Muitas tradições religiosas impõem restrições quer quanto ao tipo de produtos que se pode consumir, quer quanto ao modo de os preparar. Os muçulmanos não comem carne de porco, por exemplo, e alguns budistas são vegetarianos. Na filosofia da Grécia antiga, Pitágoras (580–500 a.C.) ficou famoso por insistir numa dieta vegetariana, tal como Empédocles (490–430 a.C.). Mais tarde, Plutarco (46–120 d.C.) escreveu um ensaio intitulado “Sobre Comer Carne”, onde apresenta uma defesa ética da dieta vegetariana.
Muitas pessoas conhecem a dieta vegetariana apenas como uma decisão dietética. Contudo, apesar de ser verdade que, em geral, uma dieta vegetariana variada e rica é mais saudável do que uma dieta baseada em carne e peixe, as razões mais fortes a favor do vegetarianismo são de carácter ético. E dividem-se em dois grupos: argumentos sobre o tratamento desumano dos animais e argumentos ecológicos. Os argumentos apoiam-se no sofrimento dos animais usados na indústria alimentar, na irracionalidade ecológica da dieta baseada em carne e peixe, nas distorções económicas introduzidas pela moderna indústria alimentar e na sua insustentabilidade a prazo.
Alguma da bibliografia ética fundamental sobre este tema está já publicada em Portugal, mas este livro introduz uma novidade e diferença significativa. Apresenta de forma lúcida e descontraída, sem procurar persuadir seja quem for, dados empíricos sobre a origem do que andamos a comer. Para não apresentar um conjunto seco de factos, os autores escolheram três famílias americanas, entrevistaram-nas e investigaram os seus hábitos alimentares. Cada uma das três partes do livro segue então até à origem os principais produtos alimentares consumidos pelas três famílias. A primeira é uma família que tem uma dieta americana típica, fundamentalmente baseada em carne e peixe, e sem quaisquer preocupações éticas — nem dietéticas. A segunda é uma família com alguma preocupação ética e dietética, apesar de ser omnívora (só Jim, o marido, é vegetariano). A terceira família é vegan — um tipo de vegetarianismo que não consome quaisquer produtos de origem animal (exclui portanto leite e ovos).
Apesar de se tratar de um livro particularmente voltado para o público americano, sobretudo nas duas primeiras partes, o seu interesse para qualquer pessoa é inegável. A generalidade das pessoas não consumiria carne se soubesse como essa carne é produzida — de forma desumana, acarretando imenso sofrimento para os animais, e destruindo o equilíbrio ecológico dos nossos países. O modo industrial de produzir proteína animal é pura e simplesmente irracional porque para produzir meio quilo de carne são necessários quase seis quilos de proteína vegetal que nós podemos consumir directamente. Uma fábrica normal acrescenta valor ao produto final; a indústria das carnes retira-lhe valor.
Este livro fornece as informações essenciais para que as pessoas tenham pleno conhecimento das consequências éticas, ecológicas e económicas do que escolhem jantar. Apresentando vários dados científicos actuais que destroem o mito popular (que na verdade tem origem num estudo científico dos anos 70 que entretanto se descobriu que estava errado) de que sem produtos de origem animal não é possível ter uma dieta saudável, esta é uma obra fundamental para quem não quiser sentir angústia ao jantar — nem depois.