta cor e esta forma não podem ser confundidas com o objecto físico — o próprio livro — que acredito estar diante de mim, pois é possível duvidar da existência do livro mas não duvidar dos dados dos sentidos. Por isso dizemos que há diferença entre aparências e realidade. Ainda que não exista qualquer livro, eu tenho consciência de alguma coisa amarela. Assim, os dados dos sentidos são as entidades, sejam elas quais forem e seja qual for a sua natureza (física ou mental), que estão directamente perante a mente. A expressão foi introduzida por Russell, mas filósofos como Locke, Berkeley e Hume utilizavam de modo semelhante as expressões “ideias dos sentidos”, “qualidades sensíveis” e “impressões dos sentidos”, respectivamente, para referir os objectos da percepção. Dependendo da teoria da percepção adoptada, as opiniões dos filósofos divergem quanto ao tipo de relação que os dados dos sentidos têm com os objectos físicos. Os filósofos empiristas dão uma importância especial aos dados dos sentidos, pois encontram neles o fundamento para o conhecimento empírico. Note-se que os dados dos sentidos não constituem, em si, conhecimento proposicional. (Aires Almeida)
O verbo “ser” é claramente ambíguo, podendo ter, entre outros, os seguintes significados: 1) atributivo, como em “O João é alto”; 2) identitativo, como em “O João é o amante secreto da Ana”; 3) constitutivo, como em “Esta mesa é de madeira”; 4) inclusivo, como em “As baleias são mamíferos”; e, mais exoticamente, 5) existencial, com em “Deus é”. Confundir estes usos pode dar origem a afirmações sem sentido ou a falácias (por exemplo, de “As baleias são mamíferos” não se pode inferir que o conjunto das baleias é idêntico ao conjunto dos mamíferos). A questão de saber o que é ser ou existir e que tipos de coisas realmente existem (será que os números, ou as proposições, ou Deus, existem?) é uma questão metafísica perene. Esta questão foi por vezes distinguida da questão de saber quais as entidades que usufruem de um modo especial de ser, caracterizado pela consciência da sua própria existência e pela liberdade de escolha (ver existencialismo). Foi também distinguida da questão de saber como caracterizar esse exemplar único de um tipo de entidade primordial, o Ser (não necessariamente identificável com Deus), fonte da existência de todos os “entes”. Este tipo de preocupação, típica de filósofos como Heidegger, foi alvo de objecções por parte, sobretudo, de filósofos da tradição analítica (ver filosofia analítica). A crítica mais comum é a de que, sendo “ser” um verbo, ele só pode ser usado como tal (por exemplo, numa das várias acepções mencionadas acima), e que o seu uso como substantivo (com ou sem maiúscula) dá origem a frases sem sentido e portanto a equívocos filosóficos. Ver também existência. (Pedro Santos)
Aquilo que é compreendido quando algo nos é comunicado através de sons ou inscrições. Por exemplo, quando ouvimos a palavra “água” processamos esse som relacionando-o com a coisa que essa palavra refere (ver referência), nomeadamente, a água. O que isto sugere é que o significado de uma expressão é de algum modo composto por dois elementos: aquilo que se passa em nós quando apreendemos a expressão e aquilo de que a expressão fala. Muito se tem discutido sobre como funcionam esses dois componentes, se é que existem. A questão de saber o que é o significado é uma das questões centrais da filosofia da linguagem. (Célia Teixeira)
Nome dado aos argumentos estudados pela lógica aristotélica compostos unicamente por duas premissas e uma conclusão. Por exemplo: “Todos os mortais são infelizes; todos os homens são mortais; logo, todos os homens são infelizes”. Por vezes, usa-se a expressão “silogismo" como sinónimo de “argumento” ou “raciocínio”. Ver lógica aristotélica. (Desidério Murcho)
Expressões usadas para abreviar certos aspectos relevantes para a determinação da forma lógica. Por exemplo, no cálculo proposicional usa-se os símbolos P, Q, R, etc., como abreviaturas de proposições e como abreviatura de “Se…, então…”. Toda a lógica formal precisa de símbolos. Isto porque a lógica formal estuda aqueles argumentos cuja validade depende inteiramente da sua forma lógica; e para exibir a forma lógica de um argumento é necessário usar símbolos. Assim, na lógica aristotélica, por exemplo, é necessário exibir a forma lógica das proposições universais afirmativas, o que se pode fazer recorrendo a letras que simbolizam classes: em “todo o A é B” A e B simbolizam qualquer classe. Assim, uma afirmação como “todos os homens são mortais" tem a forma de uma universal porque se substituirmos “homens” por A e “mortais” por B obtemos “todos os A são B”, que é apenas uma variação gramatical logicamente irrelevante de “todo o A é B”. É na lógica clássica, contudo, que a formalização é mais profunda e sistemática. Ao passo que na lógica aristotélica se formaliza geralmente apenas os nomes das classes, na lógica clássica é mais comum formalizar tudo. Contudo, é falso que exista algo de intrinsecamente formal ou simbólico na lógica clássica que não existe na lógica aristotélica, pois tanto se pode formalizar completamente a lógica aristotélica, como se pode formalizar apenas parcialmente a lógica clássica. Ver Apêndice: Símbolos lógicos. (Desidério Murcho)
Filósofo utilitarista (ver utilitarismo) nascido na Austrália que, influenciado por Hare, contribuiu decisivamente para o florescimento da ética aplicada. No âmbito da bioética, Singer discutiu muitos problemas rejeitando a perspectiva da santidade da vida humana, segundo a qual toda a vida humana, seja qual for a sua qualidade, tem um valor absoluto. Recusando o especismo (isto é, a discriminação baseada na espécie), Singer defendeu que os interesses dos animais têm de receber a mesma consideração que os interesses dos seres humanos e, com o seu livro Libertação Animal (1975; trad. 2000, Via Óptima), impulsionou o movimento de defesa dos animais. Entre as suas obras mais importantes contam-se também Ética Prática (1993; trad. 2000, Gradiva) e Um Só Mundo (2002; trad. 2003, Gradiva). (Pedro Galvão)
Termo alemão que significa “sentido” e se opõe a “referência”. Frege introduziu esta distinção para separar o que um termo refere da maneira como o termo refere: os termos “Mestre de Platão” e “O filósofo que bebeu a cicuta” referem a mesma coisa (Sócrates), mas referem essa coisa de maneiras diferentes: têm diferentes sentidos. (Desidério Murcho)
1. O sistema de regras de geração das frases gramaticais de uma língua (consideradas como manifestações gráficas ou fonéticas de estruturas de palavras). O termo designa também o ramo da linguística que estuda esses sistemas. Questões tipicamente associadas aos estudos sintácticos são as de saber que regras são infringidas pelas frases agramaticais (como “férias estive de Agosto em”) e qual a estrutura das frases gramaticais.
2. O vocabulário e as regras de formação das fórmulas de uma linguagem formal (por exemplo, a do cálculo de predicados). Num cálculo lógico, essas fórmulas são por sua vez usadas em derivações, segundo certas regras de inferência. (Pedro Santos)
Uma das figuras mais carismáticas e enigmáticas da história da filosofia. Embora nada tenha escrito, a sua influência é enorme e é responsável pela viragem da filosofia das questões da natureza para as questões humanas. Pouco mais se sabe acerca da sua vida, para além de que participou na guerra do Peloponeso e foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de corromper a juventude. Também se sabe pouco acerca do seu pensamento, embora seja a figura central de muitos diálogos de Platão, uma vez que é difícil diferenciar o Sócrates histórico da personagem platónica. Para Sócrates, a filosofia é um modo de vida e, por isso, fazia filosofia na ágora (praça pública), no ginásio ou nas ruas de Atenas, dialogando com aqueles que estivessem dispostos a investigar com ele um qualquer conceito moral. Começava por pedir ao seu interlocutor a definição de uma virtude, como a justiça, e depois, por intermédio de perguntas e respostas, levava-o a chegar a uma conclusão contraditória (ver contradição) com a definição que tinha apresentado. Com este método de refutação (elenchus) procurava mostrar àqueles que pretendiam ser sábios que as suas crenças (ver crença) eram inconsistentes (ver inconsistência) e, deste modo, levá-los a formular crenças mais adequadas. Apesar de afirmar não saber as respostas às questões que punha sobre as definições, há algumas ideias que parece ter assumido. As mais importantes são que a virtude, embora não possa ser ensinada, é conhecimento; que ninguém faz o mal (ver mal moral) voluntariamente; que não se pode fazer mal a um homem bom; que é pior fazer do que sofrer o mal; e que todas as virtudes se reduzem a uma, o conhecimento do que é e não é bom para um ser humano. Ver dialéctica, ética das virtudes, ironia, maiêutica. (Álvaro Nunes)
Kenny, Anthony, História Concisa da Filosofia Ocidental, cap. 3 (Lisboa: Temas e Debates, 1999).
Magee, Brian, Os Grandes Filósofos, cap. 1 (Lisboa: Presença, 1989).
Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton (Lisboa: INCM, 1993).
Platão, Laques, (Lisboa: Edições 70, 1989).
Platão, Hípias Maior (Lisboa: Edições. 70, 2000).
Platão, Hípias Menor (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Cármides (Coimbra: INIC, 1988).
Platão, Lísis (Coimbra: INIC, 1990).
Platão, Íon (Lisboa: Editorial Inquérito, 1988).
Uma falácia apresentada com o intuito de enganar o interlocutor. (Desidério Murcho)
Nome dado por Platão a um conjunto de professores de retórica da Grécia antiga. Platão e outros filósofos antigos acusavam os sofistas de falta de honestidade intelectual, afirmando que davam mais atenção à persuasão irracional do que à procura da verdade. Contudo, pelo menos alguns sofistas foram filósofos e cientistas destacados, assim como oradores ilustres. Antifonte (c. 480–411 a. C.), Górgias de Leontinos (c. 483–376 a. C.), Hípias (c. 485-415 a. C.) e Protágoras de Abdera (c. 490–c. 420 a. C.) foram alguns dos mais ilustres sofistas. (Desidério Murcho)
1. Em epistemologia é a perspectiva segundo a qual nada posso conhecer a não ser os meus próprios conteúdos mentais, dado que só a eles tenho acesso directo. O solipsista nega assim a possibilidade de conhecer outras coisas além de si próprio: não posso saber que ao meu lado está uma janela; tudo o que sei é que tenho na minha mente a ideia ou imagem da janela, o que é bem diferente.
2. Em ontologia, é a perspectiva relacionada com a anterior, mas mais radical, de que apenas eu e as minhas próprias experiências são reais. Os objectos físicos e as outras mentes não têm existência a não ser na minha mente. Os críticos sublinham que, na prática, ninguém se comporta como um verdadeiro solipsista. (Aires Almeida)
Termo grego que significa “pórtico” e que deu o nome ao estoicismo porque os estóicos ensinavam sob um pórtico. (Desidério Murcho)
Ver Mill, John Stuart.
Ver objectivismo/subjectivismo.
Doutrina acerca da justificação dos juízos estéticos, de acordo com a qual juízos como “x é belo” exprimem apenas os nossos sentimentos ou emoções pessoais acerca de x, independentemente de quaisquer características de x. Assim, o juízo estético, sendo subjectivo, nada mais é do que um juízo de gosto, uma vez que se limita as exprimir as nossas preferências. Kant e Hume, embora com algumas diferenças importantes, são partidários do subjectivismo estético, ao qual se opõe o objectivismo estético. (Aires Almeida)
Teoria metaética segundo a qual os factos morais são subjectivos (ver objectivo/subjectivo). Segundo o subjectivista, quem diz, por exemplo, “O aborto é errado”, está na verdade a dizer algo como “Eu reprovo o aborto”. Assim, para o subjectivista os juízos morais descrevem apenas atitudes pessoais de aprovação ou reprovação. Ver emotivismo. (Pedro Galvão)
Uma das duas grandes categorias, juntamente com o belo, da estética do séc. XVIII. A experiência do sublime dá-se, supostamente, quando presenciamos espectáculos naturais como montanhas rasgando os céus e tempestades no mar. Trata-se de algo invulgarmente grandioso e fascinante, que só se manifesta perante objectos que ultrapassam e desafiam os limites da nossa imaginação, impondo respeito e, até, intimidando-nos com a sua majestade. Nesse sentido distingue-se claramente do belo. Kant considera que o sentimento do sublime nos confronta com a nossa pequenez, obrigando-nos a elevar acima da vulgaridade. Entretanto, praticamente deixou de se dar importância à noção de sublime e quase não é referida na estética contemporânea. (Aires Almeida)
Segundo Aristóteles o que existe pode ser de dois modos: ou como substância ou como acidente. A substância é o que existe em si e não num outro ser (independência ontológica) e por isso não é dita de um sujeito mas é sujeito de outras coisas. O acidente é o que existe num outro ser, numa substância, como sua propriedade ou característica (será predicado de um sujeito). Assim, os acidentes não possuem um ser próprio (dependência ontológica). Dependem do ser da substância porque são algo que sucede ou acontece a esta. João, indivíduo concreto, não é algo que exista num outro indivíduo, tem um ser próprio, não é propriedade de outra coisa. O peso do João já é um acidente porque só existe como medida do corpo do João e não em si. A teoria aristotélica da substância é exposta em Categorias e na Metafísica, livros VII a IX. Ver também ontologia. (Luís Rodrigues)